Palcos da semana: O Meu Amigo H. entre marionetas e empatia

Lisboa enche-se de FIMFA, o Porto observa a Bienal de Fotografia e Évora escuta o Imaterial, enquanto Free se estreia em Cascais e O Meu Amigo H. em Guimarães.

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Géologie d'une Fable, do Collectif Kahraba, em estreia nacional no FIMFA Rima Maroun
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Actos de Empatia é o tema da terceira Bienal de Fotografia do Porto (na imagem, Acoustic Ocean) Ursula Biemann
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Virgílio Castelo, um dos actores de O Meu Amigo H. Rui Gaudêncio
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O Teatro Gíria e o Teatro Experimental de Cascais estreiam Free Pedro Jafuno
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As Tautumeitas trazem a Évora canções da Letónia Liene Petersone
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De fábulas e batalhas nas mãos

A 23.ª edição do FIMFA - Festival Internacional de Marionetas e Formas Animadas começa com um “baile marionetístico em suporte vinil”, avisa o programa do festival lisboeta.

A partir daqui, tudo pode acontecer: fábulas moldadas em barro pelo colectivo libanês Kahraba, a união dos belgas Focus e Chaliwaté numa abordagem tragicómica à catástrofe ambiental, o surrealismo do finlandês Tehdas Theatre inspirado em Dora Maar, reflexões sobre a morte pelo Teatro de Marionetas do Porto ou uma épica Batrachomyomachia que opõe ratos e rãs pelas mãos dos franceses Les Antliaclastes.

Também podemos esperar cidades adormecidas, dedos bailarinos, sapatos fora da caixa, cinema erótico a pedais e até uma porca gigante com magia na barriga (esta instalada em Tondela, na primeira saída do festival para fora da capital).

No total, há 20 espectáculos em cena, por artistas de nove países, bem como workshops, filmes, encontros e, como fio condutor, a festa do 30.º aniversário da organizadora A Tarumba.

A empatia em foco

Depois de se ter debruçado sobre ideias de adaptação e transição e sobre desafios ecológicos, a Bienal de Fotografia do Porto chega à terceira edição com a objectiva apontada a Actos de Empatia. O tema central manifesta-se em quatro núcleos – Sustentar, Vivificar, Expandir e Conectar – a que correspondem abordagens diferentes “que reflectem sobre os paradigmas da actualidade e reimaginam um futuro possível e regenerativo”, nota a organização.

Do Centro Português de Fotografia à estação de metro de São Bento, passando por uma dúzia de outros espaços, o programa proposto por Jayne Dyer e Virgílio Ferreira oferece um total de 16 exposições, a cargo de 14 curadores que dão a ver mais de 70 artistas de 17 países. À margem, decorrem dezenas de actividades paralelas, como visitas guiadas, conversas ou lançamentos de livros.

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Tell the Trees to Smile Myriam Boulos

Quatro homens e um espectro

Política de bastidores, sede de poder, traição e castigo total para quem ameace a sobrevivência da ambição. É nestes meandros que se encontra O Meu Amigo H., a peça que Albano Jerónimo e Cláudia Lucas Chéu se preparam para estrear.

Partem do texto do japonês Yukio Mishima para encenarem uma versão que se livra da iconografia nazi – o original tem Hitler no nome e inspira-se na purga da Noite das Facas Longas – mas só para deixar que aquele H. encapsule as múltiplas formas que o espectro das ascensões antidemocráticas pode assumir.

“Acredito que este espectáculo pode ser como o fumo que faz disparar o alarme”, sublinha Chéu. Pedro Lacerda, Rodrigo Tomás, Ruben Gomes e Virgílio Castelo assumem as personagens.

Liberdade para documentar

Qualquer semelhança com factos reais não é pura coincidência. Free nasce de relatos de migrações forçadas. Da observação da crise dos refugiados que, por um horizonte de paz e liberdade, arriscam tudo na travessia do Mediterrâneo. Mas também é a história de quem larga o seu conforto para lançar a mão a essas pessoas.

É nas experiências e vivências de voluntários que assenta este “retrato não de heróis e vítimas, mas de pessoas comuns que se encontraram, por força do mundo à volta delas, em circunstâncias extraordinárias, efectuando uma viagem ao encontro do outro e em busca de si próprias”, esclarece a folha de sala.

Escrita por Miguel Graça e encenada por Rodrigo Aleixo, a nova peça é uma co-produção do Teatro Gíria e do Teatro Experimental de Cascais. O elenco é composto por Bárbara Branco, Daryab Rasoli, Francisco Monteiro Lopes, João Gaspar, Mário Coelho, Manuela Couto, Patrícia Fonseca e Rivânia Saraiva.

Imaterial com vagar

O cante está-lhe no sangue e na origem, mas a voz é cosmopolita, seja na música, em conferências, em filmes ou nos “olhares sobre a tradição que daí resultam”. Assim se apresenta a terceira edição do festival Imaterial, animada pela nomeação de Évora para Capital Europeia da Cultura em 2027.

Com o mesmo “vagar” que acompanhou essa candidatura, o público é convidado a deambular por um cartaz musical oriundo de 12 países. Abre na Sé, com o Huelgas Ensemble a lembrar o compositor “esquecido” Vicente Lusitano, e termina no Teatro Garcia de Resende, onde Os Ganhões de Castro Verde mostram, com Paulo Ribeiro, que O cante não cai do céu. Master Musicians of Joujouka, Ana Lua Caiano, Kaito Winse, Kayhan Kalhor e Tautumeitas são outros sons no alinhamento.

Em nome do propósito de estimular “novas formas de nos pensarmos como colectivo”, o festival dirigido por Carlos Seixas contempla ainda um ciclo de cinema documental, conversas e passeios pelo património.

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