Rosa Grilo confessa homicídio do marido cinco anos depois: “Fiz dois disparos”

“Vi a arma, fui ao quarto e fiz dois disparos sobre o Luís. Não estava num estado emocional racional”, relatou nesta terça-feira no tribunal Rosa Grilo, já condenada a 25 anos de prisão por homicídio.

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Rosa Grilo foi condenada a 15 anos de prisão pelo homicídio do marido ANTÓNIO PEDRO SANTOS
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Quase cinco anos depois do homicídio do triatleta e empresário Luís Grilo, a viúva Rosa Grilo confessou, nesta terça-feira, no Tribunal de Vila Franca de Xira, que foi a autora dos dois disparos que vitimaram o marido. Rosa Grilo assumiu pela primeira vez a responsabilidade pelo crime, justificando-o com os desentendimentos constantes e com as alegadas ameaças de Luís Grilo. Afirmou, também, que no julgamento não confessou estes factos e apresentou um relato completamente diferente porque essa era a estratégia da sua defesa.

Condenada em Março de 2021 pelo Tribunal de Loures a uma pena de 25 anos de prisão efectiva pelo homicídio do marido, Rosa Grilo foi, agora, chamada a depor como testemunha num julgamento em que a sua antiga advogada (Tânia Reis) e o seu antigo consultor forense (João Sousa) estão acusados da prática de um crime de favorecimento pessoal pela alegada “plantação de provas” na moradia do casal Grilo. Em causa está um orifício de bala na banheira do piso superior da moradia, que a PJ não detectou, mas que Tânia Reis e João Sousa denunciaram publicamente já em Fevereiro de 2019, cinco meses depois da detenção de Rosa Grilo.

Advogada e consultor afirmam que foi Rosa Grilo a contar-lhes que experimentara a arma do crime na banheira antes de a utilizar contra o marido. Mas o Ministério Público manteve que o orifício não foi detectado nas buscas que se seguiram ao homicídio e ao desaparecimento do corpo de Luís Grilo e que teria sido “plantado” depois.

Este julgamento decorre desde Outubro e os advogados de defesa requereram a audição de Rosa Grilo, que decorreu durante boa parte da tarde desta terça-feira. “Quando fui buscar a arma a casa do António Joaquim [antigo amante de Rosa Grilo] não tinha intenção nenhuma de disparar sobre o meu marido. Fui buscar a arma numa fase muito complicada no meu casamento. Ele [marido] ameaçava-me constantemente. Nas últimas semanas começou mesmo a ameaçar-me de morte. Estávamos numa fase de ruptura e comecei a ter medo. Por isso fui buscar a arma”, justificou Rosa Grilo. “Na altura não era para lhe fazer mal, mas para me defender”, afiançou.

A mulher – que está a cumprir pena no Estabelecimento Prisional de Tires depois da condenação do Tribunal de Loures – acrescentou que, ao contrário do que disse em Loures, sabia manejar armas e resolveu experimentar a pistola, primeiro na garagem e, depois, na banheira.

Segundo referiu, isso aconteceu cerca de duas semanas antes do homicídio, e António Joaquim nunca terá sabido que ela tinha a arma na sua posse. Questionada por Miguel Santos Pereira, advogado que representa João Sousa, Rosa Grilo acrescentou que a sua relação com o marido continuou a degradar-se até que, na noite de 14 de Julho de 2018, resolveu utilizar seis comprimidos calmantes que colocou no jantar de Luís Grilo para que entrasse num sono profundo.

Dormiram e, na manhã seguinte, referiu, foi à garagem, viu onde tinha a arma escondida e veio-lhe à cabeça a possibilidade de disparar sobre o marido. “Nessa noite tivemos um desentendimento muito grande e decidi que tinha de pôr termo àquilo. Adormecemos. Na manhã seguinte ainda pensei em fugir. Mas vi a arma, fui ao quarto e fiz dois disparos sobre o Luís. Não estava num estado emocional racional”, observou, explicando que um dos tiros atingiu o colchão e outro a cabeça de Luís Grilo.

Rosa Grilo afirmou, e repetiu, que nessa altura só estavam os dois em casa. Mas, a dada altura, todos ouviram na sessão desta terça-feira a testemunha (viúva) afirmar que “ele estava de costas para nós”. A juíza Catarina Batista insistiu para que esclarecesse quem eram estes “nós”. Rosa Grilo afiançou que disse o marido estava deitado de costas para a porta e não para “nós”.

Certo é que a viúva explicou, depois, todos os passos de um caso muito intrincado. Diz que durante duas horas não conseguiu entrar no quarto, que depois decidiu ir a casa de António Joaquim para voltar a guardar a arma no sítio de onde a retirara e que pelo caminho comprou água oxigenada para limpar a pistola e o quarto, onde havia sangue do marido no chão e no colchão.

Depois, disse, enrolou o corpo em roupa e atou os pés de Luís Grilo com uma corda, que puxou escadas abaixo até à garagem, onde tapou o cadáver com lenha. Resolveu, então, montar uma “história” e foi à GNR da Castanheira do Ribatejo participar o desaparecimento do marido. Aí sugeriram-lhe que contactasse todos os conhecidos e terá começado a perder o “controlo” da situação, porque pouco mais de uma hora depois já muita gente passava pela sua casa para tentar saber mais e ajudar nas buscas do “desaparecido”.

Nessa altura, admitiu, o corpo ainda estava escondido na garagem. Já na noite de 16 para 17 de Julho de 2018, percebendo que tinha de se livrar do corpo e da bicicleta de Luís Grilo (relatara que ele saíra para um treino), viajou até ao Alto Alentejo, largando o corpo numa zona erma do concelho de Avis, onde foi descoberto mês e meio depois, e a bicicleta no Açude do Furadouro.

Rosa Grilo garantiu, também, que foi ela quem relatou a Tânia Reis e a João Sousa que tinha feito o orifício na banheira e que o tapara com silicone. O julgamento da advogada e do consultor prossegue em Junho com as alegações finais.

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