No País dos arquitectos: um edifício para desfrutar com “vagar”

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O arquitecto partilha também a importância de pensar os espaços com vista a suprir as necessidades de uma população cada vez mais envelhecida Fernando Guerra
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No 59.º episódio do podcast “No País dos Arquitectos”, Sara Nunes, da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures, conversa com o arquitecto Francisco Aires Mateus sobre as residências assistidas em Alcácer do Sal.

Durante a conversa, o arquitecto explica que “o primeiro gesto” do projecto teve como princípio a “clarificação do território”: “O edifício [das residências assistidas de Alcácer do Sal] começa à cota do terreno alto e, na frente, junto à entrada, existem três pisos. (...) Há o piso 0, [onde] estão as áreas de recepção, convívio, enfermaria e secretaria. (...) [Existe o jardim] que abraça quem chega (...). E depois temos dois pisos com quartos: esses quartos vão sendo sempre intercalados [com outros espaços como um cabeleireiro e um pequeno bar].”

Para criar “pontos de apoio”, foi feito também um corredor que serpenteia o edifício e que permite a circulação das pessoas: “Uma boa parte do tempo é passada nestes percursos que – por questões motrizes e por questões de saúde – são muito incentivados [que as pessoas os façam].” Durante a entrevista, Francisco Aires Mateus sublinha como o próprio conceito do “vagar”, muito conhecido entre os alentejanos, faz parte do edifício: “Talvez a melhor definição do vagar é dizer que é o oposto do stress, de fazer tudo a correr. Esse é o lema de Évora e tem muita graça. (...) Na verdade, estas pessoas movem-se muito devagar, portanto o percurso delas tem de se tornar numa experiência.”

Essa experiência fica reforçada pela forma como as pessoas se movimentam nas residências. O arquitecto – que durante toda a sua vida gostou de costura – decidiu desenvolver aqui uma sinalética diferente: “Quando [os utentes] dão entrada no lar recebem uma galinha, (...) portanto quando a pessoa sai do quarto pendura a sua galinha e, quando volta, já sabe que aquele é o seu quarto. Às vezes há quem leve a galinha e vá para o jardim com ela por uma questão de afecto.” Francisco Aires Mateus diz ainda que as primeiras galinhas foram feitas por ele e garante que nenhuma é igual à outra para facilitar a identificação do espaço.

À luz deste pensamento, o arquitecto partilha também a importância de pensar os espaços com vista a suprir as necessidades de uma população cada vez mais envelhecida: “Estamos a falar de uma comunidade cujo grau de analfabetismo é bastante elevado e, portanto, uma pessoa já não consegue ler, mas também tem óbvias dificuldades em compreender a sinalética. (...) A necessidade do edifício [perdurar no tempo] põe-se a curto prazo e esse curto prazo quer dizer que, de facto, as pessoas envelhecem e vão ter mais dificuldades em mover-se e, portanto, os edifícios têm de se adaptar a essas condições.”

A esta ideia, Francisco Aires Mateus acrescenta: “Concordo com a necessidade de ter os edifícios cada vez mais adaptados até por uma questão de (...) sustentabilidade: [é importante] os edifícios terem a capacidade de (...) absorver outros programas, de durar no tempo em vez de serem feitos com painéis solares na cobertura. Não tenho nada contra os painéis solares, mas isso é um tuning que não tem nada a ver com a arquitectura. (...) [É preciso pensar a sustentabilidade de outra forma] e uma delas será com certeza a duração no tempo.”

Um dos aspectos que o arquitecto destaca em todo o projecto é o “jogo de sombras” presente no edifício e que na região do Alentejo se torna ainda mais vincado: “Temos um edifício completamente branco com sombras completamente negras. [Quando é] visto de muitos ângulos, o edifício perde completamente a leitura de qualquer pormenor. Ou seja, não se vê uma janela, não se vê nada. Só se vêem massas brancas e sombras negras e isto remete-nos para os edifícios infra-estruturais [como os aquedutos e as barragens]. (...) Isso é talvez o que eu poderia eleger como uma experiência bem sucedida. (...) Em cada projecto, nós tentamos fazer qualquer coisa da qual possamos retirar uma experiência que nos possa enriquecer.”

No final da conversa, o arquitecto fala sobre o projecto que está a desenvolver no Musée des Augustins, em Toulouse, e mostra como é importante que a arquitectura crie soluções que não segregam ninguém: “A ideia do concurso era fazer um edifício que permitisse ter uma entrada mais generosa [para as pessoas] com dificuldades motoras. Nós fizemos uma série de desenhos até que, às tantas, pensámos: «Não pode ser nada disto. A única maneira deste edifício ser inclusivo é não haver diferença nenhuma entre quem tem dificuldades motoras e quem não tem.» Portanto, o edifício é em rampa. Ou seja, toda a gente faz o mesmo percurso. Não há ali uma plataforma, não há um elevador, não há rigorosamente nada. Conseguimos rebaixar ligeiramente a praça e a cota do edifício (...). E toda a gente faz exactamente o mesmo percurso. Ou seja, ninguém é deficiente e ninguém é não deficiente.”

Para saber mais sobre o projecto das residências assistidas em Alcácer do Sal e a importância da arquitectura inclusiva, ouça a entrevista na íntegra.


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