Racismo contra Vinícius Jr.: “O meu filho de 5 anos perguntou o que se passa e eu não sei responder”

Empresário brasileiro, que vive ao lado do estádio em Valência, relata o que viu, ouviu e sentiu quando Vinícius Júnior foi alvo de insultos racistas no estádio Mestalla.

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Vinícius Júnior joga como extremo esquerdo pelo Real Madrid Reuters/PABLO MORANO
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O empresário brasileiro André Zimmermann vive há cinco anos a menos de 500 metros do estádio Mestalla, em Valência, onde aconteceu, neste domingo, o jogo em que Vinícius Júnior​, o brasileiro que joga como extremo esquerdo pelo Real Madrid, foi atacado pela claque da equipa da cidade, com ofensas verbais e gestos racistas.

Zimmermann assistia à partida pela TV com seu filho de 5 anos, mas conseguia ouvir os gritos dos adeptos pela janela, devido à proximidade do estádio. Quando o jogo foi interrompido, o seu filho perguntou-lhe do que se tratava. Ele não soube responder. Na manhã desta segunda, o brasileiro publicou um comovente relato na sua página no Facebook.

Abaixo, o seu depoimento:

“Hoje essa história foi o assunto da cidade. Levei o meu filho à escola de manhã e todos os pais estavam lamentando o acontecido. No elevador aqui do prédio, a mesma coisa, todo o mundo lamentando. Todos que moram aqui conseguem ouvir as claques no estádio. É normal.

O que me entristece é que Valência, na verdade, tem um histórico de acolhimento. Quando cheguei à cidade, em 2018, havia um barco de refugiados que havia sido recusado por várias cidades. A comunidade aqui se mobilizou para recebê-los. Valência é acolhedora. Aberta, amigável.

Foi por isso que escrevei esse relato no Facebook:

Escolhi a cidade de Valência para morar e quero ficar aqui para sempre. Aqui somos felizes, eu e a minha família nos sentimos bem, nos sentimos acolhidos, gostamos das pessoas, das tradições, do ambiente.

Mas, ontem, durante a partida entre Valência e Madrid, enquanto eu ouvia da minha casa, que fica ao lado do Mestalla, a claque gritando “Mono, mono” para Vinícius Jr., isso me deu uma sensação muito ruim, fiquei triste, eu não queria estar aqui.

Estávamos a assistir o jogo na TV e o meu filho de 5 anos me perguntou o que se passava, pois eles não estavam mais jogando futebol, e eu não sabia o que responder.

Por que eles deixam o futebol de lado e fazem esse tipo de coisa com uma pessoa? Por que todos os dias, em todos os jogos, em diferentes partes da Espanha, continuam a insultá-lo com cânticos racistas e ninguém faz nada, nem a La Liga, nem a sua próprio equipa, nem a imprensa, nem o povo.

Alguns tentam diminuir o que acontece, dizendo que são alguns idiotas que fazem isso. Não é verdade. Ontem, da minha sala, ouvi gritos de muita gente, de grande parte da torcida.

Outros tentam justificar a atitude, dizendo que Vinicius provoca os adeptos. É daí que tiro as palavras de Jürgen Klopp [treinador do Liverpool], que no outro dia, ao ser questionado sobre o assunto, respondeu de forma directa e precisa: “Não há nada que justifique o racismo”. Nada. E ponto.

Sei que o mundo está cheio de coisas ruins e tristes, mas tenho a ilusão de poder criar meu filho num lugar onde haja o mínimo de respeito pelo ser humano, onde o racismo ou a discriminação não seja tolerado. Onde os que o cometeram sejam punidos de forma exemplar, seja na rua, numa empresa ou num campo de futebol.

E para que as pessoas que são racistas tenham medo de sê-lo e de sair por aí se expressando livremente.”


Exclusivo PÚBLICO/Folha de S.Paulo
Nota: o PÚBLICO respeitou a composição do texto original, com excepção de algumas palavras ou expressões não usadas em português de Portugal.

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