Federação Nacional dos Médicos admite greve durante Jornada da Juventude

“Os médicos e as médicas não são como bolachas numa fábrica”, avisa líder sindical.

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Matilde Fieschi

A Federação Nacional dos Médicos (Fnam) vai manter a greve agendada para 5 e 6 de Julho e não exclui outra em Agosto, anunciou este sábado a presidente desta organização, acusando o Ministério da Saúde de estar a "tratar os médicos como bolachas".

"O Governo tem tratado os médicos do Serviço Nacional de Saúde, e sobretudo a saúde em Portugal, com enorme falta de respeito (...). Temos greve marcada para a semana e não excluímos a hipótese de fazer na primeira semana de Agosto", disse a principal dirigente da Fnam, Joana Bordalo e Sá.

Em conferência de imprensa no Porto, após um conselho nacional que durou mais de cinco horas, esta federação acusou o Ministério da Saúde de estar a tratar "os médicos como bolachas".

"A valorização do trabalho médico tem de ser baseado no salário-base e não em critérios de produtividade. Os médicos e as médicas não são como bolachas numa fábrica", disse a presidente, para quem as condições de trabalho dos médicos "deterioraram-se ainda mais" face ao período pré-pandemia.

Para a Fnam é "inadmissível" que, "após 14 meses", o Governo tenha apresentado uma proposta de melhoria das condições salariais que "mais parece um rascunho". Esta organização também não admite que os médicos internos, que representam cerca de um terço do Serviço Nacional de Saúde, "sejam deixados para trás", reivindicando a sua integração no primeiro grau na carreira médica.

"Apenas está prevista uma valorização salarial se os médicos produzirem mais, mas os médicos não funcionam como numa fábrica. Trabalham num centro de saúde ou num hospital a ver doentes, a atender e a ajudar utentes. Não é possível usar métodos de produção nesta área", lamenta a sindicalista.

Recorde-se que é precisamente na primeira semana de Agosto que vai decorrer em Lisboa a Jornada Mundial da Juventude, evento para o qual serão mobilizados meios de socorro extraordinários e que implicará o funcionamento de centros de saúde em horário alargado. Também está prevista a montagem de dispositivos de apoio médico específicos e extraordinários nos locais dos eventos principais, com capacidades desde a emergência médica à saúde pública, prevendo-se valências pré, inter e intra-hospitalares.

O Centro Hospitalar de Lisboa Central já avisou os médicos de que as férias marcadas para a primeira semana de Agosto, data em que se realiza em Loures a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), não podem ser consideradas garantidas. De acordo com uma circular interna enviada pela direcção do centro hospitalar, as férias já marcadas para este período encontram-se “condicionalmente” aprovadas e só serão confirmadas com 15 dias de antecedência.

Mesmo assim, Joana Bordalo e Sá entende que, a ir por diante, a paralisação não terá impacto no evento que trará o Papa Francisco a Portugal - quer por estarem garantidos os serviços mínimos, quer porque "os médicos serão mobilizados para a Jornada com base no voluntariado".

Com novas reuniões marcadas com o ministro da Saúde para 7 e 11 de Julho, a líder da Fnam ainda tem esperança numa aproximação de posições entre os médicos e a tutela que permita cancelar o protesto de Agosto. Além de uma valorização salarial que abranja todos os médicos sem excepção, é reivindicada uma melhoria das condições de trabalho ao nível de horários, períodos de descanso e número de consultas.

​O Sindicato Independente dos Médicos também já anunciou uma paralisação nacional para 25, 26 e 27 de Julho, bem como uma greve às horas extraordinárias nos centros de saúde e hospitais entre 24 de Julho e 22 de Agosto.

No início de Março, os médicos realizaram uma greve de dois dias convocada pelos sindicatos que fazem parte da Fnam para exigir a valorização da carreira e das tabelas salariais.

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