Exército do Níger declara apoio ao golpe militar
Militares dizem querer evitar a desestabilização do país africano e comprometem-se a proteger o Presidente deposto e a sua família.
A chefia do Exército do Níger declarou esta quinta-feira o seu apoio ao golpe militar levado a cabo, na véspera, por soldados da guarda presidencial e explicou que a sua grande prioridade, neste momento, é evitar a desestabilização do país.
Na quarta-feira, um grupo de soldados, liderado pelo coronel Amadou Abdramane, deteve o Presidente, Mohamed Bazoum, e anunciou, num discurso transmitido através da televisão nacional, a suspensão da aplicação da Constituição e de todas as instituições do Estado, o encerramento das fronteiras do país e a imposição de recolher obrigatório em todo o território.
Num comunicado, o Exército revela que decidiu “aderir” à declaração dos revoltosos – que anunciaram a intenção de “pôr termo ao regime (…) devido segue-se à continuada deterioração das condições de segurança e à má gestão económica e social” – e que agora tem como missão “preservar a integridade física” de Bazoum e da sua família.
“Uma confrontação mortífera (…) pode criar um banho de sangue e afectar a segurança da população”, alertou, segundo a Reuters.
Entretanto, centenas de apoiantes do golpe e do Exército juntaram-se esta quinta-feira em frente à Assembleia Nacional, em Niamei, capital do Níger.
Segundo a agência noticiosa, alguns entoaram cânticos contra a França – o antigo poder colonial –, cânticos a favor dos militares e até foram vistas bandeiras da Rússia entre a multidão.
Juntas militares que lideraram golpes de Estado recentes na África Ocidental e Central – este é o sétimo golpe desde 2020 naquela região do continente –, nomeadamente no Mali e na Burkina Faso, têm vindo a estreitar laços económicos e securitários com Moscovo e a afastar-se do Ocidente nos últimos anos.
Estes dois países constam, por exemplo, da lista Estados africanos a quem Vladimir Putin prometeu cereais gratuitos nesta quinta-feira.
As Forças Armadas do Níger são, no entanto, fundamentais para os países ocidentais interessados e envolvidos na luta contra o terrorismo islâmico na região do Sahel.
Independente desde 1960, o Níger faz fronteira com Nigéria, Burkina Faso, Benim, Mali, Argélia, Líbia e Chade, e ocupa uma parte estratégica do deserto do Sara, sendo um importante exportador de urânio. É, contudo, um dos países mais pobres do mundo, dependendo em grande medida de assistência financeira internacional.
Representantes políticos dos Estados Unidos, da União Europeia, da União Africana e da Nações Unidas e de vários governos condenaram o golpe e apelaram à restauração da democracia e à libertação do Presidente.
Esta quinta-feira, Bazoum publicou uma mensagem no Twitter a dar conta de que todas as “conquistas” alcançadas pela antiga colónia francesa – que o elegeu em 2021, no culminar de um longo processo de transição democrática – serão “salvaguardadas” e que todos aqueles que “amam a democracia e a liberdade” se “encarregarão disso”.
Na mesma rede social, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Hassoumi Massoudou, apelou a “todos os democratas e patriotas” do Níger para ajudarem a pôr fim a esta “perigosa aventura”.
Entre o bloqueio dos acessos ao palácio presidencial, em Niamei, por veículos de militares revoltosos, e o apoio declarado do Exército viveram-se horas de grande incerteza no país, com informações contraditórias sobre as intenções dos militares. Para além disso, ainda não há dados relativos a possíveis vítimas do golpe, nem grandes certezas sobre o paradeiro de Bazoum.