Os jovens idealistas estão em perigo de extinção

É assim que, aos olhos dos jovens desencantados, a vontade de resolver os problemas é cada vez menos. Porque fazer evoluir um país deve ser a primeira preocupação da classe jovem.

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Tenho 16 anos e sou estudante do ensino secundário. Sou frequentemente apelidada pelos meus colegas de idealista. Costumo dizer que, se ainda nem duas décadas vivi, não posso ser de outra maneira. Os jovens, na sua generalidade, são irremediáveis idealistas, acrescento. Mas estou, infeliz e terrivelmente, errada. Os idealistas, e particularmente os jovens idealistas, estão em vias de extinção.

Não consigo contar apenas pelos dedos das mãos a quantidade de vezes que já ouvi expressões como “não vale a pena!” ou “tudo privado é que era bom!” da boca de colegas. Se antes ouvíamos expressões assim vindas de sexagenários sentados num banco de jardim, se antes os “velhos do Restelo” eram realmente velhos, agora, esses velhos são, de uma maneira assustadora, cada vez mais novos.

O envelhecimento de uma geração não se deve ao caso do ministro das Infra-estruturas, ou do primeiro-ministro, ou do Presidente da República. A questão não são as listas de espera, intermináveis e morosas, no SNS, ou o caos nas urgências de hospitais, ou mesmo o encerramento de unidades hospitalares.

A questão não é sequer o inflacionamento das notas de acesso à faculdade, ou de um mercado de trabalho nacional, no mínimo, pouco apelativo a jovens trabalhadores, forçados a emigrar, ou da incapacidade de dar resposta não só às preocupações do sector da educação, mas às preocupações ancestrais e inquietantes de todo o sector público.

É assim que, aos olhos dos jovens desencantados, a vontade de resolver os problemas é cada vez menos. Porque fazer evoluir um país deve ser a primeira preocupação da classe jovem e isso também passa por acreditar nos meios sociais alicerçantes.

É nesta encruzilhada que escolhem um de dois caminhos: a recusa de direitos cívicos fulcrais, como votar (o pior dos caminhos), ou a escolha entre uma de duas alternativas que, historicamente, já se mostraram profundamente desastrosas. De um lado, o caminho da total liberalização da sociedade, de outro, o caminho do populismo, do ódio e das frases fáceis. Ambas rejeitam as instituições. E rejeitar as instituições representa uma desonra ao passado, um trágico presente, mas sobretudo, um futuro catastrófico.

Acredito nas instituições, não porque me dão, hoje, razões para acreditar, mas porque não considero que tenha, por agora, escolha. É mais fácil reclamar à mesa do café. Mas não responsabilizo os desencantados, responsabilizo quem os desencantou. Os jovens idealistas estão em perigo de extinção, mas ainda não estão extintos.

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