O mundo está cheio de elementos invisíveis
Há átomos por todo o lado: no ar que se respira, na água que se bebe, em nós e nos outros seres vivos. A arte e a ciência unem-se aqui para nos mostrar o que não se vê.
O livro começa por convidar o leitor a observar o que o rodeia: “Em tua casa, olha à tua volta. Tudo é feito de algo.” Na imagem, vê-se as várias assoalhadas do interior de uma moradia, ao mesmo tempo que se identificam alguns materiais: “papel” (livro que a menina lê), “lã” (no tapete do quarto), “vidro” (na janela da sala e no espelho da casa de banho), “metal” (na televisão), “madeira” (no móvel da sala), “plástico” (no tradicional patinho amarelo para brincar no banho) e outros que há muito habitam connosco.
Na base da página vem a explicação: “Algo leve ou algo pesado, algo resistente ou flexível, algo suave ou algo áspero… cada um destes ‘algos’ é perfeito para tarefas diferentes.” E assim ficam apresentados os “materiais”.
Segue-se a descoberta sobre as diferenças entre os materiais e a indicação do caminho para a fazer. “Para descobrires, tens de estudá-los mesmo muito de perto — na verdade, tens de olhar para dentro deles.”
Aqui, a ilustradora Melissa Castrillón desenha um microscópio gigante, em contraste com a busca dos infinitamente… pequenos átomos. Que estão em todo o lado.
“É uma ideia algo abstracta para se compreender, mas é demasiado importante para se ignorar”, começa por dizer a cientista Jess Wade, do Imperial College London. Para depois completar: “O ar que respiras? Átomos. E todos os seres vivos, incluindo tu — átomos, átomos, átomos.”
Através de exemplos associados ao quotidiano da criança, a autora consegue motivá-la para a aprendizagem da ciência, no caso Química. É assim que lhe fala do carbono e da grafite. “Provavelmente tens alguma grafite na tua mochila — é usada para fazer a mina dos teus lápis.”
Um elefante a passear numa corda de grafeno
Daí partirá para a descoberta do grafeno, o material mais resistente que se conhece. “Se fizesses uma corda bamba de grafeno, um elefante poderia caminhar sobre ela sem que se partisse.”
É então que se chega ao conceito de “nanomaterial”, com “apenas um átomo de espessura”. No final, dá-se conta de que alguns nanomateriais já são utilizados nos aviões, tornando-os mais resistentes, “em janelas que se lavam sozinhas, em telemóveis mais finos e leves, com cores mais brilhantes”.
A aplicação em cuidados médicos não foi esquecida, revelando a pesquisa em medicamentos que podem ser guiados através do corpo dos doentes, “para que cheguem exactamente ao sítio certo”.
Também têm lugar as experiências com “as superpeneiras” para tirar o sal da água do mar e assim “ajudar milhões de pessoas com necessidade de acesso a água potável”.
Alertando para que são precisos muitos anos de testes para garantir que os materiais são seguros de usar, “ou seja, que não nos vão magoar nem ao planeta que amamos”, exemplifica com o caso de “implantar um nanochip na cabeça de alguém que seja cego e conectá-lo a um par especial de óculos com câmara”.
Os conceitos e explicações são acompanhados e ampliados pela criatividade e colorido de Melissa Castrillón, ilustradora inglesa e colombiana premiada em 2019 com a medalha de ouro da Society of Illustrators em Nova Iorque.
Por último, a cientista e activista pela igualdade Jess Wade, de apenas 34 anos e que cria novos materiais para usar em aparelhos electrónicos, lembra que a “nanociência é um trabalho em constante evolução”.
Sabendo que há ainda muitas perguntas por responder e problemas por resolver, incita o leitor a fazer parte da comunidade científica. “Quem sabe se a pessoa com a solução perfeita não poderás ser tu.”
Um livro recomendado pela Sociedade Portuguesa de Química. Não admira.