Festival de vinho e boa vizinhança nas aldeias de Gavinha e Galega da Merceana

Em Alenquer, no coração da Região de Lisboa, decorre entre hoje e domingo a primeira edição do Vinho n’Aldeia, com provas, tertúlias, visitas a adegas, dois jantares vínicos, comida, vinho e música.

Foto
Aldeia Galega de Merceana e a vizinha Aldeia Gavinha, no concelho de Alenquer, são anfitriãs do Vinho n'Aldeia
Ouça este artigo
00:00
05:11

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

A ideia andava há anos a fermentar na cabeça de Maria Miguel. Maria seguiu de alguma forma os passos do pai, que trabalhou sempre ligado ao vinho, e conseguiu, finalmente, lançar o festival Vinho n’Aldeia, entre Aldeia Gavinha e Aldeia Galega da Merceana, meia dúzia de quilómetros a nordeste de Alenquer, que, como diz a impulsionadora, organizadora e faz-tudo desta festa, “é o coração da Região de Lisboa”. Entre hoje e domingo, 25 de Junho, há provas, tertúlias, visitas a adegas, dois jantares vínicos, comida, vinho e música. E, acima de tudo, a prática da boa vizinhança.

“A ideia [deste festival] nasce de eu nascer e ser da aldeia da Gavinha. Sempre lidei com vinhos, a minha família paterna esteve ligada aos vinhos, o meu pai trabalhou no Instituto da Vinha e do Vinho e foi capataz de algumas propriedades vinícolas da zona, para as quais angariava trabalhadores”, começa por explicar Maria Miguel, na zona conhecida de forma familiar por Sãozinha – “sempre que ouço chamarem-me por esses nomes, sei que são os meus vizinhos”.

Este festival conta com o apoio logístico da Câmara Municipal de Alenquer, com a boa vontade de empresas robustas de vinho da região, como a Casa Santos Lima e a Quinta do Pinto, entre outras. “A organização é da Maria Miguel e do Bruno Gomes, meu amigo, que trabalha na área do enoturismo. Com o patrocínio da Maria Miguel [ri-se] e um apoio extraordinário da CVR Lisboa. Temos o apoio logístico da Câmara de Alenquer, e pessoalmente do vereador Rui Costa, que tem o pelouro do turismo e promoção do território”, conta a mulher que migrou para Lisboa para trabalhar, claro está, na fileira do vinho.

“Há sete anos, comecei a trabalhar com Vasco d’Avillez na CVR de Lisboa [era então presidente], nas fam trips e noutros eventos. Entretanto, há alguns anos que sou a coordenadora da Loja de Vinhos no Mercado da Ribeira, da Câmara Municipal de Lisboa, de promoção dos vinhos Região de Lisboa, ajudando turistas e visitantes a terem o primeiro impacto sobre os nossos vinhos”, relata.

Nascida entre vinhas, que bordejam as aldeias que acolhem até domingo o festival Vinho n’Aldeia, Maria Miguel ainda viveu em Arruda dos Vinhos, “o que é fantástico”, confessa. “Este é o coração de Alenquer. Estamos embebidos em vinhas e rodeados por grandes produtores como a Casa Santos Lima, a Quinta de Chocapalha, a Quinta do Pinto, a Cas’Amaro, a Quinta dos Plátanos, a Quinta do Monte D’Oiro, só para citar alguns”, sublinha a organizadora.

“Nascem vinhas em tudo o que é lado. Se não houver água, vinho há de certeza, como diz o meu pai”, pontua, sobre a influência das vinhas e do vinho no concelho de Alenquer.

“Estamos muito perto de Lisboa. As pessoas podem sair de Lisboa e fazer provas numa sala, mas aqui podem vir à essência, porque estamos neste coração, banhados pelas vinhas e com os projectos a virem connosco para este festival”, continua Maria Miguel.

Sobre o encanto natural das aldeias anfitriãs, uma imagem forte: “Encostam pelas vinhas. Sai-se de uma e está-se na outra e Gavinha fica mais no monte. Palmilhamos a aldeia em calçada portuguesa, recheada de quintas e de história.”

Puxando do conhecimento de natural da região, Maria conta que a Aldeia Galega da Merceana, “no passado, sede do concelho e não Alenquer, tem uma casa das rainhas de Portugal, criada pela rainha Dona Leonor”.

Para continuar em modo de sedução natural, de natureza e boa vizinhança, numa zona em que as pessoas gostam de receber e confraternizar, lembra que “há um local no lugar do Sobreiro do qual, se o céu estiver limpinho, limpinho, se vêem as Portas do Sol, em Santarém”, que fica a uns bons 50 quilómetros.

A primeira edição do Vinho n’Aldeia realiza-se em 2023, mas a ideia “tem anos”. “Era uma ideia muito antiga, era para nascer ainda antes da pandemia, mas foi-se adiando, adiando, mas agora cá está”, regozija-se. E a segunda, em 2024, até já tem curador: Joaquim Arnaud, produtor, agricultor, especialista em vinhos e iguarias tradicionais, com origem no Alentejo e trabalho em praticamente todo o território português.

Espírito de aldeia

O Vinho n’Aldeia, ao longo de três dias, conta com a generosidade de 20 produtores para a matéria-prima das provas vínicas e terá tertúlias, visitas a adegas, comida, vinho, pois claro, e música. Os dois jantares vínicos no Largo do Pelourinho serão da responsabilidade dos chefs Teles (150 Gramas, Vila Franca de Xira) e João Simões (Casta 85, Alenquer).

Segundo a organização, o objectivo do festival é promover “a ruralidade associada à inovação e à modernidade, através de uma fusão de experiências e encontros, num cenário tradicional de características únicas”.

De acordo com a dupla de promotores deste festival, Maria Miguel, que trabalha ainda com a Ourland Tours, e Bruno Gomes, da Wine Experiences, “o desafio é descobrir o ‘espaço terroir Alenquer’” e, “como se trata de uma festa na aldeia a sério, a animação não foi esquecida”. Há uma roulotte de doces e farturas, artesanato e muita música, do jazz dos Cooltrane ao bailarico à moda antiga, com Eu + Os Empregados. Quim Botas fica responsável pelo encerramento do evento no domingo.

Resumindo, para a equipa que organiza e promove o Vinho n’Aldeia, “mais do que um festival, é uma forma de viver e degustar a aldeia e o seu espírito, a meia hora de Lisboa”.

Sugerir correcção
Comentar