Duas zonas "extraordinárias" do Parque Natural Litoral Norte Selvagem e 97 das espécies que ali vivem através de 148 fotografias. Tem duas faces — duas capas invertidas uma em relação à outra e uma página em branco entre os dois capítulos desta história — o livro Parque Natural Litoral Norte Selvagem, do estuário à floresta, que marca um momento na "nova devoção" de Carlos Rio. "Quero continuar na floresta."

O fotógrafo de natureza e de vida selvagem fala de um "investimento quase diário nocturno" do último ano e meio de idas à mata de folhosas e de pinhal entre Fão e Apúlia que conheceu enquanto criança e que deixara de frequentar. Foi na floresta que começou "a fazer de conta que fotografava". "Saía com a minha maquinazinha de manhã e chegava à noite a casa. Percorria os caminhos todos, embrenhava-me na floresta, que conhecia dos tempos de escuteiro. Era fascinante, parecia que estávamos numa selva das que víamos na televisão. E deixei de ir. E, para meu espanto, regressei agora e verifiquei que a mancha ainda existe."

A função do livro é "lançar um alerta". "A floresta é riquíssima em biodiversidade e corre muitos perigos, desde a invasão das acácias, ao lixo, à má utilização", aponta Carlos Rio (1964, Fão), formador nas áreas do birdwatching e fotografia de natureza, consultor na área das actividades de natureza e elemento da comissão de co-gestão do Parque Natural do Litoral Norte, em representação da Confederação Portuguesa das Associações de Defesa do Ambiente. "Os terrenos são quase cem por cento privados. Ainda nos deixam andar por ali, mas, cometem-se tantos abusos, que qualquer dia só podemos andar nos caminhos. Os proprietários estão a começar a cercar tudo. Se houvesse uma relação próxima entre os proprietários e as entidades, se calhar as coisas melhorariam."

Um dos cenários, o mais "escondido", é uma mancha de pinhal com ilhas de floresta autóctone com zonas húmidas cercada por zonas agrícolas ora em actividade ou abandonadas. "O que transforma a área numa zona de alimentação extraordinária para os animais que se abrigam na floresta, desde mamíferos a aves de rapina. Serve de refúgio, de local de nidificação e de reprodução. As espécies estão mais escondidas porque as pessoas também frequentam esse espaço."

Do pica-pau-malhado-grande à raposa, do seu guarda-rios à águia-pesqueira. O animal que lhe tem dado mais gozo fotografar é a "magnífica" gineta, pela "forma furtiva" como se move e salta entre a copa das árvores. Para a mostrar, Carlos Rio construiu junto a uma árvore caída um abrigo, que agora pretende partilhar com algumas pessoas curiosas. "Como a floresta me tem dado muito em termos de conhecimento e de bem-estar, entendi proporcionar às pessoas menos habituadas a experiência de passar lá uma manhã. É a minha forma de retribuir", justifica o autor de vários livros e de guias interactivos de identificação que organiza dezenas de actividades de campo por ano (estão abertas inscrições para as Noites Brilhantes de Primavera para a observação de pirilampos), usando a fotografia como ferramenta de conservação da natureza.

O livro Parque Natural Litoral Norte Selvagem, do estuário à floresta tem lançamento marcado para o dia 13 de Maio, pelas 16h, na sede da Junta de freguesia de Fão.