Nos últimos anos, a procura pela criopreservação (ou congelamento) dos óvulos tem crescido. As razões podem ser várias, a começar pelo projecto de adiar a maternidade e, desta forma, preservar a fertilidade dos óvulos, mas também pessoas cujas doenças, como o cancro, possam comprometer as suas funções ovárica e/ou uterina. De acordo com os dados do Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida (CNPMA), em 2016, o número de bebés originados em tratamentos com Procriação Medicamente Assistida (PMA) representou cerca de 3% do total de crianças nascidas em Portugal.
Foi há 45 anos, em 25 de Junho de 1978, que nasceu a britânica Louise Brown, a primeira "bebé proveta" da história. Após nove anos de tentativas para engravidar, Lesley e John Brown aceitaram uma nova técnica proposta pelo ginecologista Patrick Steptoe e pelo profissional de reprodução Robert Edwards, a fertilização in vitro (FIV) — a dupla foi premiada com o Nobel de Medicina em 2010 pelo tratamento.
Por cá, o primeiro ciclo terapêutico de FIV foi realizado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, por uma equipa dirigida pelo médico António Pereira Coelho, em Julho de 1985 — a criança nasceria em Fevereiro de 1986. Mas antes disso, em Maio de 1985, foi realizada a primeira inseminação artificial intra-uterina — "a menos complexa dessas técnicas", diz o site do CNPMA — na Faculdade de Medicina do Porto, pela equipa do professor Alberto Barros. Seguiu-se a Transferência Intratubária de Gâmetas (GIFT na sigla inglesa), em 1986, nos Hospitais da Universidade de Coimbra, pela equipa dirigida pelo professor Agostinho Almeida Santos; de técnicas sucedâneas como a criopreservação de embriões, em 1990, na Maternidade Dr. Alfredo da Costa, em Lisboa, pela equipa do médico Elmano Barroco; e, quatro anos depois, a Microinjecção Intracitoplasmática de Espermatozóides (ICSI, na sigla inglesa), no Porto, pela equipa de Alberto Barros, enumera o conselho nacional.
A preservação do potencial reprodutivo é o processo de conservação de gâmetas (ovócitos ou espermatozóides) ou tecidos reprodutivos (ovocitário ou testicular), para que possam usá-los no futuro. O médico Miguel Raimundo, ginecologista obstetra especializado em fertilidade feminina e fertilidade masculina, explica o que implica um desses processos, o de congelamento dos óvulos.
Qual a idade ideal para congelar óvulos?
As taxas de gravidez de óvulos em congelamento vão depender sobretudo da idade da mulher cujos óvulos foram congelados e não da idade em que os mesmos poderão ser implantados. Contudo, a possibilidade de uma gravidez futura em mulheres com idade superior a 38 anos, no momento do congelamento, é menor do que a examinada em mulheres mais jovens. Miguel Raimundo recomenda que, “quanto mais cedo, melhor”. E explica que “doenças como endometriose, o historial familiar de menopausa precoce, a reserva ovárica, ou até mesmo uma questão de genética, não devem ser descartadas quando se pensa no processo de congelamento”.
Como são extraídos os óvulos?
Primeiro, é feita a avaliação clínica da mulher. O segundo passo é um processo que se inicia com uma estimulação feita nos ovários com a ajuda de hormonas. Terceiro, o clínico irá prever quando ocorrerá a ovulação e marcar a data para retirar os óvulos. Por fim, os óvulos são retirados. O ginecologista obstetra explica que o processo é feito com anestesia por via vaginal. “Os folículos são aspirados, o líquido é analisado, retiramos o óvulo e congelamos.” Antes do processo de congelamento, os óvulos, são misturados com soluções ‘anticongelantes’ especiais. Em seguida são arrefecidos muito lentamente ou armazenados muito rapidamente em azoto líquido, explica o site Fertility. Os óvulos são congelados a -196ºC. “Imagine que os quer usar daqui a cinco anos, os mesmos são descongelados e pode recorrer à FIV”, exemplifica o médico.
Há riscos de saúde associados ao processo?
A mulher pode apresentar alguns efeitos colaterais, como mudanças de humor, ondas de calor ou dores de cabeça. Além disso, pode ocorrer a síndrome da hiperestimulação ovariana, que pode originar dor ou inchaço abdominal e náuseas.
O que prediz que estes óvulos resultem num bebé?
A oportunidade de gravidez com óvulos congelados até a mulher ter 30 anos tem uma taxa de sucesso de 60%. Com 38 anos ou mais, a taxa desce para 55%. Miguel Raimundo salvaguarda: “Ao estarmos a fazer um ciclo, não quer dizer que haja sucesso. Depende da idade, das reservas ováricas ou de alguma doença que a mulher tenha.
Onde fazer este procedimento?
Existem centros de tratamento por todo o país. "Os centros podem ser públicos ou privados e devem ser expressamente autorizados para o efeito pelo membro do Governo responsável pela área da saúde, depois de ouvido o CNPMA", diz o site do Conselho Nacional, onde pode encontrar os centros autorizados.
Aquilo que cada um procura num centro varia de pessoa para pessoa, por isso, pesquise e faça todas as perguntas antes de decidir. Antes de mais, deve ter em conta o ambiente, assim como os profissionais. "O tratamento é muito exigente a nível pessoal, e por isso o seu centro de tratamento tem de ser um local onde se sinta confortável", recomenda o site Fertility, da farmacêutica Merck, referindo que muitos centros oferecem opções de tratamento adicionais como tecnologias da fertilidade ou o seu próprio banco de dadores de espermatozóides ou óvulos. É importante que este seja perto da sua zona de residência, já que há tratamentos que exigem muitas consultas. Quando estiver a decidir, pode também perguntar qual a taxa de sucesso — “os centros podem dizer-lhe, por exemplo, quantos tratamentos já realizaram, a sua taxa de gravidez clínica e a taxa de natalidade anual”, refere o mesmo site.
Se optar pelo sistema privado, o valor deste procedimento depende de clínica para clínica e de mulher para mulher. Miguel Raimundo diz que os processos rondam os 2500 euros, contudo, se for feito por uma mulher que tenha 38 ou mais anos pode ir até aos 3000 euros, já que o processo pode demorar mais tempo, diz.
Texto editado por Bárbara Wong