Harry é o primeiro membro da realeza britânica a testemunhar em tribunal, em 130 anos

Espera-se que o duque de Sussex marque presença no Supremo Tribunal de Londres esta segunda-feira, no julgamento contra o Mirror Group Newspapers, que acusa de obter informações ilegalmente.

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Harry no Supremo Tribunal de Londres em Março Reuters/TOBY MELVILLE

O príncipe Harry tornar-se-á o primeiro membro da realeza britânica a testemunhar em tribunal em 130 anos, quando marcar presença, nesta segunda-feira, no julgamento do processo contra um grupo de jornais. O duque de Sussex e mais de 100 celebridades acusam o Mirror Group Newspapers (MGN) de comportamentos ilegais na prática jornalística.

Harry, o filho mais novo de Carlos III, irá sentar-se no banco das testemunhas no Supremo Tribunal de Londres, no âmbito do processo que tem envolvido, no último mês, o grupo Reach, editor de títulos como o Daily Mirror, Sunday Mirror e Sunday People.

Será a primeira vez que um membro sénior da família real britânica — ainda que o duque já não tenha deveres reais desde 2020 — presta depoimento, desde que Eduardo VII depôs como testemunha num processo de divórcio em 1870. Vinte anos mais tarde, num processo de difamação sobre um jogo de cartas, o mesmo soberano voltou à casa da justiça, ainda que ambos os casos tenham acontecido antes de se tornar rei.

O duque de Sussex, o quinto na linha de sucessão ao trono, tem feito manchetes na imprensa britânica quase diariamente, nos últimos seis meses, devido não só às suas disputas legais com a imprensa britânica, mas sobretudo fruto do lançamento do livro de memórias, Na Sombra, e da série documental da Netflix, onde acusou outros membros da realeza de conluio com tablóides. Espera-se que a sua comparência em tribunal atraia a mesma atenção mediática.

David Yelland, conselheiro sénior de comunicação e antigo editor do tablóide Sun de Rupert Murdoch — uma publicação que Harry também está a processar — lembrou que a família real há muito que procurava evitar processos judiciais, porque não tem controlo sob este tipo de situação. "Estes casos são, frequentemente, um caso de destruição mútua. Ninguém vai sair bem.”

São mais de 100 pessoas a processar a MGN, mas só Harry e outras três foram seleccionados para testemunhar.

No julgamento, que teve início a 10 de Maio, os jornalistas da MGN ou investigadores privados por eles contratados foram acusados de realizar escutas telefónicas a uma "escala industrial" e cometerem outros actos ilegais para obter informações sobre o príncipe e os outros queixosos.

As ilegalidades terão acontecido com o conhecimento e a aprovação de editores e executivos seniores, defendeu o advogado dos queixosos, David Sherborne. A MGN contesta as alegações e garante que todas as figuras de topo negam ter conhecimento de qualquer acto de pirataria informática. Todas as irregularidades, declaram, foram ocultadas das chefias.

“A derradeira entrevista”

Em tribunal, um jornalista e biógrafo de Harry disse que um dos executivos com conhecimento da pirataria informática era o antigo editor Piers Morgan, actualmente um dos apresentadores britânicos com maior visibilidade e um crítico assumido do príncipe e da sua mulher, Meghan.

Morgan, que negou qualquer envolvimento em comportamentos ilícitos e acusou o próprio Harry de invadir a privacidade da sua família, demitiu-se de apresentador de um programa da manhã na televisão, na sequência de ter feito comentários sobre Meghan.

"É difícil não cair na tentação de pensar que ele está a usar os tribunais, porque sabe que, quando estiver sentado no banco das testemunhas, acreditarão nele", opina David Yelland. "É a derradeira entrevista feita por um advogado hostil no banco das testemunhas.”

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Harry a sair do Supremo Tribunal de Londres, em Março HENRY NICHOLLS/Reuters

No início do julgamento, a MGN, agora propriedade da Reach, pediu desculpa nos documentos do tribunal e admitiu que, numa só ocasião, o Sunday People tinha obtido informações ilegalmente sobre Harry e que o príncipe tem direito a uma indemnização.

Contudo, rejeitaram todas as outras alegações, dizendo que não tinha provas das afirmações de Harry. Em vez disso, é provável que o Palácio de Buckingham apareça de forma proeminente no contra-interrogatório, com a MGN a argumentar que algumas informações tenham vindo de assessores reais.

Os documentos da MGN alegam que uma das histórias sobre Harry surgiu depois do antigo secretário particular adjunto do então príncipe Carlos e Piers Morgan partilharem "refeições regulares e bebidas”.

O próprio Harry acusou a família e os seus assessores de serem cúmplices na fuga de informações negativas para proteger ou melhorar as reputações dos membros seniores. O Palácio de Buckingham nunca respondeu a esta acusação.

Esta segunda-feira assinala-se a segunda vez este ano que Harry comparece no Supremo Tribunal de Londres, depois de, em Março, se ter juntado ao cantor Elton John e a outros para audiências sobre o processo contra a editora dos tablóides Daily e Sunday Mail.