Mais de 1300 detidos na quarta noite de protestos em França. Macron cancela viagem à Alemanha
Esta é a quarta noite consecutiva com confrontos e violência nas ruas das cidades francesas, depois da morte de um jovem de 17 anos pela polícia num subúrbio de Paris.
O Governo francês pôs 45 mil polícias nas ruas para travar os protestos e a violência, pela quarta noite consecutiva, mas o forte dispositivo de segurança não conseguiu evitar novos confrontos. A madrugada de sábado voltou a ser tensa e violenta em cidades como Marselha e Lyon, mas no geral foi um pouco mais calma do que a anterior, sobretudo na região de Paris. Mais de 1300 pessoas foram detidas, indicou o Ministério do Interior gaulês, citado pelo Le Monde.
A quarta noite consecutiva de violência obrigou o presidente francês Emmanuel Macron a adiar a visita à Alemanha, que deveria começar este domingo.
Segundo o ministério do Interior, os tumultos desencadeados terça-feira após a morte de um jovem de 17 anos que não respeitou uma “operação stop”, abatido a tiro pela polícia, tiveram menos intensidade do que nos dias e noites anteriores.
A polícia francesa efectuou 1311 detenções em toda a França, "79 polícias e gendarmes ficaram feridos", cerca de 1350 veículos foram incendiados, 234 edifícios foram queimados ou danificados e cerca de 2560 incêndios foram registados na via pública.
Marselha, a segunda maior cidade de França, teve uma noite agitada, o que levou o Ministro do Interior francês, Gérard Darmanin, a enviar reforços para a cidade. A polícia já tinha feito 88 detenções por volta das 2h00 (1h00 em Lisboa) desde o início da noite, com grupos de jovens muitas vezes mascarados e "muito móveis".
Durante uma visita ao noroeste de Paris, Darmanin informou, a meio da noite, que a violência era "menos intensa", com 471 pessoas já detidas em todo o país e focos de tensão, nomeadamente em Marselha e Lyon, grandes cidades do sudeste.
Em Lyon e Grenoble (centro-leste da França), os confrontos estenderam-se pela noite dentro entre bandos de jovens, muitas vezes encapuzados, que andavam a correr ou de trotineta e confrontaram a polícia, que respondeu com granadas de gás lacrimogéneo.
A região parisiense não foi poupada, com três cidades próximas da capital a decidirem impor o recolher obrigatório, tal como outras cidades das províncias.
Multidão no funeral de Nahel
Em Nanterre, a cidade da região parisiense onde Nahel M. foi morto por um agente da polícia na terça-feira durante um controlo de trânsito, os habitantes juntaram-se este sábado para o funeral do jovem de 17 anos. A morte, filmada, reacendeu o debate sobre o racismo e a violência policial em França.
"Sábado, 1 de Julho, será um dia de luto para a família de Nahel", escreveram os advogados da família, apelando aos meios de comunicação social para que não participassem na cerimónia, "a fim de dar à família enlutada a privacidade e o respeito de que necessita".
O funeral realiza-se na mesquita Ibn Badis de Nanterre, onde se concentrou uma grande multidão, com duas centenas de pessoas a rezar na rua em frente, estendendo as suas roupas no chão, relata o Le Monde.
Salsabil, uma jovem de ascendência árabe, disse à Reuters que tinha vindo apoiar a família. "Acho que é importante permanecermos unidos."
Marie, de 60 anos, vive Nanterre há 50, e garantiu que sempre houve problemas com a polícia. "Isto precisa de parar. O Governo está completamente desligado da nossa realidade."
"Se tens a cor de pele errada, a polícia é muito mais perigosa", acrescentou um jovem que não quis ser identificado e que afirmou ser amigo de Nahel.
Ainda antes do funeral, Darmanin anunciou que hoje sairão para as ruas mais "unidades mais especializadas", como o RAID (unidade de forças especiais) e o GIGN (Grupo de Intervenção da Gendarmerie), tropas de elite das forças de segurança.
Para as ruas foram também enviados veículos blindados ligeiros para tentar reduzir a tensão em relação à noite anterior, em que 492 edifícios foram alvo de ataques, 2000 veículos foram queimados e dezenas de lojas saqueadas.