Em ano de reconciliações no Médio Oriente, chegou a vez da Turquia e do Egipto

Laços entre Ancara e Cairo estavam cortados desde que o marechal Sissi tomou o poder num sangrento golpe contra o primeiro Presidente egípcio democraticamente eleito, da Irmandade Muçulmana.

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Erdogan começou a restabelecer laços com os países árabes a caminho das eleições presidenciais de Maio, quando foi reeleito Reuters/MURAD SEZER
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Dez anos depois do corte de relações e seis meses após o aperto de mão entre Recep Tayyip Erdogan e Abdel Fattah al-Sissi, em Doha, no Qatar, durante o Mundial de Futebol, a Turquia e o Egipto nomearam esta terça-feira embaixadores para os respectivos países, restabelecendo as relações ao mais alto nível diplomático. “Este passo visa a normalização de relações entre os dois países e reflecte a vontade mútua de melhorar os laços bilaterais no interesse dos turcos e dos egípcios”, lê-se no comunicado conjunto das duas potências regionais.

A reaproximação, esperada, esteva a ser negociada desde 2021, quando uma delegação turca esteve pela primeira vez no Egipto, o que só foi possível com o fim do bloqueio árabe ao Qatar, aliado da Turquia, e que opunha este país à Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egipto. O processo passou, já este ano, por um encontro entre os dois ministros dos Negócios Estrangeiros. E em Fevereiro, na sequência do sismo devastador que afectou o Sul da Turquia e o Norte da Síria, os dois líderes falaram mesmo ao telefone.

Em Maio, depois da notícia da normalização entre a Arábia Saudita e o Irão, e quando a Liga Árabe se preparava para selar o fim do isolamento do ditador sírio, Bashar al-Assad, já se falava de uma visita de Sissi a Ancara.

Apesar de os sinais terem começado há dois anos, no contexto da nova postura do Presidente turco, que tem vindo a restabelecer laços com todos os países árabes com que entrara em disputas nos anos anteriores (em parte por necessidade de apoios e investimentos, enquanto tentava fazer-se reeleger, o que fez em Maio), a verdade é que praticamente não houve diálogo político entre os dois países desde 2013. Nessa altura, Erdogan afirmou que nunca falaria com “um qualquer” como Sissi, recorda a AFP.

O apoio de Ancara aos islamistas da Irmandade Muçulmana e as relações entre o movimento e o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), de Erdogan, complicariam sempre as relações entre o Presidente turco e Sissi, o militar que deixou cair o ditador Hosni Mubarak, na revolução de Janeiro de 2011, antes de tomar ele próprio o poder.

Mas o que fez Erdogan virar em definitivo as costas a Sissi foi o golpe militar que este liderou em Julho de 2013, derrubando Mohammed Morsi, o primeiro Presidente democraticamente eleito no Egipto, da Irmandade. Um mês depois, Sissi ordenava a desmobilização violenta de milhares de apoiantes do líder deposto, numa tarde em que pelo menos 817 pessoas morreram na Praça de Rabaa al-Adawiya. A organização não-governamental Human Rights Watch denunciou um “dos maiores massacres de manifestantes num único dia da história recente”.

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