Carlos foi coroado numa Londres dividida entre protestos e festas

O rei Carlos III foi coroado, neste sábado, naquele que foi o maior evento cerimonial britânico das últimas sete décadas. Nas ruas, às festas somaram-se protestos.

Foto
O momento histórico está a ser acompanhado em todo o mundo Reuters/POOL

Perante uma congregação de cerca de cem líderes mundiais e uma audiência televisiva de milhões de pessoas, o arcebispo de Cantuária, líder espiritual da Igreja Anglicana, colocou a centenária Coroa de Santo Eduardo na cabeça de Carlos, que se sentou num trono do século XIV na Abadia de Westminster.

Camila, casada em segundas núpcias com Carlos, depois de ter sido sua amante durante o matrimónio com Diana, ao contrário de todas as projecções de há uns anos, foi, poucos minutos depois, coroada rainha.

O momento histórico está a ser acompanhado em todo o mundo e os defensores da manutenção de uma monarquia no Reino Unido avaliam que a família real constitui uma atracção internacional e uma ferramenta diplomática vital — além de ser um chamariz para os turistas.

“Nenhum outro país poderia fazer uma exibição tão deslumbrante — as procissões, a pompa, as cerimónias e as festas de rua”, disse o primeiro-ministro, Rishi Sunak, citado pela Reuters.

No entanto, o facto de a coroação se realizar num momento delicado para a economia e política britânicas tornou ainda mais fortes as críticas ao papel e relevância da monarquia. E muitos saíram às ruas para protestar contra a existência de um rei, exigindo uma mudança no sistema constitucional — algo que foi prontamente reprimido: alguns manifestantes foram detidos, entre os quais o líder do grupo Republic.

“É um sistema desigual e desactualizado porque tem um herdeiro multimilionário, nascido na riqueza e no privilégio, que basicamente simboliza a desigualdade de riqueza e poder na nossa sociedade”, disse o deputado trabalhista Clive Lewis, citado pela Reuters, que estava entre os manifestantes antimonárquicos.

No interior da abadia, enfeitada com flores e bandeiras, políticos e representantes das nações da Commonwealth sentaram-se ao lado de trabalhadores de instituições de beneficência e celebridades, incluindo os actores Emma Thompson, Maggie Smith, Judi Dench e a cantora norte-americana Katy Perry.

A maior parte da cerimónia incluiu elementos que os antepassados de Carlos, desde o rei Edgar em 973, reconheceriam, segundo as autoridades. O hino da coroação de Handel, Zadok the priest, foi cantado como tem sido em todas as coroações desde 1727.

Mas também houve novidades, incluindo um hino composto por Andrew Lloyd Webber, famoso pelos seus espectáculos de teatro no West End e na Broadway, e um coro de gospel.

O neto mais velho de Carlos, o príncipe George, e os netos de Camila actuaram como pajens e, embora se trate de uma cerimónia cristã, no final houve uma saudação “sem precedentes” de líderes religiosos, num sinal que revela que Carlos pretende incentivar a tolerância e liberdade religiosa ao longo do seu reinado, não obstante o facto de ter prestado juramento à fé protestante e de ser o chefe da Igreja Anglicana.