EUA e Canadá preparam feriados nacionais sob fumo e temperaturas extremas
Pior temporada de incêndios na história do Canadá prossegue sem sinais de melhoria. A sul, os EUA entram no fim-de-semana prolongado de 4 de Julho sob uma vaga de calor e o fumo do vizinho do Norte.
Grande parte da América do Norte permanece a braços com incêndios, fumo e muito calor, com metade da população dos Estados Unidos a entrar no fim-de-semana prolongado do Dia da Independência, a 4 de Julho, sob alertas de calor extremo ou de fraca qualidade do ar, enquanto no Canadá, que assinala o seu feriado nacional no sábado, as chamas continuam a não dar tréguas.
Cerca de 500 incêndios permaneciam activos esta sexta-feira no Canadá, 230 dos quais fora de controlo. Desses, muitos dos que lavram em áreas remotas do extenso país não contam neste momento com qualquer combate activo por parte dos bombeiros, que concentram esforços em áreas mais povoadas.
Esta sexta-feira, a província canadiana do Quebeque contabilizava 106 incêndios activos, enquanto Alberta somava 101 e a Colúmbia Britânica registava 95 fogos. Nesta última província, assinala-se hoje o segundo aniversário da destruição da aldeia de Lytton, consumida pelo fogo sob uma temperatura recorde de quase 50ºC. O Verão de 2023 ameaça repetir as marcas trágicas de então.
Oito milhões de hectares de floresta arderam desde o início do ano no Canadá, um valor sem precedentes, e 300 mil hectares foram consumidos pelas chamas apenas nas últimas 48 horas - quase o triplo de toda a área ardida em Portugal em 2022. Devido aos incêndios, o Canadá já emitiu no primeiro semestre de 2023 mais dióxido de carbono do que em qualquer outro ano inteiro, segundo dados do programa europeu Copérnico.
A dispersão geográfica dos incêndios também continua a surpreender naquele que é o segundo maior país do mundo, e que alberga 9% da floresta mundial: todas as províncias e territórios canadianos tinham zonas em risco de incêndio nesta sexta-feira, incluindo partes dos três territórios do Extremo Norte: Nunavut, Yukon e os Territórios do Noroeste.
As previsões meteorológicas não são animadoras: grande parte do país continuará sob tempo seco e quente, fora dos padrões habituais, durante as próximas semanas. Esse é o grande combustível dos incêndios no Canadá. Ainda que as causas imediatas de cada sinistro possam ser atribuídas a relâmpagos, a negligência humana ou a acção criminosa, é o calor e a ausência de humidade que tem permitido o rápido alastramento de cada incêndio.
Fumo e calor a sul
A interacção entre sistemas de baixa e de alta pressão atmosférica na América do Norte, que mantém o Canadá sob condições propícias aos incêndios, é a mesma que voltou a propagar o fumo das florestas queimadas para sul. Ainda no Canadá, as cidades de Toronto, Otava e Montreal estavam esta sexta-feira sob uma espessa neblina cinzenta que levou já ao cancelamento de algumas celebrações do Dia do Canadá, feriado nacional que se assinala este sábado.
Já nos EUA, no Nordeste e na região dos Grandes Lagos, o fumo mantinha igualmente extensas áreas sob alerta de fraca qualidade do ar, sobretudo nos estados de Nova Iorque, Vermont, Pensilvânia, Ohio e Michigan. Cerca de 100 milhões de pessoas estão expostas a níveis de partículas no ar considerados nocivos, com as autoridades a aconselharem idosos e doentes crónicos a limitarem o tempo ao ar livre.
Em Pittsburgh, na Pensilvânia, o Índice de Qualidade do Ar era de 238 na manhã de sexta-feira. Qualquer valor acima dos 100 é considerado perigoso para grupos de risco, e valores acima dos 200 devem determinar o cancelamento da maioria das actividades ao ar livre.
Na cidade de Nova Iorque, mantinha-se hoje em dúvida a realização das celebrações do Dia da Independência, que se assinala na terça-feira. Apesar de se esperar uma dissipação do fumo ao longo do fim-de-semana, uma nova nuvem pode chegar ao Nordeste até 4 de Julho. E o ciclo poderá repetir-se ao longo de todo o Verão, se a crise dos incêndios no Canadá persistir.
No Sul, a ameaça é a temperatura, com alertas de calor extremo no vale do Mississípi, incluindo a totalidade do estado homónimo e partes do Luisiana, Arcansas, Missouri, Tennessee, Illinois e Kentucky, e também no Texas, Oklahoma e Alabama.
No Oeste, também vastas áreas da Califórnia, Arizona e Nevada estão sob alerta de calor extremo.
Nestas regiões, onde habitam cerca de 80 milhões de pessoas, a conjugação do calor e da humidade deverá produzir uma sensação de temperatura superior a 38ºC.