Quem resolve melhor uma birra? A mãe ou o pai?

Mesmo quando erram, ou pedem ajuda, os homens sentem muito menos culpa por isso do que as mulheres.

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Querida Ana,

Acabo de tropeçar nos resultados de uma sondagem feita nos EUA pela OnePoll, que inquiriu mil mães e mil pais de crianças dos 0 aos 4 anos, e tenho boas notícias para ti: o pai resolve melhor as birras dos filhos do que a mãe.

A partir de agora, todas as mães podem sacar desta informação para saírem de cena quando os filhos se atiram para o chão porque o Lego não encaixa ou embirram com as ervilhas no prato.

Por isso, deixa-te aí ficar em Inglaterra mais um bocadinho, embora o que a minha experiência me diz é que as crianças fazem um bocadinho de mais “cerimónia” com o pai, e guardam os protestos para quando nos apanham na primeira esquina. Ou seja, mais uma razão para te demorares mais um bocadinho.

Mas, Ana, sabes qual foi o número que realmente me espantou: 76% dos pais e mães dizem ter errado mais do que uma vez na resolução de uma birra! Apenas 76%, onde estão os outros 24%? Ou andam por aí com um nariz de Pinóquio, ou estão na posse de algum segredo de Estado que era urgente partilharem.

Uma outra conclusão do estudo: mesmo quando erram, ou pedem ajuda, os homens sentem muito menos culpa por isso do que as mulheres. E a diferença é grande: são mais 15% aquelas que a reportam.

A sério, queridas mães, já chega de culpa!


Querida Mãe,

Tenho muitas perguntas sobre essa sondagem. O que é resolver melhor? Parar a birra? Ter mais paciência? Ser mais firme? Seja como for, sim, é importante as mães guardarem essa informação. Não precisa sequer de ser nesta versão "Os pais resolvem melhor as birras", basta chegarmos ao ponto de acreditar que "Os pais conseguem resolver as birras tão bem quanto nós, mesmo que seja de maneira diferente". Temos mesmo de evitar a sensação um bocadinho inevitável de que temos de proteger os nossos filhos do que consideramos ser a ineficácia dos seus pais.

No entanto, ao contrário do que muitas pessoas insinuam, não me parece que as mães se metam nas interações dos pais-filhos por serem excessivamente mães galinha, mas apenas porque, muitas vezes (e sim, é uma generalização), os pais depois não têm que lidar com as consequências. Ou seja, as mães reagem porque sabem que vai sobrar para elas.

Dou-lhe um exemplo: um pai que resolve uma birra de sono levando a criança para a sala e deixando-a adormecer muito mais tarde; talvez não tenha depois de a acordar e vestir de manhã para ir para a escola — não sente na pele o impacto da sua decisão.

Ou, no polo oposto, o pai que decide ser muito assertivo para acabar com uma birra e castiga o filho retirando-lhe o peluche preferido, esquece-se que quem depois o vai ter de deitar é a mãe, que não consegue que adormeça sem ele.

É verdade que alguns destes erros do pai podem resultar da sua falta de experiência, que tem na origem o facto de as mães intervirem sistematicamente cedo demais, impedindo-o de se tornar perito nos seus filhos. E depois “falha”, realimentando um círculo vicioso difícil de quebrar.

Mas, outras vezes, somos mesmo nós, as mães, que sofremos da "arrogância do observador" que acredita que teria feito melhor...apenas porque está de fora. Nesses casos o meu mantra é: “Estamos todos a fazer o melhor que conseguimos!”, e ninguém tem vontade de continuar a tentar se é constantemente alvo de críticas ferozes.


O Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam.

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