Palcos da semana: trengos, festivais e algoritmos teatrais
No mapa de festivais estão o Trengo, o Inside Out, o Cistermúsica e o Med. Juntam-se algumas notas sobre O Algoritmo da Epilepsia.
Cambada de trengos com arte
Entre malabarismos e acrobacias, do Parque do Covelo – o epicentro da acção – a ruas e salas históricas da cidade como o Coliseu, o Rivoli ou a Praça D. João I, em tom mais divertido ou para dar que pensar. O Porto volta a ser invadido por “uma cambada de trengos” – palavra que aqui equivale a “desajeitados”.
A cortesia vem do festival Trengo e da organizadora Erva Daninha, que para a oitava edição promete nada menos do que um “(as)salto artístico ao território urbano” da Invicta (com uma extensão ao Teatro Viriato de Viseu), por meio de 11 espectáculos desdobrados em 22 apresentações. Com um cartaz equilibrado para dar a conhecer a riqueza de estilos que o circo contém, entram em cena os dotes nacionais mas também as artes de países como França, Itália, Espanha, Suécia, Brasil ou Senegal.
É deste último que vem Ancrage, criação da Compagnie SenCirk centrada na ligação à terra e descrita como “um regresso ao essencial (...) a fim de melhor nos erguermos e superarmos”.
Lisboa Inside Out
A Sagração da Primavera assobiada por João Penalva, um Bal Moderne com os pés na relva, os Manifestos para Depois do Fim do Mundo d’Os Possessos, uma conversa sobre o Futuro Ancestral, as novas notas de Marc Ribot’s Ceramic Dog, reservas de arte e danças a estrear.
Estas são algumas das coordenadas no mapa de Inside Out, o festival que a Culturgest montou, pelo terceiro ano consecutivo, para fechar a temporada e abrir o Verão.
Vai da garagem ao lago, das galerias ao anfiteatro, convidando público de todas as idades a usufruir dos vários espaços da fundação e a pôr o pé também no online, onde tem lugar o Jogo Cruzado de Ana Carvalho x Xexa e de Ben LaMar Gay x Sophie Clements.
Notas sobre O Algoritmo da Epilepsia
Os algoritmos de Inteligência Artificial (IA) para a previsão de crises epilépticas dão o mote à nova peça da companhia Marionet. A ideia partiu de Mauro Pinto, que coassina o texto, e foi construída com base nos testemunhos de doentes, cientistas e profissionais de saúde para “dar vida, voz e palco a quem tem a doença”, sublinha o investigador da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Um espectáculo para pôr as pessoas a pensar e para mostrar que neste campo, as coincidências, e sobretudo as probabilidades, existem. Uma situação que não é fácil de prever ou controlar já que, explica a sinopse, “o cérebro humano tem 86 mil milhões de neurónios, permanentemente a fazer e desfazer ligações”.
Mário Montenegro encena; a interpretação é de Catarina Moita, Inês Dias e Teosson Chau.
Cistermúsica no feminino
Com três décadas dedicadas ao lema Um clássico para todos, o Cistermúsica sintoniza as pautas da 31.ª edição com Música no Feminino.
A “importância da emancipação feminina e da igualdade de género” marca então o passo ao cartaz, que dá destaque a compositoras e instrumentistas sem esquecer a efeméride dos 150 anos do nascimento de Sergei Rachmaninoff e a aposta nas “experiências artísticas e sonoras distintas” que estão na essência do festival.
Entre talentos firmados e emergentes, nacionais e de outras paragens, desfilam mais de 40 espectáculos e nomes como The Ministers of Pastime, Cappella Neapolitana, Micrologus, Melleo Harmonia Antigua, Jovem Orquestra Portuguesa, Jill Lawson, Eleonora Karpukhova, Orquestra Filarmónica Portuguesa, Ensemble Vocal Aura, Pavel Gomziakov, Tatiana Samouil, Andreï Korobeinikov ou Christian Lindberg.
Numa cidade, um mundo “sólido e pujante”
A piscar o olho já à festa redonda do próximo ano, o Festival Med põe em marcha uma 19.ª edição que traz na bagagem a consolidação e a maturidade em cada uma das suas valências.
Mais do que um evento de música, é acima de tudo um caldeirão multicultural onde cabem também cinema, artes de rua, literatura, gastronomia e artesanato. Uma festa para todas as idades que se espalha por uma dúzia de palcos (ou zonas de actuação) e se alimenta com sonoridades de latitudes diversas.
Amadou & Mariam (Mali), Amaro Freitas (Brasil), BandAdriatica (Itália), Bulimundo (Cabo Verde), Horace Andy (Jamaica), Omar Souleyman (Síria), Sarah McCoy (EUA), Balkan Taksim (Roménia), Nancy Vieira (Guiné-Bissau) e Tomoro (Japão) são alguns dos convidados internacionais. A representar a bandeira portuguesa estão, entre outros, Bandua, Bateu Matou, Club Makumba, Lavoisier, Sara Correia, Sétima Legião, Zeca Medeiros, Monda e Pedro Mafama.