Mais Lisboa, menos ilhas: a I Liga vai dispensar os aviões

A distribuição das equipas da I Liga para 2023-24 traz novidades nos arquipélagos, mas pouca coisa nova no continente: o Norte, em geral, e o Minho, em particular, continuam em maioria no mapa.

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O Marítimo foi eliminado pelo Estrela da Amadora no play-off LUSA/HOMEM DE GOUVEIA
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Se o caos nos aeroportos precisar de uma ajuda, então a I Liga está a fazer o que pode, dentro das suas possibilidades. Para a temporada 2023-24 não deverão existir viagens de avião — pelo menos não obrigatórias. Pela primeira vez em 38 anos não haverá nenhuma equipa das ilhas no plantel do campeonato nacional de futebol, algo que deixará a “bola de primeira” reduzida às paredes do continente.

Porquê? Não há uma explicação clara e única, mas o ocaso dos insulares podendo não ter uma causa comum, tem, pelo menos, um forte ponto de contacto: tanto o Santa Clara (com Mário Silva, Jorge Simão e Daniel Accioly), como o Marítimo (com Vasco Seabra, João Henriques e José Gomes) se afundaram na temporada em que contaram com três treinadores. No caso dos verde-rubros, essa dinâmica já vem, de resto, como legado do período de liderança de Carlos Pereira, que terminou em 2021, e não se alterou na nova era

Esta queda para a II Liga, porém, está a ser digerida com dificuldade no Funchal e foi em lágrimas que o actual presidente do clube, Rui Fontes, abordou o tema numa declaração aos jornalistas: “Este é um dos dias mais triste da história do Marítimo, o primeiro em que muitos maritimistas acordaram sem o seu Marítimo na I Liga”, lamentou, adiantando que o rápido regresso ao primeiro escalão “é uma obrigação” e que já solicitou a convocação urgente de uma Assembleia Geral Extraordinária “com o objectivo de apresentar aos sócios o plano estratégico para o futuro imediato do clube”.

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A troca de treinadores não é necessariamente, porém, um sintoma de desnorte e muito menos um factor de insucesso. E o Farense está aí para o provar. Os algarvios regressam à I Liga numa temporada em que contaram com dois treinadores, depois da saída de Vasco Faísca numa fase em que a equipa somava duas derrotas e um empate. Acabou por ser José Mota a selar a subida, num final de temporada tremendo, com oito vitórias nos últimos oito jogos.

Feito o retrato geral, vamos ao detalhe. O desaparecimento das ilhas, espoletado pela queda do Marítimo no passado domingo, vem anexado ao reforço da Área Metropolitana de Lisboa, que há cinco anos que não contava com cinco equipas na esfera da capital — terá, a partir de Agosto, a presença do Estrela da Amadora, que se junta a Benfica, Sporting, Casa Pia e Estoril no principal escalão.

Entre 2013 e 2018, a região de Lisboa apresentou sempre cinco equipas — Benfica, Sporting, Belenenses, Estoril e V. Setúbal. Só agora as quedas na hierarquia das equipas do Sado e do Restelo estão a ser devidamente compensadas, com a nuance de o actual quinteto pertencer na totalidade ao mesmo distrito.

A força do Minho

Como habitualmente, a região Norte do país continua em clara maioria, representando mais de 60% do pelotão, com especial predominância para o Minho, que contribui com nada menos do que seis equipas para as 11 do bolo do Norte. E todas elas sob a jurisdição territorial de Braga: Sp. Braga, claro, Vitória SC, Moreirense, Gil Vicente, Vizela e Famalicão.

Na aritmética da região, de resto, não há qualquer diferença de uma temporada para a outra, já que entrou o Moreirense, após uma curta passagem pela II Liga, e saiu o Paços de Ferreira, que desde cedo deu sinais de irregularidade que acabaram por ser determinantes.

O que também se mantém no mapa de 2023-24 é o peso do interior. Em paragens mais profundas, concretamente em Trás-os-Montes, o Desp. Chaves é exemplar único, sendo igualmente o representante isolado do distrito de Vila Real, algo que acontece também com o Arouca em relação ao distrito de Aveiro.

Na região Sul, o Algarve volta a ter duas equipas entre a elite, depois de em 2021-21. Desta feita, a conjugação é possível graças à subida do Farense, que reeditará com o Portimonense uma rivalidade regional que, no principal escalão, já aconteceu em seis épocas (cinco delas na década de 1980).

Ainda que a I Liga deixe os aeroportos, a II divisão vai ter de os usar mais do que até aqui. Vai ter três equipas nas ilhas — Marítimo, Nacional e Santa Clara —, algo que não se via há cinco anos, quando União, Nacional e Santa Clara por lá andaram.

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