Matilde Rosa Araújo e duas primas à conversa e a beber chá

Um livro para (re)descobrir Matilde Rosa Araújo. Ao seu humor junta-se o do pintor e ilustrador João Vaz de Carvalho.

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“Balbina vestida de seda fina pega no bule azul da China e deita de repente o chá quente na chávena azul da China de sua prima Carolina” João Vaz de Carvalho
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“Não sabe a potes, sabe a bules azuis de loiça fina da China. Um encanto! Um espanto!” João Vaz de Carvalho
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“– Onde é a China? – É lá de onde vem o chá para cá” João Vaz de Carvalho
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“Este leque que tenho na mão/ feito não sei de quê/ veio do Japão… E abana o leque tão, tão, tão, tão…” João Vaz de Carvalho
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“E à Balbina dá-lhe uma tontura de repente e entorna o bule azul de chá quente sobre o seu vestido de seda fina, sobre todo o tule tolíssimo da tia Firmina. Sobre os papelotes virotes de Carolina.” João Vaz de Carvalho
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Capa do livro História Tontinha, editado pela Tcharan João Vaz de Carvalho
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Num diálogo breve e divertido entre duas primas enquanto tomam chá, está contido o humor e a delicadeza de Matilde Rosa Araújo. Começa assim: “Balbina vestida de seda fina/ pega no bule azul da China/ e deita de repente o chá quente/ na chávena azul da China/ de sua prima Carolina/ que bebe o chá quente/ e de repente pergunta/ à sua prima Balbina:/ – Onde é a China?/ E Balbina responde: – É lá de onde vem o chá para cá.”

Diz ao PÚBLICO Adélia Carvalho, editora de Tcharan: “O nosso objectivo ao editar este texto é continuar a manter viva a literatura da Matilde, não permitir que ela caia no esquecimento e mostrar textos menos conhecidos, dando-lhe uma nova roupagem através da ilustração.”

A também escritora considera História Tontinha uma “narrativa breve e despojada, reduzida ao essencial e com um ritmo envolvente”, referindo que nela “sobressai a delicadeza da palavra poética de Matilde Rosa Araújo e a sua capacidade de evocar ambientes e fazer retratos tão exactos como realistas e artísticos”.

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“E Carolina com a cabeça em papelotes virotes vai dizer à tia Firmina: – A minha prima sabe a potes de Geografia” João Vaz de Carvalho

Chamaram João Vaz de Carvalho a ilustrar porque sabiam que “a sua ilustração iria imprimir o ritmo e humor necessários à narrativa, através das suas personagens já tão bem conhecidas”. Adélia Carvalho descreve-as assim: “Personagens fortes, mas simultaneamente singelas e com alguma comicidade própria para uma conversa de chá tontinha…”

Comportamentos ridículos

O pintor e ilustrador João Vaz de Carvalho conta ao PÚBLICO via email como se desenvolveu o processo de criação das imagens para esta história: “Quando li este texto de Matilde Rosa Araújo e fiz os primeiros esboços das ilustrações, desfilaram na minha cabeça algumas imagens da minha própria infância. Nesse tempo, alguns adereços que aparecem nesta história, como o chá, o bule, o vestido de tule, o leque, etc. podiam ter um significado inofensivo, mas também podiam ser vistos como símbolos de afirmação de uma certa maneira de estar na sociedade. Creio que Matilde Rosa Araújo, inteligente e delicadamente, pretendeu brincar com essa realidade através de uma história inocente e divertida, expondo o ridículo de certos comportamentos que, já então, eram cada vez mais anacrónicos.”

As primas querem fazer crer que são muito informadas sobre o mundo, caindo numa caricatura de falsos conhecimentos de Geografia.

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Para João Vaz de Carvalho, “alguns adereços, como o chá, o bule, o vestido de tule, o leque, podiam ter um significado inofensivo, mas também podiam ser símbolos de afirmação de uma certa maneira de estar na sociedade” João Vaz de Carvalho

O ilustrador, que usa tinta acrílica sobre papel, prossegue a sua descrição: “Foi com base nesta leitura pessoal que escolhi as passagens a ilustrar. Procurei tirar partido das imagens mais humorísticas que pudessem ter um impacto visual mais instantâneo. Procurei evitar os detalhes excessivos que só iriam acrescentar ruído de fundo. Procurei aproveitar o movimento sugerido por certas passagens e joguei com a repetição de forma a tentar acompanhar o ritmo que o texto me sugere. Também utilizei uma espécie de ‘zoom’ cinematográfico para destacar certos momentos do texto que achei necessário destacar. Tudo isto à luz de um critério onde o humor e a sobriedade se pudessem unir de forma a não distrair o leitor do essencial do texto e da imagem.”

O resultado é um livro bem-disposto, ritmado e expressivo nas duas linguagens: verbal e visual.

Daí que se justifique o comentário final e justo da editora: “Estamos muito felizes por oferecer este livro à Matilde, que tanto deu à nossa literatura. E por isso não podemos deixar que a esqueçam.”


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