Indústria da beleza resiste à crise e crescerá 6% ao ano até 2027, prevê estudo

Daqui a quatro anos, as vendas globais a retalho deverão atingir 534 mil milhões de euros. China e EUA continuam a ser os principais mercados, mas marcas viram-se para o Médio Oriente e a Índia.

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A beleza continua a ser uma das categorias de consumo "mais atractivas" para fusões e aquisições Nelson Garrido/Arquivo
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No sector da beleza, as vendas globais a retalho poderão atingir uma taxa de crescimento anual de 6%, entre 2022 e 2027. Nesse ano, a indústria deverá atingir os 580 mil milhões de dólares (cerca de 534 mil milhões de euros), aponta o estudo anual The State of Beauty, feito numa parceria do The Business of Fashion (BoF) e da McKinsey & Company, que faz um retrato da indústria da beleza e revela que esta está a "atravessar uma nova era de crescimento e expansão à escala global".

O estudo — feito a partir de dados recolhidos nos EUA, China, Reino Unido, Alemanha, França e Itália — antecipa que todas as categorias da beleza (dos cuidados da pele à maquilhagem, cabelo e bem-estar) vão crescer a um ritmo de 6% ao ano e que o maior crescimento será no segmento de skincare (cuidados com a pele), que deverá alcançar 260 mil milhões de dólares (239 mil milhões de euros) daqui a quatro anos. Actualmente, esta categoria tem o valor de 190 mil milhões de dólares (175 mil milhões de euros). A justificação para este crescimento é a procura dos consumidores por "produtos que privilegiam a eficácia baseada na ciência", refere o estudo.

Aparentemente, esta indústria é imune à crise económica que se faz sentir. O estudo confirma que este mercado "continua a demonstrar a resiliência que cimentou nos últimos anos, demonstrando repetidamente que consegue resistir e até prosperar". Afinal, trata-se de um sector que, em termos de investimento, toda a gente quer fazer parte, "dos financeiros de topo às celebridades" — vejam-se os inúmeros artistas que criam marcas em nome próprio. "O mercado da beleza está numa trajectória ascendente em todas as categorias e provou ser resiliente perante crises económicas globais e um ambiente macroeconómico turbulento", declara Ana Paula Guimarães, sócia da McKinsey, em comunicado de imprensa.

Mais, a beleza continua a ser uma das categorias de consumo "mais atractivas" para fusões e aquisições, "dada a resiliência geral e as fortes margens do sector", embora se reconheça que, a curto prazo, as fusões e aquisições poderão "não produzir tantos meganegócios" como até agora. A concorrência poderá aumentar, assim como as marcas serão sujeitas a um maior escrutínio — os conglomerados de luxo vão procurar activos mais pequenos, mas de "maior qualidade". Ou seja, as transacções "continuarão a ser dinâmicas" porque os gigantes do sector vão procurar marcas que preencham lacunas na sua oferta, prevê o relatório.

E esta oferta é muito abrangente porque vai da categoria do bem-estar ao ultra-luxo. Assim, depois do segmento de skincare, segue-se o da perfumaria, onde se estima que as vendas aumentem dos 70 para os quase 100 mil milhões de dólares (dos 64 para os 92 mil milhões de euros).

Com uma queda acentuada durante a pandemia, porque as pessoas ficaram em casa, logo, prescindiram da maquilhagem, espera-se que a recuperação desta categoria se continue a fazer sentir, aumentando os seus lucros dos actuais 80 mil milhões de dólares para 105 (73 para 97 mil milhões de euros). Já o segmento cabelo está a ganhar terreno, uma vez que surgem cada vez mais produtos e mais rotinas de cuidados capilares — aquilo a que o estudo chama "skinificação", uma vez que é um caminho semelhante ao que foi feito com os cuidados da pele. Neste caso, prevê-se um crescimento dos 90 para os 120 mil milhões de dólares (dos 82 para os 110 mil milhões de euros).

Expansão do bem-estar

Segundo um inquérito feito aos consumidores, a maioria afirma que planeia, no próximo ano, aumentar os gastos em produtos e serviços de bem-estar. Actualmente, a indústria mundial do bem-estar — que inclui desde produtos para a higiene do sono a suplementes, passando pelo bem-estar sexual — está valorizada em 1,5 biliões de dólares (1,38 biliões de euros) e, até 2027, estima-se um crescimento até 10%.

O estudo refere um aumento da oferta deste tipo de produtos que combinam beleza e bem-estar, uma vez que o consumidor não procura apenas ter boa aparência, mas também sentir-se bem. "Espera-se que as linhas entre beleza e bem-estar continuem a esbater-se, com a oportunidade combinada a representar cerca de dois biliões de dólares a nível global para marcas, retalhistas e investidores", diz o relatório, que enumera alguns destes artigos: cuidados com a pele e a maquilhagem com ingredientes probióticos e aiurvédicos, os suplementos e os dispositivos de beleza, como as máscaras faciais de LED.

O relatório salvaguarda que, embora se preveja todo este crescimento, as marcas terão de se adaptar aos "ciclos de vida rápidos" dos produtos, sendo que não basta ter um produto forte para conquistar os consumidores. Estes procuram inovação e têm o desejo de "pôr em prática uma gama completa de produtos de beleza que os ajudem a ter o melhor aspecto possível".

Entre estes, a Geração Z é um dos desafios para a indústria de beleza, que tem de se adaptar e encontrar "novas formas de falar a sua língua", recomenda o estudo. Esta é uma geração "digitalmente experiente e exigente" e que examina as marcas e os produtos antes de os escolher. "Quase metade dos inquiridos da Geração Z afirma ter feito uma pesquisa exaustiva sobre os ingredientes dos produtos e os seus benefícios antes da compra, à semelhança dos Millennials (e em comparação com apenas um terço da Geração X e um quinto dos Baby Boomers)", refere o relatório.

O que procuram? Além da eficácia e transparência dos produtos, a Geração Z exige que as marcas representem algo de forma credível, no que à sustentabilidade, diversidade e inclusão diz respeito — por exemplo, cerca de 40% dos consumidores da Geração Z prefere produtos de beleza sem distinção de género, em comparação com cerca de 30% das gerações mais velhas.

Os mais novos valorizam ainda as marcas que têm uma imagem acessível, uma história que vai para além dos produtos, e que acolhem os consumidores numa comunidade mais alargada. "A Geração Z é mais fiel do que muitas marcas pensam. Mesmo quando deseja experimentar novos produtos, quase 60% está disposto a continuar a comprar das suas marcas favoritas."

A China e os EUA mantêm-se "mercados importantes", mas as marcas devem estar atentas a outros, nomeadamente, a Índia e o Médio Oriente, que estão a emergir como "mercados-chave de crescimento", anuncia ainda o estudo. Quanto à Europa, que representava cerca de 90 mil milhões de dólares (82 mil milhões de euros), em 2022, deverá atingir pelo menos 115 mil milhões de dólares (105 mil milhões de euros) em 2027.

Feito anualmente, The State of Beauty é parte do relatório The State of Fashion, elaborado numa parceria entre a empresa de comunicação social, especializada no negócio da moda, BoF, e a consultora McKinsey & Company.

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