Protestos em França: Macron anuncia mobilização de “recursos adicionais”

Presidente francês pede aos pais que mantenham os adolescentes em casa e culpa redes sociais pelos tumultos. Governo analisa todas as opções, incluindo o estado de emergência.

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Montra destruída de uma loja no centro de Paris EPA/YOAN VALAT
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O Presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou esta sexta-feira que irão ser mobilizados “recursos adicionais” para fazer face aos tumultos que estão a ocorrer por toda a França, após a morte, na terça-feira, de um jovem, abatido a tiro pela polícia.

Apelando à responsabilidade dos pais dos jovens manifestantes, a quem pediu que mantenham os adolescentes em casa para acabar com os tumultos registados no país, pois grande parte dos detidos registados são jovens, Macron defendeu que as redes sociais estão a alimentar a violência durante os incidentes e quer que os “conteúdos sensíveis” sejam removidos.

Durante uma reunião do comité interministerial de crise realizada no Ministério do Interior francês, Macron saudou a resposta “rápida e adequada” das forças de segurança, na sequência de três noites consecutivas de tumultos, e denunciou a “instrumentalização” dos acontecimentos.

O Governo francês pediu também a todas as autoridades locais que suspendam os transportes públicos a partir das 21h locais (menos uma hora em Portugal).

De manhã, a primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, afirmou que o Governo iria analisar “todas as opções” para restabelecer a “ordem republicana” após a vaga de protestos dos últimos dias, o que implicaria, pela primeira vez, colocar em cima da mesa a eventual declaração do estado de emergência.

A oposição conservadora apelou a esta medida de excepção, que implica dar mais poder às forças de segurança e restringir as liberdades, como forma de fazer face à escalada dos tumultos, que só na noite de quinta-feira resultaram em mais de 660 detenções e quase 250 polícias e gendarmes feridos, segundo dados do Ministério do Interior.

A última vez que a França declarou o estado de emergência foi em Novembro de 2015, na sequência dos atentados jihadistas em Paris. Inicialmente, o Governo pode adoptá-lo por um período de 12 dias, renovável se a Assembleia Nacional o considerar necessário.

Élisabeth Borne, que visitou uma esquadra de polícia em Évry-Courcouronnes com o ministro do Interior, Gérald Darmanin, prometeu que o Governo iria estudar “a melhor resposta” à actual escalada, numa reunião interministerial de emergência convocada pelo Presidente Emmanuel Macron.

O chefe de Estado francês abandonou abruptamente o Conselho Europeu em Bruxelas sem dar a habitual conferência de imprensa no final dos dois dias de reuniões.

Segundo a fonte do Palácio do Eliseu, Macron esperava que Borne e Darmanin lhe “apresentem propostas para desenvolver e adaptar” o dispositivo policial, “sem tabus”.

Borne reuniu-se esta sexta-feira de manhã com vários dos ministros e considerou que os protestos, desencadeados na sequência da morte de um jovem de 17 anos pela polícia e que já vão na terceira noite, são “insuportáveis e indesculpáveis”.

A reunião decorreu em Matignon e teve como objectivo fazer um balanço da violência da noite anterior. Segundo dados oficiais, pelo menos 667 pessoas foram detidas em França na madrugada desta sexta-feira, enquanto 249 policias ficaram feridos.

Numa mensagem publicada no Twitter, Darmanin garantiu que foram dadas instruções às forças de segurança para manterem “firmeza”, tendo sido destacados 40 mil polícias para tentar travar os distúrbios que se arrastam há alguns dias nos bairros sociais em Nanterre, arredores de Paris, e que entretanto se estenderam a várias cidades de França.

Em Marselha, a segunda maior cidade do país, as autoridades proibiram manifestações públicas e disseram que todos os transportes públicos iriam parar às 19h, hora local (menos uma hora em Portugal).

Um eléctrico foi incendiado na cidade de Lyon, no Leste do país, e 12 autocarros foram destruídos num depósito em Aubervilliers, no Norte de Paris.

A fachada do centro aquático de Aubervilliers, onde decorrerão os treinos para os Jogos Olímpicos de 2024, ficou ligeiramente danificada no incêndio, disse à Reuters a SOLIDEO, a empresa responsável pelas infra-estruturas dos Jogos.

No centro comercial Chatelet Les Halles, no centro de Paris, uma loja de calçado foi assaltada e várias pessoas foram detidas depois após as montras de várias lojas terem sido partidas na rua comercial adjacente, Rue de Rivoli, informou a polícia parisiense. Uma fonte disse à Reuters que vários supermercados Casino foram saqueados em todo o país.

A morte do jovem Nahel, numa operação stop na terça-feira, captado pelas câmaras de vigilância, fez regressar a tensão entre jovens e a polícia. Os confrontos contra as forças de segurança surgiram logo na noite de terça-feira em Nanterre e, na madrugada de quinta-feira, foram danificados edifícios públicos e queimados carros, tendo sido detidas cerca de 150 pessoas.

O agente da polícia suspeito da morte do jovem, acusado de homicídio, foi detido e vai ficar em prisão preventiva. O seu advogado, Laurent-Franck Lienard, disse que o seu cliente tinha apontado para a perna do condutor, mas foi abalroado, o que o levou a disparar contra o peito. “É óbvio que [o agente] não queria matar o condutor”, afirmou Lienard à BFM TV.

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