Novas subidas de juros no Reino Unido e Turquia para travar inflação

Inflação persistente assusta Banco de Inglaterra, enquanto, na Turquia, Erdogan desiste da sua política de baixar as taxas de juro ao mesmo tempo que inflação sobe e a divisa cai.

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A lira turca tem estado em queda nos mercados internacionais EPA/SEDAT SUNA
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Duas economias a braços com um problema de inflação alta viram esta quinta-feira os seus bancos centrais subirem as taxas de juro. No Reino Unido, o movimento foi mais forte do que o previsto, enquanto na Turquia se assistiu a uma viragem da política monetária pouco ortodoxa que vinha sendo imposta nos últimos dois anos por Tayyip Erdogan.

A decisão de subir as taxas de juro pelo Banco de Inglaterra já era esperada, em resposta à persistência de uma inflação alta que, no passado mês de Maio, se manteve nos 8,7% em termos homólogos. No entanto, a expectativa era, na sua maioria, de uma subida de taxas de juro de 0,25 pontos percentuais, para 4,75%.

Os responsáveis do banco central, contudo, decidiram ir mais longe e colocaram as taxas de juro de referência em 5%. A ideia parece ser a de que, perante uma inflação persistente e tendo em conta que a inflação subjacente (a que exclui os preços da energia e dos alimentos) continua mesmo a subir, se torna necessário acelerar o processo de endurecimento da política monetária para evitar que se instalem entre as empresas e as famílias expectativas de uma inflação alta permanente.

Nos mercados, a convicção neste momento é a de que, até ao final do ano, as taxas de juro possam ainda continuar a subir até valores próximos de 6%.

A necessidade que o Banco de Inglaterra está a sentir de ir mais longe e mais rápido do que, por exemplo, o Banco Central Europeu (BCE) resulta do facto de a inflação no Reino Unido estar a ser, desde o início da crise, uma das mais altas entre os países desenvolvidos, com um máximo de 11,1% no final do ano passado e, agora, um recuo mais lento.

No comunicado publicado esta quinta-feira, o Banco de Inglaterra fala da existência de dados recentes que apontam para “uma maior persistência do processo inflacionista”, assinalando que “efeitos de segunda ordem nos preços domésticos e na evolução dos salários gerados por choques externos devem demorar mais tempo a desaparecer do que demoraram a emergir”.

Erdogan recua

Na Turquia, a subida de taxas de juro foi bem maior, mas também neste caso, se existe alguma surpresa, foi não ter sido ainda de maior dimensão.

Colocando ponto final na política monetária muito pouco convencional dos últimos dois anos, de descida das taxas de juro apesar da escalada da inflação, o banco central turco elevou esta sexta-feira a sua principal taxa de juro de referência em 6,5 pontos percentuais, de 8,5% para 15%.

Este agravamento nos custos de acesso ao crédito tem como objectivo, através de uma maior limitação do consumo e do investimento, travar não só uma taxa de inflação que está ainda próximo dos 40%, mas também evitar que a divisa do país continue em queda nos mercados internacionais. Desde 2021 que a lira, apesar dos esforços do banco central para intervir no mercado, tem vindo a perder valor face às principais divisas.

A subida de taxas de juro agora realizada é a confirmação, na prática, de um recuo em toda a linha do Presidente Tayyip Erdogan na forma como tem decidido conduzir a política monetária do país. Na campanha eleitoral que o conduziu a mais um mandato na presidência, Erdogan já tinha assumido que a política de reduzir taxas de juro apesar da subida de inflação iria terminar. E o anúncio de que para ministro das Finanças e para governador do banco central seriam escolhidas duas figuras com grande credibilidade junto dos mercados financeiros tornou evidente que o recuo do Presidente era mesmo para se levar a sério.

Esta quarta-feira, Hafize Gaye Erkan, a nova governadora, não só elevou as taxas de juro como deixou claro que novas subidas nos próximos meses são muito prováveis. “O aperto da política monetária será tão reforçado quanto necessário, de uma forma atempada e gradual e até que uma melhoria significativa no cenário da inflação seja alcançada”, indica o comunicado publicado pelo banco central turco.

A expectativa média nos mercados neste momento é de que as taxas de juro na Turquia ainda possam subir até ao final deste ano até aos 30%, o dobro do seu valor actual.

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