Vinho no copo. O tamanho também conta?

Para quem não queira meter-se em complicações e não fazer má figura, basta ter um copo de tamanho médio e com bom equilíbrio entre a base, o pé e o corpo em forma de tulipa.

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Percepcionamos mesmo os vinhos de maneira diferente consoante o tipo de copo Rui Gaudêncio
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A questão da forma e do tamanho do copo é sempre um dos temas mais debatidos nas provas entre amigos. Então, o copo é que conta? Se o vinho é bom, não há-de saber sempre ao mesmo? As dúvidas parecem fazer todo o sentido, mas a verdade é que percepcionamos mesmo os vinhos de maneira diferente consoante o tipo de copo. E, por vezes, as diferenças são mesmo substanciais, daí que para tirar dúvidas nada como dois ou três exercícios simples que podem fazer luz sobre as ideias dos mais renitentes.

Pegue-se numa garrafa e, sem que o provador veja, sirva-se o vinho em três copos diferentes. Um raso e corpo uniforme, ou seja, a mesma abertura na base e no topo; outro com pé e corpo em forma de “V”, daqueles que encontramos nos restaurantes vulgares; e um terceiro com pé e taça que se alarga até à zona intermédia e vai fechando até ao topo, em forma de tulipa.

É seguro que o provador, seja ele perito ou pouco experimentado, vai tecer diferentes considerações que o levam a concluir tratar-se de três vinhos diferentes. Provavelmente o que mais apreciará é o do terceiro copo, em forma de tulipa, mas aqui a coisa já pode depender um pouco do gosto pessoal e do nível de conhecimento.

Mesmo confrontado com o resultado, pode ainda não acreditar, pensar tratar-se de brincadeira e ter sido enganado. O melhor é, então, abrir uma outra garrafa e dar-lha para que ele próprio sirva o vinho num dos copos. Depois de o provar, vá passando o vinho para o outro e prove-o também no terceiro.

Parece incrível! É a exclamação normal depois de concluir que o vinho se mostra realmente diferente à medida que vai sendo provado em cada um dos copos. E o exercício tanto pode ser feito com brancos ou com tintos, com vinhos de maior ou menor qualidade.

E porque é, então, que o tamanho e a forma do copo contam na apreciação de um vinho? A resposta junta física e biologia, já que por um lado a prova depende da zona por onde pegamos no copo e, por outro, da zona da cavidade bucal onde o provador vai ter o primeiro contacto com o vinho.

A primeira e mais básica explicação dada pelos especialistas tem a ver com a distribuição das sensações na cavidade bucal, estando a parte posterior mais sensível aos amargos, enquanto a ponta da língua detecta a doçura com mais facilidade. Por sua vez, é na zona mais intermédia e lateral da língua que estão os receptores das sensações ácidas e azedas, enquanto a parte mais interna prioriza os salgados.

Quer isto dizer que se o vinho for rojado para o fundo da boca vai destacar sempre a sua componente mais amarga, enquanto aquele que cair logo na entrada da boca vai parecer mais adocicado. Ora, é aqui que entra a componente da física, o que os especialistas explicam olhando para o copo como uma espécie de alavanca.

Significa isto que o copo sem pé, ou muito baixo, vai sempre despejar o vinho logo na ponta da língua, enquanto pela mesma razão o tamanho do pé e a zona por onde o agarramos têm influência na zona da boca para onde o vinho é projectado.

E isso depende também da largura da abertura do copo, que, no formato tulipa, varia consoante a altura em que é feito o corte. Assim, os copos mais largos projectam o vinho de forma mais alargada para a língua, enquanto os de menor abertura tendem a colocar o vinho mais no centro da cavidade bucal.

E, como é sabido, não há uma segunda oportunidade para causar uma primeira boa impressão. Daí as diferentes formas e tipos de copos consoante as diferentes castas e estilos de vinhos, mas isso já é meter o complicador, matéria mesmo para especialistas.

Para quem não queira meter-se em complicações, não fazer má figura e poder saborear o vinho, basta ter um copo de tamanho médio e com bom equilíbrio entre a base (larga), o pé e o corpo. Importante é que a quantidade não passe da zona onde a tulipa começa a fechar-se e que depois agarre sempre o copo pelo pé, sensivelmente a meio para que o vinho se distribua também na boca de forma homogénea.

É claro que há depois toda uma série de requisitos e especificações para poder potenciar todas as qualidades dos vinhos. Mas isso já serão outras conversas. E provavelmente outros vinhos.

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