Num dos maiores terminais de autocarros urbanos da América Latina, no centro de São Paulo, Rerizenil de Paula Santos, 84 anos, espera por um autocarro decorado com luzes de néon e graffiti brilhantes, no meio da azáfama da hora de ponta.
É a décima vez que viaja neste projecto único, conhecido como centro cultural sobre rodas. O objectivo é levar arte e música à vida dos trabalhadores brasileiros.
O autocarro está equipado com iluminação e um sistema de som profissional e todas as terças-feiras os organizadores convidam novos artistas de música ou teatro. Os passageiros podem inscrever-se online ou apanhar o autocarro na rua, se houver lugar.
"O objectivo principal é tentar descentralizar e tornar o acesso às artes mais acessível", explica o organizador do projecto, Anderson Mauricio.
"Temos principalmente pessoas da periferia que são marginalizadas em termos de acesso às artes, por isso este autocarro é uma espécie de ponte, para tentar promover a arte sem fronteiras", explica Mauricio, actor, na estação de autocarros do Parque Dom Pedro.
Mauricio, 40 anos, conta que a ideia surgiu da sua experiência pessoal com o percurso diário de cinco horas que fazia até à cidade, quando era estudante de Teatro. "Boa parte do meu tempo era passado dentro de um autocarro, nos transportes públicos. E foi aí que pensei, bem, o autocarro... é uma casa itinerante para as pessoas que vivem na periferia, e porque não um espaço cultural?"
O projecto, que recebeu fundos públicos, começou em 2019, mas o seu sucesso foi interrompido pela pandemia da covid-19.
Agora, pessoas de todas as idades e origens sentam-se lado a lado para a viagem gratuita. Paula Santos, jovens estudantes, passageiros de meia-idade e uma pessoa em situação de sem-abrigo embarcaram no dia da visita da agência de notícias Reuters.
"Quando se entra aqui, toda a gente se diverte e eu acho que é maravilhoso. Não podia ser mais bonito", disse Paula Santos.
Os espectadores na rua espreitavam pelas janelas, incrédulos, enquanto o autocarro fazia a sua viagem de uma hora pelo centro da cidade.
"Fiquei muito impressionado com a qualidade do som, com a estética de tudo", diz o músico Leve Venturoti, 24 anos, a bordo pela primeira vez. "Isto prova que, se tentarmos realmente chegar a pessoas de diferentes lugares, podemos efectivamente dar acesso a todos."