<3. Ivan+Haley 23. Basicamente, o crime é este e, mais nome menos número, um crime epidémico pelo património de Portugal e o mundo. Mas, neste caso, o coração e o amor não seduzem nem Roma nem Itália: o rapaz gravou a sua declaração de amor num muro do Coliseu e “desfigurou” — como diz o ministro da Cultura, Gennaro Sangiuliano — o coração de Roma.
O suposto Ivan, assistido pela namorada, agarrou numa chave, riscou o coração com os nomes e o ano na pedra milenar, e sabemos nós tudo isto e como foi detalhadamente o processo “artístico”, porque, ao contrário de muitas outras declarações de amor riscadas, grafitadas, pintalgadas pelo mundo, o acto foi filmado, o vídeo foi publicado e a acção do homem tornou-se tema no Reddit. O que o elevou ao estatuto de viral, logo noticiado, como refere o Corriere della Sera, e, pior para o artista, com rosto reconhecível.
“Considero extremamente grave, indigno e um sinal de grande incivilidade o facto de um turista desfigurar um dos locais mais famosos do mundo, o Coliseu, para nele gravar o nome da sua namorada. Espero que a pessoa que fez isto seja identificada e punida de acordo com as nossas leis”, comentou Sangiuliano no seu Twitter, sendo que o Ministério da Cultura italiano lançou mesmo um comunicado com estes comentários do responsável da pasta.
Ao texto, o ministro acrescentou uma promessa em tom de ameaça, que inclui o vídeo do momento do crime e que até tem o selo do seu ministério: “Acto de vandalismo no Coliseu”; “Tolerância zero para a incivilidade”.
Pelas redes, particularmente pelo Twitter, há já uma busca ao homem, a um nível de inimigo público nº 1 de Itália. Até a publicação do ministro inclui a imagem possível, retirada do vídeo, do suposto Ivan.
“É um acto muito grave. Penso que há falta de educação relativa ao respeito pela memória, que, de facto, é o respeito por nós próprios. Estamos num sítio UNESCO, um património mundial”, disse Alfonsina Russo, directora do parque arqueológico do Coliseu, à estação pública de rádio Rai 1. “Estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance para encontrar o autor do crime.”
No jornal La Reppublica, somam-se os artigos sobre o tema e está expresso o conceito do momento: “turista-vândalo”. Já outros opinadores, caso real da associação de defesa do ambiente e dos consumidores Codacons, vai mais longe na pena a aplicar: multa e/ou prisão não chegam; sugerem que seja banido por toda a vida do território italiano.
“Episódios semelhantes ocorrem porque em Roma, como no resto da Itália, os controlos nos monumentos são escassos e, nalguns casos, completamente inexistentes”, explica o presidente da associação, Carlo Rienzi. “Uma vigilância mais generalizada poderia ter evitado esta desfiguração e detido o turista em tempo real, levando-o à justiça”, sugere. “Logo que os organismos competentes identifiquem o responsável pelos danos causados ao Coliseu, daremos início a um processo contra ele, pedindo uma indemnização milionária pelos danos causados, não só a um património da humanidade, mas também aos cidadãos de todo o mundo”, afiança Rienzi.
Assim se vê como os casos dos “turistas-vândalos”, como escreve o jornal italiano, têm impacto nas sociedades e alavancam ondas de indignação.
Em Portugal, uma das situações mais célebres e com maior impacto indignado ocorreu em 2016, quando um turista subiu para o nicho da estátua de Dom Sebastião, na estação do Rossio, para tirar a foto, e a fez cair. Ficou em feita em mil pedaços e só em 2021 regressaria, em formato cópia, à sua casa.
Também agora em Itália, os “turistas-vândalos” são capazes de partir o coração de um país, provocando ondas de raiva. No caso do Coliseu, não é admirar que apareça quem queira lançar Ivan+Hailey aos leões...