Em Gondomar nasce projecto para salvar os barcos valboeiros. E turismo pode ajudar

Uma oficina fluvial com um dos últimos mestres destes barcos, tradição de Valbom e de todo o concelho, pode garantir a continuação da embarcação pelo Douro. E no Outono há regata de valboeiros.

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Uma oficina e o turismo podem salvar os valboeiros CM Gondomar
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Um projecto em Gondomar pretende devolver ao rio Douro os barcos valboeiros, embarcação que desde o século XVI ajudou à pesca do sável e da lampreia, mas que praticamente desapareceu.

O promotor do projecto, Artur Sousa, disse à Lusa que vai ser criada uma oficina fluvial, a cargo de um dos últimos mestres da construção de barcos valboeiros do rio Douro, Manuel Sousa. Com dez formandos, a equipa construirá a primeira embarcação, na segunda quinzena de Setembro, nas praias de Melres e da Ribeira de Abade, em Gondomar, no distrito do Porto.

"Temos um dos poucos mestres da arte de construção destes barcos e será ele a ensinar", adiantou o promotor, acrescentando que o barco deverá sair para a água ao fim de dez dias.

Há cinco vagas reservadas para formandos de Gondomar, sendo as restantes abertas a candidatos de todo o país. Segundo o promotor, já há "interessados" de fora do concelho em participar na construção do barco.

Para além da partilha de saberes, o desenvolvimento do projecto Oficina Fluvial permitirá revelar, a residentes e visitantes, as artes do rio, a história, o património endógeno e a natureza, indica-se na discrição da iniciativa.

O barco valboeiro é um elemento essencial na vida das comunidades ribeirinhas do Douro, de Melres à Ribeira de Abade, e um símbolo da tradição fluvial do concelho, acrescenta o documento.

Empenhado em não deixar morrer a tradição de um barco a remos de que "restam poucos exemplares", Artur Sousa quer, com o projecto, iniciar "a promoção deste património" e ao mesmo tempo sensibilizar "diferentes entidades para a necessidade de o alavancar e ganhar escala".

"Queremos criar uma dinâmica que permita no segundo ano repetir o projecto, mas a uma escala maior", afirmou.

O barco, explica, "vai ser construído em madeira de pinho, própria da região e que sempre foi o recurso para os barcos que subiam e desciam o rio Douro, os valboeiros e o barco rabelo".

O financiamento, concretizou Artur Sousa, chegará das autarquias do concelho e do sector privado, num projecto em que o "turismo não quis ficar de fora".

O responsável assinalou haver "instituições ligadas ao turismo a associar-se" à iniciativa, com o Turismo do Porto e Norte de Portugal "a incumbir-se da divulgação junto dos turistas".

"E não só, há já quem tenha pedido para acompanhar o projecto no âmbito do seu doutoramento", acrescenta.

O primeiro dos barcos a ser construído "será entregue ao Rancho Folclórico de Melres, e o que será construído em 2024 [será entregue] ao Grupo Etnográfico de Valbom, que depois farão a sua dinamização", disse.

O projecto inclui ainda um grande evento público: a 1 de Outubro há uma regata de barcos valboeiros no Douro.

A apresentação da Oficina Fluvial está agendada para o dia 25, na Casa Banca de Gramido, em Gondomar.