Exposição
Assim era o dia-a-dia das famílias ciganas perseguidas durante o Estado Novo
O quotidiano da comunidade cigana em Portugal durante a década de 1970 poderá ser revisitado na biblioteca de Vila Verde, a partir de 5 de Setembro. Pela lente de José Firmino, 48 fotografias ilustram a perseguição do Estado Novo a uma minoria obrigada a deambular entre cidades.
José Firmino fotografou o dia-a-dia da comunidade de etnia cigana durante o Estado Novo, período no qual as famílias eram perseguidas e forçadas a deambular de cidade em cidade, trocando de local em menos de uma semana. As fotografias registadas sobretudo no Alentejo interior e na Póvoa de Varzim, na década de 1970, serviram de mote para a Comissão Promotora de Homenagem aos Democratas de Braga lembrar a história de Portugal no século passado, nomeadamente durante os 48 anos de ditadura. Assim, 48 imagens vão ser expostas a partir de 5 de Setembro, na Biblioteca Municipal de Vila Verde (Braga).
Na década de 1990, “violentos confrontos” entre os habitantes locais das freguesias de Oleiros, Cabanelas e Cervães e a comunidade cigana atraíram as atenções "da imprensa e dos telejornais" e evidenciaram a necessidade de planear a integração dos portugueses ciganos na sociedade, descreveu Paulo Sousa, outrora jornalista. O coordenador da comissão promotora da exposição E a Liberdade aqui tão perto explicou que a mostra se quer itinerante por outros concelhos para lembrar que a perseguição e a discriminação da comunidade cigana não terminou depois do 25 de Abril de 1974.
“Vila Verde ultrapassou este drama graças à inserção das famílias de etnia cigana no sistema de educação e saúde. O começo da exposição neste concelho aponta para o princípio do projecto: a cadeia permanente para as comunidades perseguidas durante o Estado Novo. Esta exposição lembra-nos da condição de um povo que foi sempre maltratado, ausente de qualquer direito”, disse.
Para o coordenador dos democratas de Braga, o trabalho do fotógrafo bracarense que há mais de 50 anos se dedica, por paixão, a captar o quotidiano das diferentes regiões em Portugal, espelha a “humildade” necessária para “trabalhar permanentemente” pela integração da comunidade cigana em Portugal. Dessa coexistência, acrescentou, podem resultar fusões “interessantes” entre as culturas e os contextos, como na cidade de Braga, que regista “170 nacionalidades para quase 200 mil habitantes”.
Ainda assim, quase meio século depois de algumas das fotografias em exposição, “a sobrevivência económica, social e cultural” da comunidade cigana continua por assegurar. “Devemos consciencializar as pessoas para este debate. Se o fizermos, com esta atitude de firmeza, defendendo os valores democráticos, naturalmente seremos capazes de evoluir”, explicou Paulo Sousa.
Depois desta exposição, a Comissão Promotora de Homenagem aos Democratas de Braga, que tem actividades planeadas até Maio de 2024, pretende retratar, também através de fotografias, a perseguição das pessoas LGBTI+ durante o Estado Novo.
Em Junho, o PÚBLICO deu a conhecer várias histórias sobre os ciganos portugueses, numa série que começa há cinco séculos, na Índia.