Juiz dos EUA quer dar resposta a queixas sobre visto do príncipe Harry

Revelações no livro de memórias levaram um grupo a questionar se o príncipe mentiu para obter o visto norte-americano. Agora, um juiz deu uma semana ao Governo para escolher revelar ou não o processo.

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Harry está, nesta semana, em Londres, Reino Unido EPA/ANDY RAIN
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Enquanto Harry está no Reino Unido a depor no âmbito de um megaprocesso contra o Mirror Group Newspapers (MGN), que reúne mais de cem personalidades contra o grupo editorial dos tablóides Daily Mirror, Sunday Mirror e Sunday People, nos EUA, o seu nome também está a ser tratado judicialmente, mas por razões completamente diferentes: um juiz federal deu ao Governo uma semana para decidir como responder a um grupo de reflexão de direita que alega que o príncipe poderá ter mentido sobre o uso de drogas no seu pedido de visto.

A Heritage Foundation (HF), um gabinete conservador norte-americano com influência significativa nas políticas públicas americanas, solicitou que o processo do visto do príncipe Harry seja divulgado, questionando se o britânico mentiu no formulário sobre o consumo de estupefacientes, que, entretanto, admitiu no seu livro de memórias.

O grupo de reflexão quer saber se o duque inglês admitiu o uso “múltiplo” de drogas, tendo submetido um pedido, ao abrigo da Lei de Liberdade de Informação, junto do Departamento de Segurança Interna, da Alfândega/Protecção de Fronteiras dos EUA e dos Serviços de Imigração de Cidadania dos EUA.

O caso foi debatido num tribunal em Washington, nesta terça-feira, com o advogado que representa a Heritage, Sam Dewey, a argumentar que o processo é maior do que um homem. “O que está verdadeiramente em causa neste caso é o DHS [Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos] e o cumprimento da lei por parte do DHS”, sublinhou, citado pelo The Guardian.

No livro Na Sombra, que só na primeira semana vendeu 3,2 milhões de exemplares em todo o mundo, assim como em várias entrevistas televisivas, o filho mais novo de Carlos e Diana admitiu ter consumido cocaína, marijuana e cogumelos mágicos, inclusive em períodos em que se encontrava de visita a território norte-americano.

Os formulários de pedido de visto para os EUA perguntam especificamente sobre o consumo presente e passado de drogas. E, embora não seja em todos os casos, um historial de consumo de drogas é habitualmente motivo para a recusa de um visto. Por isso, a HF apresenta dois cenários, nenhum benéfico para o monarca: ou Harry mentiu, o que pode ser motivo para ser deportado; ou os funcionários fronteiriços sabiam de tudo e atribuíram ao príncipe um tratamento especial por ser um membro da família real britânica e a sua mulher ser uma conhecida actriz — o que também viola a lei norte-americana, que prevê duras medidas para quem é apanhado a mentir na sua candidatura a um visto, que pode ir da recusa da cidadania à deportação imediata.

De acordo com o The Guardian, Nile Gardiner, que foi assessor da primeira-ministra britânica Margaret Thatcher e trabalha como analista de política externa da Heritage Foundation, disse aos jornalistas na terça-feira: “Um factor-chave aqui foi o livro de memórias do príncipe Harry e as suas revelações sobre o seu próprio consumo de drogas. Ele pôs tudo cá fora.”

Mas o Departamento de Segurança Interna tem vindo a alegar a confidencialidade do processo. O advogado do DHS, John Bardo, avaliou que “o queixoso não tem direito a quaisquer registos”, uma vez que “o estatuto do visto de uma pessoa é confidencial."

Mas o juiz Carl Nichols deu ao DHS até 13 de Junho para responder se vai dar acesso ao processo ou não. Se o DHS recusar, Nichols poderá decidir se é do interesse público disponibilizar os documentos de imigração.

Harry e as drogas

O uso de estupefacientes é abordado em várias passagens do livro de memórias do príncipe Harry, lançado em Janeiro. Sobre o consumo de cocaína, Harry refere ter tido a primeira experiência aos 17 anos, acrescentando que consumiu “mais algumas linhas” em situações que descreve como sociais.

O duque também recorda a vez em que, numa festa na casa da actriz Courteney Cox, tornada famosa com a série Friends, consumiu cogumelos mágicos — o que o fez conversar com um balde do lixo e uma sanita.

Já sobre a ayahuasca psicadélica, Harry garantiu ter-se tratado de uma experiência positiva. Relatou o príncipe: “Sob a influência dessas substâncias, eu era capaz de me livrar de rígidas ideias preconcebidas, ver que havia outro mundo além dos meus sentidos fortemente filtrados, um mundo igualmente real e duplamente belo — um mundo sem névoas vermelhas, sem motivo para névoas vermelhas. Havia somente a verdade.” E, numa entrevista cedida ao terapeuta Gabor Maté, um defensor da despenalização de drogas, o duque assumiu que a marijuana “realmente” o ajudou.

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