“Turista-vândalo” crava coração no Coliseu de Roma. Já foi “lançado aos leões”
Itália de coração na boca: há caça ao homem, ameaças, media em polvorosa, muitos palavrões. “Tolerância zero para a incivilidade”, multa até 15 mil euros, prisão até 5 anos.
<3. Ivan+Haley 23. Basicamente, o crime é este e, mais nome menos número, um crime epidémico pelo património de Portugal e o mundo. Mas, neste caso, o coração e o amor não seduzem nem Roma nem Itália: o rapaz gravou a sua declaração de amor num muro do Coliseu e “desfigurou” — como diz o ministro da Cultura, Gennaro Sangiuliano — o coração de Roma.
O suposto Ivan, assistido pela namorada, agarrou numa chave, riscou o coração com os nomes e o ano na pedra milenar, e sabemos nós tudo isto e como foi detalhadamente o processo “artístico”, porque, ao contrário de muitas outras declarações de amor riscadas, grafitadas, pintalgadas pelo mundo, o acto foi filmado, o vídeo foi publicado e a acção do homem tornou-se tema no Reddit. O que o elevou ao estatuto de viral, logo noticiado, como refere o Corriere della Sera, e, pior para o artista, com rosto reconhecível.
“Considero extremamente grave, indigno e um sinal de grande incivilidade o facto de um turista desfigurar um dos locais mais famosos do mundo, o Coliseu, para nele gravar o nome da sua namorada. Espero que a pessoa que fez isto seja identificada e punida de acordo com as nossas leis”, comentou Sangiuliano no seu Twitter, sendo que o Ministério da Cultura italiano lançou mesmo um comunicado com estes comentários do responsável da pasta.
Reputo gravissimo, indegno e segno di grande inciviltà, che un turista sfregi uno dei luoghi più celebri al mondo, il Colosseo, per incidere il nome della sua fidanzata. Spero che chi ha compiuto questo gesto venga individuato e sanzionato secondo le nostre leggi. pic.twitter.com/p8Jss1GWuY
— Gennaro Sangiuliano (@g_sangiuliano) June 26, 2023
Ao texto, o ministro acrescentou uma promessa em tom de ameaça, que inclui o vídeo do momento do crime e que até tem o selo do seu ministério: “Acto de vandalismo no Coliseu”; “Tolerância zero para a incivilidade”.
Pelas redes, particularmente pelo Twitter, há já uma busca ao homem, a um nível de inimigo público nº 1 de Itália. Até a publicação do ministro inclui a imagem possível, retirada do vídeo, do suposto Ivan.
“É um acto muito grave. Penso que há falta de educação relativa ao respeito pela memória, que, de facto, é o respeito por nós próprios. Estamos num sítio UNESCO, um património mundial”, disse Alfonsina Russo, directora do parque arqueológico do Coliseu, à estação pública de rádio Rai 1. “Estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance para encontrar o autor do crime.”
No jornal La Reppublica, somam-se os artigos sobre o tema e está expresso o conceito do momento: “turista-vândalo”. Já outros opinadores, caso real da associação de defesa do ambiente e dos consumidores Codacons, vai mais longe na pena a aplicar: multa e/ou prisão não chegam; sugerem que seja banido por toda a vida do território italiano.
Turista sfregia il Colosseo.
— Gennaro Sangiuliano (@g_sangiuliano) June 26, 2023
Al #Tg5 pic.twitter.com/ctU28SKdnb
“Episódios semelhantes ocorrem porque em Roma, como no resto da Itália, os controlos nos monumentos são escassos e, nalguns casos, completamente inexistentes”, explica o presidente da associação, Carlo Rienzi. “Uma vigilância mais generalizada poderia ter evitado esta desfiguração e detido o turista em tempo real, levando-o à justiça”, sugere. “Logo que os organismos competentes identifiquem o responsável pelos danos causados ao Coliseu, daremos início a um processo contra ele, pedindo uma indemnização milionária pelos danos causados, não só a um património da humanidade, mas também aos cidadãos de todo o mundo”, afiança Rienzi.
Assim se vê como os casos dos “turistas-vândalos”, como escreve o jornal italiano, têm impacto nas sociedades e alavancam ondas de indignação.
Em Portugal, uma das situações mais célebres e com maior impacto indignado ocorreu em 2016, quando um turista subiu para o nicho da estátua de Dom Sebastião, na estação do Rossio, para tirar a foto, e a fez cair. Ficou em feita em mil pedaços e só em 2021 regressaria, em formato cópia, à sua casa.
Também agora em Itália, os “turistas-vândalos” são capazes de partir o coração de um país, provocando ondas de raiva. No caso do Coliseu, não é admirar que apareça quem queira lançar Ivan+Hailey aos leões...