Príncipe Harry já concluiu depoimento no caso de escutas telefónicas

Foram quase oito horas de interrogatório, entre terça e quarta-feira, ao longo das quais, por vezes, o príncipe se manifestou hostil.

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Em resposta à sugestão de Green de que Harry queria ter sido uma vítima, o príncipe respondeu: “Ninguém quer ser vítima de pirataria telefónica” Reuters/HANNAH MCKAY

O príncipe Harry terminou de testemunhar no Tribunal Superior de Londres, nesta quarta-feira, após quase oito horas de interrogatório no âmbito do caso de escutas telefónicas contra um grupo editorial de tablóides britânicos.

Harry, o primeiro membro da realeza britânica a depor em tribunal em mais de 130 anos, foi interrogado pelo segundo dia sobre as suas alegações de que os tablóides utilizaram meios ilegais para o atingir desde criança.

Nesta quarta-feira, o príncipe mostrou-se mais hostil, envolvendo-se em trocas de palavras, por vezes, ríspidas, com Andrew Green, o advogado do Mirror Group Newspapers (MGN), a editora do Daily Mirror, do Sunday Mirror e do Sunday People, que ele e mais 100 pessoas estão a processar por alegados actos ilegais entre 1991 e 2011.

Harry, o quinto na linha de sucessão ao trono, mostrou-se emocionado no final do seu depoimento quando o seu advogado David Sherborne lhe perguntou qual era a sensação de responder a perguntas sobre as suas acusações em tribunal quando “os meios de comunicação social de todo o mundo estão a ver”.

Harry exalou profundamente e respondeu: “É muito pesado.”

Os advogados que representam Harry e os outros queixosos argumentam que os editores e executivos da MGN tinham conhecimento e aprovavam a pirataria aos telefones e a contratação de investigadores privados para obterem informações de forma enganosa.

No entanto, Green disse que não havia dados sobre o telemóvel que indicassem que Harry tinha sido vítima de interceptação telefónica e comparou o caso com uma investigação policial de 2005 que levou à condenação do antigo editor real do extinto jornal News of the World, de Rupert Murdoch.

“Se o tribunal concluísse que nunca foi vítima de pirataria por parte de nenhum jornalista da MGN, ficaria aliviado ou desiludido? perguntou Green ao príncipe.

Harry respondeu: “Isso seria especular... Creio que a pirataria telefónica era feita à escala industrial em pelo menos três dos jornais da altura e isso é indubitável.”

E continuou: “Ter uma decisão contra mim e contra quaisquer outras pessoas que venham atrás de mim com as suas reivindicações, dado que o Mirror Group aceitou a pirataria, ... Sim, sentir-me-ia um pouco injustiçado.”

Em resposta à sugestão de Green de que Harry queria ter sido uma vítima, o príncipe respondeu: “Ninguém quer ser vítima de pirataria telefónica.”

A última vez que um membro da realeza britânica foi interrogado em tribunal foi em 1891, quando o futuro Eduardo VII foi testemunha num julgamento por difamação.

Jornais dizem que “não há provas”

A MGN, agora propriedade da Reach, já admitiu anteriormente que os seus títulos estavam envolvidos em pirataria telefónica, ou seja, na intercepção ilegal de mensagens de voz, resolvendo mais de 600 queixas. Mas Green alegou que não havia provas de que Harry tivesse sido uma das vítimas, argumentando que algumas das informações pessoais provinham de assessores do Palácio de Buckingham.

Em referência a um artigo sobre o facto de não ter sido autorizado a regressar ao combate no Afeganistão, Harry disse: “É suspeito que tanta coisa seja atribuída a uma fonte real.”

No seu depoimento escrito de 50 páginas e durante o interrogatório, Harry afirmou que a imprensa tinha as mãos sujas de sangue, destruiu a sua adolescência, arruinou as relações com amigos e namoradas e semeou paranóia e desconfiança desde 1996, quando era estudante.

O príncipe quebrou também o protocolo real ao dizer que acreditava que o Governo britânico e os meios de comunicação social tinham atingido o “fundo do poço”, ao mesmo tempo que era clara a sua raiva perante as sugestões de que a sua mãe, a princesa Diana, tinha sido vítima de escutas telefónicas antes da sua morte em 1997.

Green, que descreveu algumas das alegações do príncipe como “especulação total”, questionou-o em pormenor sobre 33 artigos de jornal cujos detalhes Harry diz terem sido obtidos ilegalmente e muitos dos quais relacionados com a sua relação com a antiga namorada Chelsy Davy.

Harry afirmou que os pormenores íntimos relatados sobre a sua separação e as discussões sobre a sua visita a um clube de striptease tinham sido obtidos através de escutas telefónicas, enquanto Green sugeriu que estes tinham sido amplamente relatados anteriormente noutros locais.

“Este processo é tão angustiante para mim como para ela”, afirmou Harry.

No final de quase sete horas e meia de interrogatório, Green perguntou se o príncipe tinha a certeza de que o seu telemóvel tinha sido alvo de pirataria informática diária durante um período de 15 anos.

“Pode ter acontecido numa base diária, simplesmente não sei”, disse. Questionado sobre se havia alguma prova de que tinha sido pirateado, Harry respondeu: “Essa é parte da razão pela qual estou aqui.”