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Após o trauma, um mergulho terapêutico na ilha de Creta
O artista visual grego Yorgos Yatromanolakis abandonou o rebuliço de Atenas e regressou ao local onde cresceu, a ilha de Creta. Um mergulho terapêutico na natureza fê-lo reencontrar-se.
Yorgos Yatromanolakis regressou à ilha de Creta dez anos após ter partido, na sequência de um episódio traumático que o marcou profundamente. Abandonou a azáfama da capital grega, onde mantinha uma vida social especialmente activa, e mergulhou num estado de solidão profunda, na ilha onde nasceu, rodeado apenas de mar e campo, em 2014. "Estava a passar um período negro", confessou ao P3 o artista visual grego. "Tinha perdido todo o sentido de identidade."
Em busca de si próprio, Yorgos entregou-se, ao longo de quatro anos, à passagem do tempo, ao autoconhecimento e à experimentação fotográfica. As imagens que realizou e que compõem o fotolivro The Splitting of the Chrysalis & the Slow Unfolding of the Wings (A Divisão da Crisálida e o Lento Desdobramento das Asas, em tradução livre) descrevem um processo de metamorfose "em direcção a uma nova realidade existencial", uma de maior maturidade.
"Em resposta a uma necessidade de calma interior, encontrei refúgio na deambulação pela natureza", recorda. "Através da fotografia, tive a oportunidade de, subconscientemente, assertivamente e quase psicanaliticamente, compreender os meus sentimentos e transformá-los em imagens. Todo esse processo teve um efeito terapêutico – fui capaz de reconectar-me comigo."
Parte das imagens realizadas por Yorgos Yatromanolakis estiveram, entre Janeiro e Março de 2023, em exposição na Galeria Adorna, no Porto. Estefânia R. de Almeida, a galerista e curadora da exposição intitulada O Tempo dos Outros, considera que a beleza e coerência estética das imagens convive com uma "camada incomodativa e surrealista" que é omnipresente. O jogo constante de escalas, a luz dura que ilumina cenários cuidadosamente orquestrados que parecem ter sido encontrados fortuitamente são marcas identitárias do trabalho do grego, que fotografa sempre de noite e em formato analógico. "Adoro experimentar com diferentes câmaras, objectivas e usar métodos de captura e edição variados", explicou o autor. "Também sinto grande prazer em trabalhar imagem em movimento e som e criar instalações audiovisuais."
Yorgos, que foi premiado no concurso de talentos da FOAM no ano de 2020 e que já expôs o seu trabalho em festivais como o PHotoEspaña, Circulation(s), ou em espaços como Aperture Gallery, em Nova Iorque, EUA, considera o fotolivro The Splitting of the Chrysalis & the Slow Unfolding of the Wings o resultado de um período de introspecção e reflexão que coincidiu com um período em que a Grécia esteve imersa numa "depressão política profunda", uma em que a sua geração "enfrentou uma estagnação económica e ideológica".
Os seus projectos anteriores, Roadblock no Normality e Not Provided, com enfoque, respectivamente, na crise económica grega e na realidade militar grega (o serviço militar continua a ser obrigatório no país e Yorgos teve de cumpri-lo), têm "a mesma abordagem" fotográfica, refere Yorgos. "Para mim, estes livros são livros de notas pessoais que marcam períodos curtos ou longos da minha vida. Sinto que tenho trabalhado num só livro toda a vida."