Paradeiro de soldado americano que entrou na Coreia do Norte continua desconhecido

Travis King terá fugido do aeroporto de Seul quando estava prestes a embarcar para os Estados Unidos. Ainda não é certo o que lhe aconteceu ou vai acontecer.

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Estrada que conduz à zona desmilitarizada entre as duas Coreias JEON HEON-KYUN/EPA
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O soldado americano que na terça-feira cruzou a fronteira da Coreia do Sul para a Coreia do Norte fê-lo por sua própria vontade, segundo o vice-ministro da Defesa sul-coreano. “Não podemos senão concluir que atravessou a fronteira de livre arbítrio”, disse esta quarta Shin Beom-chul.

O governante, citado pela agência de notícias Yonhap, escusou-se a adiantar mais pormenores enquanto decorrerem as manobras diplomáticas para resolver a situação. “Eu sei que os Estados Unidos estão a desenvolver esforços para solucionar este incidente imprevisto”, acrescentou. Entre estes esforços estará uma tentativa de chegar à fala com alguém do lado norte-coreano – uma missão que para os Estados Unidos não é fácil, uma vez que os dois países não têm relações diplomáticas formais, o que implica que os contactos tenham de passar sempre pelo telefone de outros: a embaixada sueca em Pyongyang, o comando da ONU na região ou as Forças Armadas sul-coreanas, que são quem tem linhas directas para a Coreia do Norte.

O Exército norte-americano confirmou que o soldado que cruzou a fronteira é Travis King, de 23 anos. Em Outubro do ano passado, enquanto prestava serviço numa base americana em território sul-coreano, King foi detido por pontapear um carro da polícia e insultar agentes. Um tribunal condenou-o em Fevereiro ao pagamento de uma multa a rondar os quatro mil dólares (cerca de 3500 euros), mas o soldado também passou dois meses detido, embora não se saiba se foi devido à mesma situação.

Segundo fontes militares norte-americanas disseram à Reuters, King devia ter regressado aos Estados Unidos e foi levado ao aeroporto. Quando já tinha passado os controlos de segurança, fugiu. No dia seguinte estava a participar numa visita guiada à zona desmilitarizada entre as duas fronteiras, durante a qual atravessou para o Norte. Embora as fontes da Reuters achem provável que Travis King tenha decidido ir na visita já no aeroporto, porque há lá agentes a promovê-las, um antigo guia de excursões à zona desmilitarizada disse à BBC que entre reservar a visita e fazê-la passam habitualmente três dias, porque é preciso cumprir alguns procedimentos burocráticos e de segurança antes de obter a autorização necessária.

King cruzou a fronteira “deliberadamente e sem autorização”, disse o secretário americano da Defesa, Lloyd Austin, acrescentando que a administração Biden está convencida de “ele está sob custódia” norte-coreana. “Estamos a monitorizar de perto e a investigar a situação e a trabalhar para notificar os familiares próximos do soldado”, disse Austin.

“Pyongyang pode usá-lo como um instrumento de propaganda para criticar as Forças Armadas dos Estados Unidos”, analisa James Fretwell, do site NK News, à BBC. Mas “os norte-coreanos podem também estar a coçar a cabeça a pensar como reagir à situação, uma vez que devem ter ficado tão surpreendidos como toda a gente ao verem um americano cruzar a fronteira”, acrescenta.

A travessia de King dá-se num momento particularmente delicado na relação entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos, que enviaram para a Coreia do Sul o seu submarino USS Kentucky, capaz de transportar mísseis nucleares. A embarcação chegou precisamente na terça-feira à base naval de Busan, no Sudeste do país, e recebeu a visita do Presidente sul-coreano já esta quarta. “Os dois países vão responder de forma esmagadora e resoluta às ameaças nucleares e de mísseis da Coreia do Norte”, garantiu Yoon seok-Yeol.

Logo após a chegada do submarino às aguas sul-coreanas, a Coreia do Norte disparou dois mísseis balísticos de curto alcance para o mar do Japão. Na semana passada, o regime anunciou que tinha testado com sucesso o lançamento de um míssil intercontinental com combustível sólido.

“Não creio que a Coreia do Norte veja este incidente como uma oportunidade para negociar com os Estados Unidos. A Coreia do Norte sabe que é muito improvável que o Governo americano altere a sua política por causa de um soldado que, alegadamente, enfrenta um processo disciplinar e que cruzou a fronteira de livre vontade”, disse à Reuters a analista do Stimson Center, Rachel Minyoung.

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