Profissionais querem melhores condições de trabalho e um instituto que apoie o cinema

Encontro reúne ainda hoje no Porto profissionais do sector. Debate de ontem no Batalha resultou num longo caderno de reivindicações.

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O encontro decorreu no renovado Cinema Batalha Anna Costa

Produtores, realizadores, argumentistas e técnicos, reunidos terça-feira em debate no Porto, concordaram que o sector deixe de ser precário e que o Instituto do Cinema e do Audiovisual seja mais do que um "guichet de atribuição de dinheiro".

Nos "Novos Encontros do Cinema Português", que o Batalha - Centro de Cinema acolhe também esta quarta-feira, no Porto, houve um debate sobre produção de cinema que juntou sete associações de produtores, argumentistas, realizadores e técnicos.

Nas três horas do debate de ontem, em que cada associação acabou por elencar praticamente um caderno de reivindicações e problemas da sua área de intervenção, muitos dos intervenientes, incluindo os que estiveram na plateia, sublinharam a importância de um organismo, como o Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), que defenda o cinema.

João Matos, da produtora Terratreme, e Luís Urbano, da O Som e a Fúria, consideraram que o ICA tem responsabilidades de definir as políticas públicas de cinema, enquanto o produtor Rodrigo Areias, da Bando À Parte, disse que aquele instituto deve defender o cinema português e a sua pluralidade na indústria audiovisual.

Ainda assim, dada a legislação do sector, os processos burocráticos dos concursos de apoio e o crescente volume de produção, por via da criação do Fundo de Apoio ao Turismo e ao Cinema, o ICA "neste momento é uma parede burocrática com um guichet", disse João Matos.

"Não recebemos do lado de lá a compreensão de como deve ser feito cinema", continuou, corroborado pelo produtor Pedro Borges, da Midas Filmes, que questionou "a falta de transparência" da tutela em tornar públicas as orientações para o próximo plano estratégico para o sector.

"Os institutos públicos financiam cinema e têm que defender o cinema nacional contra as hegemonias das narrativas e dos mercados que nós não podemos contrapor. Existem para financiar. Não é um subsídio nem um favor; é uma sobrevivência da nossa pluralidade como cultura. O capital do cinema não é apenas financeiro", disse a realizadora Mariana Gaivão.

Num debate moderado pela investigadora Mariana Liz, Jorge Costa, da Associação Portuguesa de Técnicos de Audiovisual, lembrou a precariedade e invisibilidade dos técnicos que trabalham nas produções de cinema e audiovisual, e pediu a criação de "um acordo colectivo de trabalho adequado ao sector".

Num tempo de "transformação" no cinema e no audiovisual, como referiu o produtor Fernando Vendrell, ficaram por discutir, como sublinharam alguns profissionais na plateia, questões que são transversais à actualidade: a igualdade de género, a representatividade de pessoas racializadas e de outras etnias, e a sustentabilidade ambiental do sector.

Os "Novos Encontros do Cinema Português", de onde serão produzidas e divulgadas conclusões, são uma iniciativa do Batalha -- Centro de Cinema, do Clube Português de Cinema - Cineclube do Porto e da Fundação Calouste Gulbenkian.

A iniciativa acontece 56 anos depois de as mesmas entidades terem organizado, em 1967, a Semana de Estudos Sobre o Novo Cinema Português.