Netanyahu anuncia expansão ferroviária com olhos numa futura ligação à Arábia Saudita

Primeiro-ministro ignora protestos contra o seu Governo, que se mantém, e faz anúncios de investimento em infra-estruturas.

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O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, na reunião semanal do Governo, este domingo ABIR SULTAN/EPA

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ignorou as enormes manifestações da véspera – todos os sábados à noite continua a haver grandes protestos, e durante a semana há ainda alguns mais espontâneos – para anunciar um projecto de expansão de ferrovia que poderá, um dia, proporcionar uma ligação à Arábia Saudita, disse.

Na reunião semanal do Governo israelita (a semana que começa ao domingo em Israel), Netanyahu disse que o seu executivo irá levar a cabo uma expansão da ferrovia, um projecto que custará 100 mil milhões de shekels (cerca de 24,4 mil milhões de euros).

A ideia é ligar zonas periféricas à área metropolitana de Telavive e permitir que a carga chegue por comboio ao porto de Eilat, no Sul, declarou. O "Projecto Um Israel", disse o primeiro-ministro, tem como objectivo reduzir para duas horas ou menos o tempo de viagem de comboio para os centros empresariais e governamentais do país.

A ideia será, um dia mais tarde, permitir uma ligação à Arábia Saudita e à península Arábica, ainda segundo Netanyahu.

O anúncio foi feito na sequência de uma viagem de responsáveis norte-americanos à Arábia Saudita, na semana passada, para avançar com um possível início de relações formais entre o reino wahabbita e Israel.

Mas para o deputado Yuli Edelstein, que chefia a comissão de Negócios Estrangeiros e Defesa do Parlamento de Israel, não há uma perspectiva de um acordo para iniciar relações diplomáticas tão cedo. Edelstein referiu-se a vários pontos em que há impasse nas negociações levadas a cabo pelos americanos. “Penso que é demasiado cedo para dizer que há um acordo a ser preparado”, declarou à rádio do Exército.

Depois dos acordos com os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein, em 2020, especulava-se que a Arábia Saudita pudesse ser o país seguinte a iniciar relações diplomáticas com Israel.

Mas isso não aconteceu – ou porque os sauditas não tinham considerado essa hipótese ou desistiram após algumas acções do Governo de Israel contra os palestinianos, com o político extremista Itamar Ben-Gvir a visitar o Pátio das Mesquitas, e ataques da polícia na mesquita de Al-Aqsa durante o Ramadão.

Netanyahu pareceu ignorar a crise que agita o país há sete meses, afectando a sua economia e abalando a confiança dos aliados ocidentais na saúde da sua democracia.

Na véspera, o movimento de protesto contra o “golpe judicial” estima terem estado nas ruas 372 mil pessoas – 200 mil em Telavive, 172 mil no resto do país.