População japonesa diminui em 800 mil pessoas num só ano

Japão regista decréscimo populacional em todas as regiões do país, apesar de o número de imigrantes ter atingido um máximo histórico. Governo diz que a inversão da pirâmide demográfica é inadiável.

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O número de nascimentos ficou em 2022 abaixo dos 800 mil ISSEI KATO/Reuters
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A população japonesa está a envelhecer rapidamente e continua a diminuir a um ritmo acelerado, segundo os mais recentes dados governamentais divulgados esta quarta-feira. A 1 de Janeiro deste ano havia menos 800 mil japoneses do que no princípio de 2022, enquanto o número de estrangeiros a habitar no Japão aumentou em quase três milhões de pessoas.

Pela primeira vez desde que há registos, todas as 47 regiões administrativas do Japão registaram um decréscimo populacional. A população total do país é agora de 125,4 milhões de pessoas.

Em 2022, segundo os dados divulgados pelo Ministério dos Assuntos Internos e Comunicações, morreram 1,56 milhões de japoneses e nasceram 771 mil. Esta foi também a primeira vez que o número anual de nascimentos ficou abaixo de 800 mil, agravando o problema histórico do envelhecimento acelerado da população nipónica.

A quebra no número de nascimentos já era esperada e levou o primeiro-ministro, Fumio Kishida, a declarar em Janeiro que o país enfrentava um momento decisivo na sua História. “O Japão está à beira de não poder continuar a funcionar como uma sociedade. Focar as atenções em políticas para as crianças e para a educação das crianças é um assunto inadiável”, defendeu então.

O Governo japonês tem orçamentados mais de 3,5 biliões de ienes (sensivelmente 22 mil milhões de euros) para políticas de natalidade e apoio à infância. Em Abril foi lançada uma nova agência estatal especificamente vocacionada para inverter a actual pirâmide demográfica, que desequilibra as contas públicas devido aos gastos sociais elevados com os reformados e a população mais envelhecida.

“Para garantir uma força laboral estável, o Governo vai promover reformas no mercado de trabalho para maximizar o emprego de mulheres, dos idosos e outros”, disse um alto responsável governamental, Hirokazu Matsuno, citado pela Reuters. “A população jovem vai começar a diminuir drasticamente nos anos 2030. Até lá é a nossa última hipótese de reverter esta tendência de fraca natalidade”, disse Kishida em Junho.

Os especialistas japoneses em demografia consideram que os subsídios de incentivo à parentalidade não são suficientes para casais jovens que enfrentam outras dificuldades, como a conciliação entre a vida familiar e a laboral ou o custo de vida. Um dos problemas de que se queixam muitos trabalhadores japoneses em idade fértil é de que simplesmente não têm tempo ou estão muito cansados para ter relações sexuais.

O envelhecimento da população, conta o The Guardian, está a ter repercussão em vários sectores da sociedade japonesa: escolas que fecham, negócios detidos por pessoas com mais de 70 anos que não têm quem lhes suceda, anúncios televisivos a casas funerárias e produtos para a terceira idade.

Com uma taxa de fertilidade de 1,25, muito abaixo dos 2,1 considerados necessários para manter uma população estável, o Japão vai depender cada vez mais de trabalhadores estrangeiros para manter uma economia funcional. A Reuters noticia que um grupo de instituições de Tóquio calculou serem necessários cerca de quatro vezes mais imigrantes até 2040 do que os que actualmente residem no país.

A pensar nisso, o Governo decidiu em Abril simplificar o processo de atribuição de vistos para trabalhadores qualificados, como engenheiros, investigadores científicos, gestores e empreendedores.

A maior comunidade imigrante no Japão é a vietnamita, composta por mais de 400 mil pessoas, que vivem e trabalham sobretudo na região de Nagasáqui. Mas é a capital, Tóquio, que tem mais estrangeiros residentes – 581 mil.

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