Vinícius Júnior em guerra com o campeonato “dos racistas”

Alvo de insultos por adeptos do Valência no estádio Mestalla, o brasileiro entrou em confronto com Javier Tebas, presidente da Liga espanhola.

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Vinícius Júnior a reagir aos insultos racistas em Valência Reuters/PABLO MORANO
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Não é apenas mais um capítulo na já longa história de comportamentos racistas no desporto e, em Espanha, está a ganhar proporções de grandes dimensões, motivando a abertura de um processo da justiça espanhola por “alegado crime de ódio”. A deslocação do Real Madrid a Valência terminou em mais uma derrota dos madridistas, mas, acima de tudo, na revolta de Vinícius Júnior, alvo de insultos por adeptos valencianos no Mestalla. O internacional brasileiro, que acabou expulso, foi contundente na reacção, dizendo que “o campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas”.

As reacções de solidariedade sucedem-se dos mais variados quadrantes no apoio a Vinícius Júnior - FIFA, Real Madrid, Federação Espanhola de Futebol, presidência do Brasil, entre muitos outros -, mas Javier Tebas, presidente da La Liga, colocou-se no “olho do furacão”, após criticar a atitude do brasileiro.

Expulso nos instantes finais da partida no Mestalla, já depois de ter ameaçado abandonar a partida perto do minuto 70 devido aos insultos racistas de que estava a ser alvo, Vinícius Júnior disparou no final do encontro, colocando no seu ponto de mira o país e o campeonato em que joga: “Não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O racismo é o normal na La Liga. A competição acha normal, a federação também e os adversários incentivam. Lamento muito. O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi, hoje é dos racistas. Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista. Lamento pelos espanhóis que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas.”

As palavras duras do internacional brasileiro motivaram uma reacção de Javier Tebas, que apenas serviu para colocar mais achas na fogueira. No Twitter, poucos minutos depois de Vinícius Júnior divulgar o seu lamento, o presidente da La Liga dirigiu-se de forma crítica ao extremo do Real Madrid: “Já que aqueles que deveriam não te explicam o que é que La Liga pode fazer nos casos de racismo, tentamos nós explicar-te, mas não te apresentaste em nenhuma das datas combinadas. Antes de criticar e injuriar a La Liga, é necessário informar-se adequadamente, Vini Jr. Não se deixe manipular e tenha certeza de entender as competências de cada um e o trabalho que temos feito juntos.”

A publicação de Tebas motivou nova reacção de Vinícius – “Omitir-se só faz com que você se iguale a racistas. Não sou seu amigo para conversar sobre racismo” -, e Luis Rubiales, dirigente máximo da Federação Espanhola de Futebol, colocou-se ao lado do jogador: “Quero pedir-lhe que ignore, por favor, o comportamento irresponsável do presidente da La Liga, que entra nas redes sociais num bate-boca com um futebolista que horas antes recebeu insultos racistas graves. Nós, directores, não existimos para isso, mas sim para solucionar problemas.”

No meio deste turbilhão, a justiça espanhola anunciou a abertura de uma investigação e, de acordo com a Procuradoria do Ministério Público de Valência, em causa está um “alegado crime de ódio”.

O Real Madrid, já depois de o presidente da FIFA, Gianni Infantino, ter expressado solidariedade do organismo para com o jogador, “manifestou o seu mais veemente repúdio” por terem ocorrido “factos que constituem um ataque directo ao modelo de convivência” do “Estado social e democrático de direito”.

Um dos últimos a tomar posição perante toda esta polémica foi o Valência. O clube que jogava em casa, podendo assim serem-lhe imputadas responsabilidades, condenou “veementemente” o comportamento dos próprios adeptos.

Em comunicado, o clube “che” garante que “a polícia identificou um adepto que fez gestos racistas contra Vinícius Júnior” e que “está também a trabalhar com a polícia para confirmar a identidade de quaisquer outros potenciais criminosos”, prometendo “aplicar a máxima severidade contra os envolvidos” e “expulsando-os do estádio para sempre”.

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