Ucrânia intensifica acções militares ofensivas em Zaporijjia

A contra-ofensiva há muito aguardada pode já estar em marcha, mas o silêncio de Kiev continua a ser (quase) total. O Presidente ucraniano foi a Kherson, onde houve bombardeamentos russos.

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Volodymyr Zelensky esteve em Kherson esta quinta-feira Reuters/STRINGER
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O silêncio é a principal arma da Ucrânia para a sua anunciada contra-ofensiva e de Kiev não é provável que saiam em breve anúncios ou confirmações oficiais. Mas as manobras militares ucranianas estão a intensificar-se no Sudeste do país e uma parte do equipamento fornecido pelos países ocidentais nos últimos meses já está a ser usado em combate.

Nos últimos dias as movimentações têm-se concentrado sobretudo na região de Zaporijjia, de que a Rússia controla uma grande parte, e onde a Ucrânia espera conseguir cortar a chamada “ponte terrestre” entre a Crimeia e o Donbass que é de vital importância logística para as forças russas. Ao mesmo tempo continuam os combates nos arredores de Bakhmut, onde a tropa ucraniana tem conseguido fazer alguns progressos.

A vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Hanna Maliar, disse no Telegram que estão a decorrer acções ofensivas perto das cidades de Orikhiv e de Velika Novosilka, que distam quase 100 quilómetros uma da outra, o que parece indicar que a tropa ucraniana quer atacar em várias frentes ao mesmo tempo para detectar vulnerabilidades na defesa russa.

Por seu turno, o Ministério da Defesa da Rússia comunicou que as forças ucranianas “tentaram quebrar as linhas defensivas” junto à localidade de Novodarivka, noutro ponto da frente. O organismo liderado por Serguei Shoigu afirmou que a tropa russa tinha conseguido impedir o progresso inimigo, infligindo-lhe “pesadas baixas” em homens e material.

Fontes russas divulgaram em canais de Telegram vídeos do que dizem ser ataques falhados ucranianos em várias zonas da frente. Neles é possível ver veículos blindados de produção americana e tanques alemães Leopard.

Nem avanços nem recuos de parte a parte se conseguem confirmar de forma independente neste momento.

“Tendo em conta as acções de ontem [quarta-feira] e os equipamentos ocidentais usados, parece que a contra-ofensiva ucraniana está em marcha”, disse ao Financial Times o analista americano Michael Kofman, um habitual comentador desta guerra, que no Twitter reiterou, como já tinha feito ao jornal inglês no dia anterior, que a destruição da barragem de Kakhovka, e subsequentes cheias, podem não ter impacto na estratégia militar ucraniana. “Uma travessia ucraniana do rio no Sul de Kherson, depois da barragem, sempre foi uma manobra arriscada e, por isso, pouco provável”, escreveu.

Fontes militares norte-americanas e ucranianas ouvidas pelo The Washington Post e pelo The New York Times dão como certo o início da contra-ofensiva ucraniana, cujo principal objectivo é recuperar o máximo de território possível aos russos. Ao longo dos 15 meses que a guerra já dura, a Ucrânia foi bem-sucedida em dois contra-ataques de grande monta, que lhe permitiram reconquistar uma parte significativa da região de Kharkiv e a cidade de Kherson.

Zelensky em Kherson

Em Kherson continuam as operações de resgate depois da destruição da barragem de Kakhovka, de onde a água ainda não parou de escoar. As autoridades ucranianas dizem ter socorrido perto de 2200 pessoas nas dezenas de localidades afectadas pelas inundações, mas pelo menos uma pessoa morreu em Vasilivka, já na região de Mikolaiv, devido às cheias num afluente do rio Dniepre.

A margem esquerda do rio, controlada pela Rússia, parece ter sido mais afectada, representando 68% de toda a área que está submersa, de acordo com o administrador da região militar de Kherson. As autoridades russas afirmam que cinco pessoas morreram em resultado das inundações.

Esta quinta-feira, a Ucrânia acusou a Rússia te ter disparado tiros de artilharia enquanto decorriam as evacuações em Kherson. Pelo menos uma pessoa morreu e quatro ficaram feridas em resultado desse ataque, segundo a procuradoria local. Também o governador nomeado por Moscovo para a parte da região ocupada pela Rússia acusou a Ucrânia de disparar sobre os socorristas e a população civil. Duas pessoas morreram e outras duas ficaram feridas, disse Vladimir Saldo.

À rádio 4 da BBC, a jornalista ucraniana Diana Butsko disse que há pessoas que vivem na zona ocupada que estão nos telhados das suas casas à espera de socorro. “Ninguém as vai salvar porque os russos as abandonaram e os ucranianos não conseguem chegar ali porque é muito perigoso”, afirmou.

Pela segunda vez desde a reconquista da cidade, em Novembro passado, o Presidente da Ucrânia esteve em Kherson na quinta-feira. “A nossa tarefa é proteger vidas e ajudar as pessoas o mais possível”, declarou Volodymyr Zelensky num comunicado. “É importante calcular os danos e alocar fundos para apoiar os residentes afectados pela catástrofe e desenvolver um programa para compensar as perdas ou relocalizar as empresas na região”, acrescentou.

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