Cantora Sia revela ser autista: “Só nos últimos dois anos consegui ser eu mesma”

A artista foi alvo de críticas há dois anos, quando escolheu uma actriz não autista para protagonizar o filme Music, sobre uma adolescente com perturbação do espectro do autismo.

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Sia ficou conhecido por raramente mostrar o rosto Danny Moloshok/Reuters
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Dois anos depois da polémica com filme Music, sobre uma adolescente autista, a cantora Sia revelou ter sido diagnosticada com perturbação do espectro do autismo. O diagnóstico, contou num episódio de Rob Has a Podcast, trouxe-lhe uma sensação de alívio, permitindo, finalmente, ser quem é sem amarras. “Senti que, durante 45 anos, estava sempre a pensar ‘tenho de vestir o meu fato de humana’”, confessou.

A cantora de 47 anos, conhecida por êxitos como Chandelier ou Titanium, aproveitou a oportunidade para também falar sobre o seu passado com o alcoolismo. “Ninguém pode saber aquilo por que estamos a passar e amar-nos quando estamos cheios de segredos e a viver na vergonha”, declarou. Ter a oportunidade de falar com estranhos sobre a dependência do álcool, contou, permitiu-lhe não se sentir “como um pedaço de lixo pela primeira vez”.

Poder falar sobre o autismo faz parte dessa caminhada para ser ela própria, sem receios, salientou, contando estar em recuperação com terapia. "Só nos últimos dois anos consegui ser eu mesma." Deu a entender que o diagnóstico é recente, precisamente na sequência da polémica com o filme Music, realizado pela artista. A história versava sobre uma mulher que se torna cuidadora da irmã, uma adolescente com autismo profundo.

Para interpretar a protagonista autista, a cantora escolheu a actriz Maddie Ziegler, que não está no espectro do autismo. O filme, apesar de ter sido nomeado para dois Globos de Ouro, foi fortemente criticado por uma cena em que a adolescente é segurada numa posição de contenção de cabeça para baixo durante uma crise — posição que pode levar à morte por sufocação.

Sia não tardaria a reagir com um pedido de desculpas, apesar de garantir que tinha baseado o filme nas experiências de “um amigo” com autismo. “Pretendo remover as cenas de contenção de todas as futuras exibições. Dei ouvidos às pessoas erradas e isso é minha responsabilidade, a minha pesquisa não foi suficientemente completa”, escreveu então no Twitter, antes de apagar a conta naquela rede social.

Durante vários anos, a cantora foi conhecida por não mostrar o rosto em público, escondendo-o com grandes perucas. A decisão, explicava então, devia-se ao facto de querer manter a privacidade, ao mesmo tempo que criava algum mistério à volta da sua imagem. Em 2016, o rosto da artista foi revelado, de forma acidental, durante um concerto, e desde daí tem aparecido frequentemente em público sem a peruca.

De acordo com o especialista em genética médica e neurologia pediátrica Miguel Leão, o espectro do autismo caracteriza-se por “limitações significativas de comunicação em sociedade, ao nível da expressão e compreensão da linguagem, e comportamentos ou interesses repetitivos ou restritos”. Ainda que Sia conte ter sido diagnosticada aos 45 anos, o diagnóstico é mais comum nos primeiros dois anos de vida — afectando 1% a 2 % das crianças, sobretudo rapazes.

A Associação Portuguesa Voz do Autista queixa-se da falta de representatividade, sobretudo em áreas como o cinema, fazendo eco das críticas ao filme Music. “Nunca ninguém poderá fazer um papel de autista tão bem como um autista. Esta ideia de fazer algo sobre a comunidade, mas não incluir a comunidade, tem de acabar. ‘Nada sobre nós sem nós.’ Precisamos de alguém que seja autista para conseguir passar as subtilezas do que é ser autista”, escrevia a presidente Sara Rocha, no PÚBLICO, em 2021, a propósito do lançamento da associação.

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