Uma em cada oito crianças e adolescentes tem pressão arterial elevada
Entre 12 e 14% das crianças e jovens entre os 5 e os 18 anos têm a pressão arterial elevada. Alimentação desequilibrada, consumo excessivo de sal e sedentarismo explicam o problema.
Uma em cada oito crianças e jovens tem pressão arterial elevada, um problema que está a aumentar, alertou este sábado a Sociedade Portuguesa de Hipertensão, que apela à medição da tensão a partir dos três anos.
Segundo dados da Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH), entre 12 e 14% das crianças e jovens entre os 5 e os 18 anos têm a pressão arterial elevada.
"São pressões arteriais elevadas, que nos alertam e obrigam a intervir, com alterações do estilo de vida, para não evoluir para diagnóstico de hipertensão arterial confirmado", disse à Lusa a presidente da SPH, Rosa Pinho, a propósito do Dia Mundial da Hipertensão, que se assinala em 17 de Maio.
A médica alertou que cerca de 6% das crianças e jovens nesta faixa etária (5-18) têm já um diagnóstico de hipertensão confirmado. "Nós sabemos que a prevalência da hipertensão vai aumentando à medida que a idade vai avançando, mas o certo é que as nossas crianças e adolescentes estão cada vez com mais factor de risco cardiovascular", disse a presidente da SPG.
Muito sal, pouco exercício
Como razões para a prevalência crescente da hipertensão nas crianças e jovens, a médica apontou a alimentação desequilibrada, o consumo excessivo de sal, o sedentarismo e o excesso de peso e alertou que, se nada for feito, a situação vai piorar.
"Neste momento, provavelmente, metade das crianças até já tem excesso de peso", realçou Rosa Pinho, adiantando que os três anos de pandemia de covid-19 não ajudaram.
Além de os menores terem ficado "privados de muito exercício físico", a tecnologia também veio dificultar, porque "as crianças fazem muito mais actividades nas tecnologias do que propriamente ao ar livre, a correr, saltar, a brincar". Por outro lado, a alimentação também "é pior", com muito sal.
Segundo a especialista, os adultos consomem "muito mais" sal do que deveriam, lembrando as recomendações da Organização Mundial de Saúde de cinco gramas de sal no máximo por dia para um adulto, sendo recomendado metade deste valor para as crianças.
"Tendo em conta que os adultos estão a consumir muito mais do que deveriam, e as crianças geralmente comem a mesma comida", o consumo de sal é excessivo, elucidou.
Segundo Rosa Pinho, os médicos de família começam a medir a pressão arterial nas crianças saudáveis a partir da consulta de vigilância dos três anos.
No caso de crianças com problemas, como cardiopatia, prematuros, baixo peso à nascença, história familiar de doença congénita renal, a pressão arterial deve ser avaliada antes dos três anos, sendo habitualmente seguidas em consultas específicas.
Sobre os riscos que os mais novos correm por terem hipertensão, a médica explicou que, provavelmente, vão ser adultos com excesso de peso, que vão ter problemas mais cedo e podem vir a ter enfartes e acidentes vasculares cerebrais (AVC) "muito mais cedo" do que se está a verificar neste momento, se a situação não for alterada.
"A hipertensão é uma doença silenciosa, infelizmente, mas vai fazendo estragos a nível do rim, problemas a nível do coração, da circulação. Tudo isso vai começar a surgir muito mais cedo", alertou.
Rosa Pinho defendeu que os pais devem estar sensibilizados para controlar a pressão arterial dos filhos e destacou a importância dos médicos de família na sua sensibilização.
"Quando fazemos o ensino a um adulto que tem hipertensão arterial, tentamos falar com a família porque a alimentação de todo o agregado tem de mudar", referiu a especialista em Medicina Geral e Familiar, sublinhando que, no caso de haver crianças pequenas, quem cozinha deve ter um cuidado ainda maior.
"Se não há o hábito de fazer exercício e de comer saudável, isto vai passar para as crianças. Nós ensinamos a família e também temos a ajuda dos enfermeiros que fazem a saúde escolar que habitualmente vão fazendo estas sessões e já começa a haver alguns programas a nível da escola para incutir mais horas de educação física, lanches saudáveis (...), mas tem de se reforçar e insistir mais, porque efectivamente o panorama nesta fase pós-covid agravou-se bastante", rematou.