Asia Connection: o mundo asiático servido num gastrobar no Porto
Vamos das Filipinas à Índia, passamos pelo Japão, China e Coreia. O périplo pode variar, mas no novo Asia Connection é sempre sabor Oriente. E quando muda para bar, não é nada tímido na hora da dança.
Por cima da porta, mesmo na esquina arredondada da Rua da Fábrica com a Rua Conde de Vizela, ainda há vestígios do passado (Sindicato dos Bancário do Norte, lê-se, a ferro), mas no rés-do-chão o que se abre agora é uma ligação directa à Ásia. Através dos seus sabores: Asia Connection é um restaurante com o continente asiático à mesa. É também um bar que pisca o olho em direcção ao oriente. Os responsáveis chamam-lhe gastrobar, um local para vir “jantar e prolongar a noite. Ou vir só para o bar. Queremos que seja o mais democrático possível”, explica Miguel Camões.
Abre às 18h e é pouco depois dessa hora que entramos no espaço, marcado por janelas à laia de montra que são um miradouro para o vaivém de turistas que circula no centro do Porto; ainda não são 19h30 quando estes começam a entrar no Asia Connection — teremos por vizinhos um grupo de norte-americanos e outro de polacos. Nós já vamos com a nossa degustação adiantada, uma sucessão de pratos em que nos dispusemos nas mãos do chef. Sem arrependimentos.
Não há ortodoxia neste Asia Connection, onde se misturam influências de várias cozinhas asiáticas, da japonesa à chinesa, passando pela coreana e vietnamita, sem esquecer um cheirinho de Tailândia e até Filipinas. E não há pratos típicos asiáticos, “há pratos de criação do chef inspirados pela cozinha asiática”.
O chef no caso é João Pupo Lameiras, que elaborou a carta do restaurante que tem à frente da cozinha Vanessa Duarte. Diz Miguel Camões que era “a pessoa indicada para este conceito”, que faz parte de uma rede de espaços, todos aqui na órbita deste eixo Rua da Fábrica-Rua Cândido dos Reis, que parecem alinhar-se como o início de uma volta ao mundo gastronómica.
Afinal, já inclui a Vermuteria da Baixa, que namora com a ideia do tradicional aperitivo italiano (uma espécie de happy hour para horário pós-laboral), e o Zapata by Chacall, que dedica toda a atenção ao México.
Este mapa-múndi chega, então, desde o início de Abril, a uma Ásia que nos saúda com um mural em tons fortes onde se destaca um tigre (da Malásia). É da autoria de Fedor e é o ponto de cores mais explosivo na sala de pé direito quase interminável (tanto que dá para uma mezzanine de linhas sinuosas e ambiente mais intimista) e visual urbano-industrial, onde o metal e a madeira convivem e o cabedal vermelho (gasto) do sofá que acompanha uma das fachadas empresta um ar vintage q.b. — há mesas altas e mesas baixas, um balcão com tampo de mármore por detrás do qual se alinham garrafas, lâmpadas tamanho XL com luz amarela de outros tempos e uma cabina de DJ.
O nosso périplo oriental inicia-se líquido — com um Wabi Sabi (8€), um dos cocktails de assinatura da casa que, como não podia deixar de ser “têm inspiração asiática”, diz Rafael Faria, o chef de bar, com nomes a condizer. No caso, a inspiração vem da “filosofia zen budista em que se vê a beleza na imperfeição das coisas” e concretiza-se aqui numa combinação de sake, cordial de gengibre, puré de yuzo (uma fruta cítrica), sumo de limão e ar cítrico que na aparência até faz lembra o pisco sour (menos a angustura).
Este cocktail, um dos mais pedidos, vai acompanhar grande parte da nossa refeição. A carta no Asia Connection divide-se entre entradas, snacks, pratinhos, acompanhamentos e sobremesas - e, sendo possível fazer uma “refeição estruturada”, como refere Miguel Camões, aqui a prioridade é à partilha (mesmo nos menus especiais para grupos há “um ou dois mais interactivos”). Nós não sairemos dos snacks (e da sobremesa) e tão pouco necessitamos. Vieira e líchias (8,50€) é o nosso mergulho com inspiração filipina, um ceviche asiático em leite de coco salteado com caril vermelho tailandês e caju, servido na concha.
Avançamos para o Japão, com katsu sando de foie gras (10,5€): explica-nos a chef de sala, Sandra Freitas, que katsu sando é uma sanduíche tradicional japonesa que durante muitos anos foi pequeno-almoço, almoço, lanche das geishas (terá tido origem no bairro de Tóquio Ueno, onde muitas viviam e trabalhavam). A receita original é com porco panado, aqui é com foie gras panado — mesmo para quem, como nós, não aprecia o foie gras, é uma surpresa servida entre pão ligeiramente torrado.
O terceiro momento da degustação traz-nos um pouco da China, com um caldo trufado com jiaozi (guioza) de shiitake (9€) cozinhado ao vapor — nesta espécie de ramen, a massa finíssima e tenra a envolver os cogumelos teima em esgueirar-se entre os pauzinhos, o caldo é extremamente saboroso. Ainda damos um salto à Coreia, para provarmos o bao mantou (11€) de frango frito com couve e pepino (também os há de bacalhau fresco em tempura, de tofu caramelizado e de porco desfiado), já um clássico da casa, atrevemo-nos.
Outro cocktail se intromete, desta feita o Sasuga! (9,50€), “expressão japonesa para quando fazem algo de inesperado” (diríamos algo tipo “eureka!”), explica Rafael Faria: tem gin, cordial de jasmim, sumo de limão e kombucha. O sabor desta última, é o que mais se impõe, e para quem gosta de kombuchas estas são uma das apostas da casa. Fechamos a refeição com uma visita à Índia, com o kulfi (gelado muito típico no país, vendido por vendedores ambulantes nas ruas) de manga, pistácio e cardamomo — uma despedida fresca, mas com toda a mescla de sabores orientais que fazem o Asia Connection.
Não ficamos para assistir à transição do restaurante (que reserva, junto da cozinha, uma sala para grupos) para o “bar”, onde a oferta vai desde os tais cocktails de autor aos clássicos passando por todas as espirituosas, whisky e gin japoneses incluídos, como não podia deixar de ser (há ainda várias referências de sake, já passam as 30, e até sangria deste). E, a partir de certa hora, as mesas são arrumadas e os dancing shoes são bem-vindos - como se escreve a néon por trás da cabine do DJ, “Dance as you are”. A partir de Junho, com DJ sets (house e deep house) à sexta e sábado, dias em que o horário se estende até às 4h.