Vinhos de Portugal no Brasil: saúde!, disseram mais de 11 mil pessoas

O maior evento de vinhos portugueses no Brasil levou mais de 80 produtores ao Rio e a São Paulo. A aposta é para continuar, garante a ViniPortugal.

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O evento divide-se entre as provas principais e conversas mais informais com críticos e produtores Ana Patrícia/inovafoto
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O interesse dos brasileiros pelo vinho português continua a aumentar WILLIAM LUCAS
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Momento de uma das provas conduzidas por críticos portugueses e brasileiros Ana Patricia/Inovafoto
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O evento atraiu 11 mil pessoas entre rio e São Paulo WILLIAM LUCAS?
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Carlos Eduardo Amaral avisa logo no início da conversa: “Vou emocionar-me”. Acaba de sair, junto com a mulher, Carolina, de uma prova sobre vinhos verdes que mostram potencial de longevidade, na quinta-feira, 15 de Junho, primeiro dos três dias do Vinhos de Portugal em São Paulo. “A minha família é toda de Portugal, de Viseu, região do Dão”, conta. “A minha mãe é portuguesa, veio para cá muito pequena, com quatro anos. Tenho uma relação muito emocional com Portugal. E o vinho foi uma paixão que o meu pai me apresentou desde que eu era jovem.”

Sabe muito sobre vinho português, sonhou até vir a ter um enoturismo em Portugal, por isso não podia perder aquele que é o maior evento de vinhos portugueses no Brasil, organizado pelos jornais PÚBLICO, O Globo e Valor Económico, em parceria com a ViniPortugal e curadoria da Out of Paper. Depois de três dias no Rio de Janeiro (entre 9 e 11), o evento, que junta mais de 80 produtores portugueses, críticos de Portugal e do Brasil e muitos convidados para conversas mais informais sobre vinho, rumou a São Paulo – e Cadu, como é conhecido, sendo um carioca a viver em SP, não o podia perder, tornando-se assim um dos 11 mil brasileiros que passaram pelo evento no conjunto das duas cidades.

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O décimo aniversário do evento foi marcado pelos Grandes Encontros: aqui, o crítico Jorge Lucki com João Roquette do Esporão Ana Patricia/inovafoto

Está a tentar convencer Carolina e irem a mais uma prova, a de vinho do Porto, que vai acontecer umas horas mais tarde, e, entretanto, comenta, entusiasmado, o que acabou de aprender: “O potencial de envelhecimento dos verdes é incrível. Impressionou-me muito também a diferença entre os diversos vales e, mesmo nos vales que seguem os rios, as diferenças dos microclimas. Isso ficou muito claro para mim porque a gente provou três vinhos da mesma safra [2012], fizemos uma horizontal de três produtores e eram vinhos completamente diferentes.”

Conta que vai assistir a uma prova com Luís Pato e, nesse exacto momento, Luís Pato aparece. “Você disse que é o maior produtor mundial de Sercialinho”, lança-lhe Cadu. “É verdade, e na minha prova vais provar o Sercialinho 2021”, responde-lhe o produtor. Cadu já sabe tudo: “E vai ter dois Vinha Pã, uma vertical de 2008 e 2018, não é?”. Pato aconselha-o a provar o Vinha Pã espumante e lançam-se numa conversa sobre castas, com o brasileiro a confessar que bebe muito Alvarinho, mas que está a descobrir o Loureiro, “que me surpreendeu demais”, e também o Avesso. Acompanha o trabalho que Anselmo Mendes faz na região, mas declara-se igualmente fã de Dirk Niepoort.

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O Grande Encontro com Dirk Niepoort foi um dos momentos altos do evento WILLIAM LUCAS/Inovafoto

Fãs de Dirk Niepoort são muitos – isso ficou claro na sala esgotada para o ouvir numa das conversas dos Grandes Encontros, uma das apostas da programação deste ano, marcando o décimo aniversário do evento. Numa prova inesquecível, Dirk esteve à conversa com o crítico brasileiro Jorge Lucki, e contou o seu percurso de vida, com muitas histórias, desde o primeiro vinho que fez e que o pai considerou “uma merda”, até à arriscada aposta no Coche, um vinho que continua a estar entre os seus favoritos, e passando pela descoberta da Bairrada e as dificuldades de as pessoas perceberem, por vezes, que o perfil de vinhos que mais lhe interessa actualmente tem a ver com a frescura e a pouca extracção.

Os Grandes Encontros abriram aos brasileiros as portas para o universo de cada enólogo ou produtor. No Rio, foi Fernando Guedes, da Sogrape, que contou histórias do Mateus Rosé ao Barca Velha, e em São Paulo, além de Dirk, Jorge Lucki convidou João Roquette do Esporão, que partilhou com a assistência uma história que liga a sua família ao Brasil. “Na sequência do 11 de Março de 75, o meu pai, que tinha ficado com a vida parada, sem nada, porque o Esporão, que já era dele, foi nacionalizado, achou que Portugal ia para uma espécie de ditadura de inspiração soviética e que, por isso, não era sítio para criar seis filhos. Viemos para o Brasil”, conta ao PÚBLICO, no final da prova.

O facto de o Esporão ser uma marca que é conhecida no Brasil há 25 anos criou uma relação especial – que, explicou João Roquette, começou com o azeite. O tio João, que se instalou no Brasil onde montou a importadora Qualimpor, “desafiou-nos a fazer um azeite, nós não sabíamos como se fazia e, por isso, foi a inovação pela ignorância”. Fizeram de forma semelhante ao vinho, arriscando nas monocastas. “Ainda me lembro das primeiras vezes que vim cá”, recorda João Roquette. “Vinha apresentar o vinho às pessoas e elas diziam que não sabiam que o Esporão fazia vinho, achavam que éramos produtor de azeite. E só no ano passado começámos a vender aqui mais vinho do que azeite.”

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No Salão de Degustação, 83 produtores portugueses deram a provar os seus vinhos WILLIAM LUCAS/Inovafoto

A ideia de fazer estas provas tão personalizadas, num modelo de conversa mais intimista, tem a ver com o aprofundar de uma relação com os consumidores brasileiros, explica Simone Duarte da Out of Paper, responsável pela curadoria do Vinhos de Portugal. “Um dos grandes objectivos era ser muito mais pessoal”, sublinha. “Claro que há os taninos, a complexidade do vinho, tudo isso, mas tem também a história por trás dessas garrafas. A maior parte das pessoas não as conhece e começam a beber de maneira diferente quando as descobrem. Só o enólogo ou o produtor consegue esse envolvimento.”

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o produtor do Douro Tiago Alves de Sousa durante uma prova Ana Patricia/inovafoto

Houve também um esforço para que este ano “as provas tivessem vinhos ainda mais especiais”, diz ainda Simone Duarte. “Temos, por exemplo, o Maria Teresa da Quinta do Crasto ou o Nica, que é super especial porque se faz muito pouco e reúne a família Roquette, ou o Barca Velha de 1999, que esteve na prova de Fernando Guedes no Rio." Foram momentos únicos que encantaram Cadu e os mais de 11 mil brasileiros que passaram pelo evento no Rio e em São Paulo.

O Vinhos de Portugal tem a participação do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, o apoio das Comissões Vitivinícolas do Alentejo, Lisboa, Dão, Tejo, Vinhos Verdes e Península de Setúbal, da Agência Regional de Promoção Turística Centro de Portugal e da TAP Air Portugal.

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O público encheu o evento, tanto no Rio como em São Paulo (na imagem) Ana Patricia/inovafoto
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