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Simão criou Symone de Lá Dragma, alter-ego drag, “em busca de aceitação”
Simão Telles, fã de Simone de Oliveira, dá corpo a Symone de Lá Dragma desde 2015 — e é a sua avó quem, a partir de Santarém, lhe costura os vestidos.
O fotógrafo Bruno Saavedra conta que Simão Telles, “ou Symone, tanto faz”, parece “uma estrela saída de um filme das décadas de glória de Hollywood” quando passa nas ruas de Lisboa. Certo é que “nunca passa despercebido”, garante. Foi a admiração que sente pela cantora portuguesa Simone de Oliveira que levou Simão, nascido e criado em Pontével, no concelho do Cartaxo, Santarém, a criar uma personagem drag que encarna em espectáculos musicais ou performativos desde 2015.
O projecto Quando o Vi Dançar pela Última Vez nasceu em Novembro de 2022, quando Bruno frequentou a masterclass da Narrativa, workshop de fotografia orientado pelo fotojornalista Mário Cruz. “Nessa altura, passei muitos dias com o Simão e com a sua família, entre Pontével e Lisboa”, conta ao P3, em entrevista telefónica, o fotógrafo natural da Bahia, no Brasil, que reside em Portugal há 19 anos.
“Simão é uma pessoa queer e, à semelhança de outras pessoas da comunidade LGBTQI+, foi vítima de preconceito durante toda a adolescência, sobretudo na escola”, conta Bruno. “Sempre foi uma pessoa excêntrica e por isso foi mesmo vítima de bullying.” Se dentro dos portões da escola, Simão tinha uma vida difícil, em casa a realidade era outra. “Por incrível que pareça, a família sempre o aceitou muito bem.” Tão bem que é a avó que, apesar da idade, ainda hoje é responsável pela costura dos vestidos que Symone usa durante as suas performances artísticas.
Com o passar dos meses, Bruno compreendeu que o cantor e actor Simão Telles, hoje com 25 anos, procurava “um grande amor”. “Percebi que o que ele buscava, no fundo, era amor-próprio”, reflecte Bruno. “Simão criou esta persona drag em busca de aceitação. E hoje, quanto mais aceite se sente, mais vontade tem de apagar a Symone.”
Ao longo dos últimos anos, o artista participou no programa The Voice Portugal e no projecto Fado Bicha. “Não parece uma pessoa deste tempo”, observa. “Ele veste-se como se vivesse nos anos 1950, o quarto dele tem mobílias e objectos dessa época. Ele costuma dizer que não pertence a este mundo, mas a outro que já não existe. Tem uma enorme sensibilidade emocional e artística”, diz o fotógrafo.
O projecto de Saavedra, ex-aluno da escola Restart e autor de vários fotolivros e com inúmeras exposições no currículo, esteve em exposição no espaço Narrativa em conjunto com os demais projectos desenvolvidos ao abrigo da masterclass. “Pretendo, dentro de dez anos, tornar a documentar o quotidiano do Simão”, conclui o fotógrafo.