O Porto tem 200 quilómetros onde pode plantar árvores e agora tem um plano para o fazer

O Plano Municipal de Arborização do Porto foi apresentado nesta quarta-feira e servirá de matriz para os diferentes tipos de arruamentos da cidade. O documento foi feito a pensar nas próximas décadas.

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A Câmara do Porto quer ligar as zonas verdes da cidade através de um corredor de árvores Paulo Pimenta
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O desafio não é definir o número de árvores que devem ser plantadas ou quantas árvores em fim de vida devem ser abatidas. O Plano Municipal de Arborização do Porto (PMAP), apresentado nesta quarta-feira na Biblioteca Almeida Garrett, tem outra função. A partir de agora, com este documento, a autarquia passa a ter na sua posse um guia aplicado às especificidades de todas as ruas e avenidas da cidade, de forma a que se possa saber como plantar e o que plantar. O mesmo documento será igualmente consultado quando em causa estiver a execução de obras públicas ou privadas no exterior ou no subsolo, para que seja evitado entrarem em conflito com terreno arborizado.

As árvores ganham outro protagonismo na cidade e vão ocupar arruamentos onde escasseiam ou não existem. A Câmara do Porto quer ligar os seus parques através de corredores verdes. Ou seja, com arruamentos arborizados. Para que esse plano seja realizado com eficácia seguir-se-á um esquema desenhado de acordo com a natureza da artéria em questão. A espécie a ser plantada também será escolhida em função das necessidades da envolvente.

Paulo Farinha Marques, coordenador da equipa de Arquitectura Paisagista da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, e Ana Monteiro, coordenadora da equipa de Bioclimatologia Urbana da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, apresentarem o PMAP após uma pequena introdução do mesmo feita por Filipe Araújo, vice-presidente da autarquia, que gere o pelouro do Ambiente e da Transição Climática.

23,9% de espécies inadequadas

Para se chegar ao resultado final da estratégia delineada, explicam os intervenientes, foi necessário primeiro fazer um diagnóstico. Dessa consulta concluiu-se que o Porto tem 156 quilómetros de ruas arborizadas e 377 quilómetros de ruas não-arborizadas. Das últimas, só 191 quilómetros é que foram consideradas arborizáveis. Apurou-se ainda que 23,9% das artérias já arborizadas têm espécies inadequadas, sendo que 7% contêm espécies infestantes.

Com base no PMAP será criada uma espécie de reorganização do desenho arbóreo da cidade, ajustado à dimensão das artérias. Mantendo-se as antigas e abatendo-se algumas espécies invasoras ou em fim de vida, mais árvores serão plantadas. Para se perceber como serão colocadas no terreno catalogaram-se as ruas por cinco tipos diferentes: muito estreitas, estreitas, médias, largas e muito largas. O mesmo se fez com o tipo de árvores, que seguirão a mesma lógica de catalogação.

As ruas muito estreitas serão as mais difíceis de arborizar. Mas para todas as outras foi criada uma espécie de matriz, tendo por base 10 ruas estudadas pela equipa que elaborou o plano. As artérias que servem de primeiro exemplo dividem-se pela catalogação definida: Rua do Heroísmo (estreita); ruas de Camões, Duque de Saldanha, Constituição e de Serpa Pinto (médias); ruas Cinco de Outubro, Pinto Bessa, Gondarém e Avenida Rodrigues de Freitas (largas) e Rua de Damião de Góis (muito larga).

De acordo com o PMAP, nas estreitas seguir-se-á a opção de arborizar recorrendo ao alinhamento unilateral, com árvores de copa pequena. O lado da rua a escolher dependerá da largura dos passeios ou da existência ou não de estacionamento, que em alguns casos pode desaparecer. Nas médias, o alinhamento será bilateral com árvores de copa média-estreita. Nas largas, a escolha será o alinhamento bilateral com árvores de copa média-larga ou, em alguns casos, as árvores serão de copa larga e passarão para a parte central do arruamento. Nas muito largas - a única estudada foi a Damião de Góis -, o resultado será “tipo rua-jardim”, com árvores nas duas laterais ou no centro, alternado com zonas de estar. Estes 10 casos de estudo servirão de base para outras artérias da cidade com as mesmas características.

Árvores altas

Para facilitar a mobilidade de peões e do trânsito viário, as árvores devem ser altas, com um mínimo de 10 metros de altura e quatro metros de fuste (desde o solo até ao início da copa). Para que as raízes não se tornem um problema, as novas árvores serão plantadas com um painel para proteger a raiz. As espécies a serem plantadas serão, sobretudo, ripícolas, que normalmente estão próximas de rios e ribeiros. A opção passa pela questão térmica, por serem espécies com uma maior evapotranspiração. A escolha será sempre adequada para responder ao desafio das alterações climáticas.

Este não é um plano feito a pensar no imediato. Ou seja, não há uma data definida para as alterações serem levadas a cabo. Filipe Araújo, vereador do Ambiente, explica que é um plano que já está em marcha e servirá para os próximos 20/30 anos. O modelo está definido. As intervenções e os ajustes vão sendo realizados progressivamente, explica.

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