Rever a música tradicional a voz e contrabaixo, eis a proposta de Miguel Calhaz

Cantor e contrabaixista apresenta o seu mais recente disco, Contra: Contemporânea Tradição, esta quinta-feira no Festival MED em Loulé e em Agosto em Belmonte.

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Miguel Calhaz em palco com o seu contrabaixo DR
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Músico, compositor, cantor, contrabaixista e professor de jazz, Miguel Calhaz tem um novo disco a solo e está a apresentá-lo em várias salas do país. Chama-se Contra: Contemporânea Tradição e é composto exclusivamente por temas do cancioneiro tradicional português em contrabaixo e voz (cantada ou em vocalizos). O nome, Contra, vem da junção das primeiras letras das palavras CONtemporânea e TRAdição ou de metade da palavra CONTRAbaixo.

Nascido em 1973, na Sertã, Miguel Calhaz já lançara dois álbuns em nome próprio, Estas Palavras (2012) e vozCONTRAbaixo (2017). Foi distinguido com o Prémio José Afonso no 3.º Festival Cantar Abril, em 2011 (tema original), o Prémio Adriano Correia de Oliveira em 2013 (melhor recriação) e o Prémio Ary dos Santos em 2013 e 2015 (melhor letra). Como cantor e contrabaixista, integrou o quinteto Inquiet’Ensemble, que gravou um CD só com versões de canções de José Mário Branco, intitulado Que Dia É Hoje?, editado em 2022.

O disco Contra: Contemporânea Tradição inclui temas como Cantiga das casadas, S. João, Senhora do Almortão, Oh Bento airoso, Moda do Entrudo ou Cantiga da ceifa, resultado de um antigo interesse pessoal: “Isto resulta da curiosidade que a música tradicional sempre me despertou”, explica Miguel Calhaz ao PÚBLICO. “Quando vi as possibilidades que muitos dos nossos ricos temas tradicionais têm, de poderem ser interpretados ‘apenas’ com recurso ao contrabaixo, optei por fazer esta investigação e este trabalho, indo até ao fundo em questões musicais e estéticas.” E na exploração do contrabaixo até aos seus limites. Que Miguel Calhaz diz não existirem. É, afirma, “um instrumento sem princípio nem fim.”

Os temas aqui incluídos já os tinha ouvido, pensando adaptá-los à linguagem a que o disco obedece: “Executar polirritmias no contrabaixo, transportando para o instrumento técnicas e recursos mais característicos de instrumentos de percussão, como a própria bateria.” Por outro lado, queria experimentar esse tipo de capacidades em contextos musicais com o da música tradicional: “Eu estou muito ligado ao jazz e a linguagem da improvisação sempre mexeu muito comigo, para além daquilo que é standard de jazz, ou seja, encontrar noutras vertentes musicais também formas de exprimir essa linguagem improvisada.”

Os prémios que recebeu, já aqui citados, considera-os “muito importantes”: “Deram-me muito alento para fazer e continuar a fazer o tipo de música que faço e para explorar esta abordagem a solo do contrabaixo. Porque muitos dos temas que apresentei nesses concursos foram de voz e contrabaixo e o que mais surpreendeu as pessoas foi ver o contrabaixista e resumir tudo nesse instrumento: fazia percussão, harmonia, melodia, cantava…”

Depois de ter apresentado este trabalho na Associação José Afonso, em Novembro de 2022, Miguel Calhaz já actuou em Setúbal, Celorico da Beira, Aveiro, Coimbra, e esta quinta-feira apresenta-se em Loulé, no Festival MED (21h45). “Será um concerto centrado maioritariamente nos temas do Contra: Contemporânea Tradição, mas gosto sempre de apresentar alguma novidade relativa a trabalhos futuros”, diz Miguel Calhaz. “Por exemplo: estou a preparar um outro trabalho, utilizando esta vertente de voz e contrabaixo, chamado Contracantos, que são os cantos do contra, da revolução, versões de temas de Sérgio Godinho, José Mário Branco, Adriano Correia de Oliveira, Zeca Afonso e Fausto. À semelhança do que fiz com o Inquiet’Ensemble, mas com esta vertente solo.”

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A capa do disco

Um mês depois, no dia 29 de Agosto, actuará em Belmonte, no Festival Zeca Afonso. “A ideia é aludir à música tradicional na obra dele. O Zeca privilegiou-a muito na sua carreira e considerou-a muito importante na sua abordagem musical. Irei tocar alguns temas do Zeca que têm mais a ver com a vertente tradicional e também alguns dos outros. Belmonte tem sido um sítio que me tem acolhido espectacularmente, mais de uma vez.”

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