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Na Geórgia, há um museu que glorifica Estaline. Thomas “desglorifica-o”
Na Geórgia, um museu de tributo a Josef Estaline "esconde deliberadamente a história negra de repressão, limpeza étnica e execuções em massa". A fotografia de Thomas Driesen retira-lhe toda a glória.
Josef Estaline nasceu em Gori, na Geórgia, em Dezembro de 1878. Nessa mesma cidade, cinco anos após a sua morte, em 1957, nasce o museu nacional que lhe faz tributo e que se mantém em funcionamento até aos dias de hoje. "O museu presta um glorioso tributo ao famigerado ex-líder soviético e esconde, deliberadamente, a história negra de repressão, limpeza étnica e execuções em massa [associada à sua liderança]", pode ler-se nas páginas do livro digital não publicado Stalin Unglorified, do fotógrafo Thomas Driesen, que resulta de duas visitas que o belga fez ao museu em 2021.
"Em Outubro de 2021, eu fiz uma viagem à Geórgia na companhia de um amigo", conta ao P3, em entrevista por e-mail. "Quase por acidente, 'tropeçámos' neste museu durante uma curta paragem e como gostamos de visitar locais fora do roteiro turístico, entrar no museu foi uma decisão simples de tomar." Thomas ficou imediatamente intrigado ao observar o estado de degradação e de descuido de algumas partes do museu. "Havia cabos pendurados, extintores posicionados em locais infelizes, manchas esquisitas", enumera. "Muito contrastante com a forma glamorosa como eles apresentam a figura histórica de Estaline."
Quanto mais Thomas olhava em seu redor, mais defeitos via e foi quando começou a fotografá-los, a centrar a sua atenção no que estava errado naquele espaço, que surgiu a ideia para a série Stalin Unglorified. "Gostei imediatamente deste nome e o projecto tornou-se muito claro na minha cabeça." Aquilo que está errado no museu vai muito para além do posicionamento dos aparelhos de ar condicionado ou de papel de parede a descolar. "Para muitas pessoas, o Estaline e a União Soviética ainda são símbolos de orgulho que representam uma era dourada. É algo que se vê ou sente com regularidade quando se viaja naquela região."
Se por um lado Thomas não ficou extremamente surpreendido com o facto de haver um museu como este na Geórgia, continua a parecer-lhe estranho que hoje, com toda a informação que está disponível, "um museu apresente uma versão tão estreita da história". Embora o projecto enfoque num ex-líder político cujo percurso está associado à morte de milhões de pessoas, o belga não deseja que seja interpretado à luz da guerra que decorre actualmente na Ucrânia.
"Quando a guerra começou, eu decidi adiar a publicação do projecto", sublinha. "Por vezes, recebia comentários negativos que me diziam que eu não entendia o contexto e que sou apenas um estranho que não sabe nada. Bem, isso é parcialmente verdade. Mas acredito que, enquanto artista, devo ter a liberdade de criar o que quiser e que uma audiência deve poder ter a liberdade de comentar. É assim que nasce o diálogo. E eu tenho o meu ponto de vista, mas estou disposto a aprender."
Stalin Unglorified não é um livro em formato físico, mas Thomas Driesen gostaria de vê-lo materializado. "Apresento o projecto desta forma para lhe dar o peso necessário, como se se tratasse de um documento histórico." O artista belga, que não raramente recorre ao humor na sua criação, fotografa exclusivamente com smartphone e foi seleccionado, em 2019, pela GUP, como um dos cem fotógrafos emergentes da Europa. "No seu último aniversário, comprou uma câmara a sério e encontra-se, presentemente, a ler o manual", pode ler-se no site do fotógrafo, que continua: "Normalmente não escreve sobre si próprio na terceira pessoa."