Depois de 28 anos preso, um homem foi ilibado e reencontrou-se com a sua pen pal

Preso injustamente, Lamar Johnson procurou na correspondência por carta uma centelha de esperança. Uma mulher respondeu-lhe durante 20 anos, nascendo uma amizade que agora vivem em liberdade.

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Lamar Johnson e Ginny Schrappen no primeiro encontro em liberdade Cortesia Ginny Schrappen via The Washington Post

Durante 20 anos, um presidiário e uma mulher trocaram correspondência. Ele sempre se declarou inocente e ela nunca duvidou dele, tendo acabado por o visitar na cadeia. Agora, depois de ilibado de um crime que não cometeu — e que o manteve 28 anos na prisão —, os dois reencontraram-se, provando que também se constroem verdadeiras amizades por correspondência.

Lamar Johnson tinha 21 anos quando foi acusado do assassínio de Marcus Boyd, em Outubro de 1994, tendo por base exclusivamente as declarações de uma testemunha que dizia tê-lo visto no local — e apesar de ter o álibi de ter passado a noite com a namorada da época. Foi condenado e sentenciado a prisão perpétua. Mas sempre se declarou inocente.

Alguns anos depois, decidiu escrever cartas a várias igrejas, em busca de palavras de esperança. Uma delas foi dirigida à congregação de Mary, Mother of the Church, de St. Louis. E a missiva foi parar às mãos de Ginny Schrappen, uma congregante que ficou “impressionada” pela caligrafia. Ao The Washington Post, a mulher contou que pôde perceber rapidamente o “quão inteligente ele era”.

Este foi o ponto de partida para o nascimento de uma bela amizade através de uma forma de comunicar com décadas de existência: os chamados "pen pal", ou amigos por correspondência, que continuam a constituir nos dias de hoje uma comunidade global. Através das cartas, Ginny teve a certeza de que Lamar estava preso injustamente. E não estava sozinha.

Ao longo do tempo, o recluso requisitou várias vezes audiências para voltar a apresentar o seu caso, algo que lhe foi negado. Acabou por contar com o apoio jurídico do Innocence Project e da procuradora de St. Louis Kim Gardner, que também não acreditava na sua culpa. Também contava com o apoio de Ginny, que o visitava ocasionalmente. “Ver alguém pessoalmente, abraçá-lo e sentar-me em frente dele, que foi o que fizemos, eu estava quase fora de mim”, lembra numa conversa com o The Post.

Mas, ainda assim, o seu caso passou por várias instâncias, até ao Supremo, sem que houvesse uma reviravolta. Até que, em 2021, o Missouri aprovou uma lei que deu a Gardner e a outros procuradores o poder de levar casos de inocência a tribunal. Um ano depois, foi agendada uma audiência para que pudessem ser apresentadas novas provas do caso.

Em Dezembro de 2022, a confissão do homicídio por uma testemunha chamada pela defesa (James Howard, a cumprir prisão perpétua por um outro assassínio), e o facto de a testemunha inicial (que, em 1995, determinou a condenação de Lamar) ter revelado que foi pressionada pelos detectives da época, fez com que o juiz David Mason deliberasse a ilibação total de Lamar Johnson, a 14 de Fevereiro deste ano, 28 anos depois da sua condenação.

Lamar foi imediatamente libertado e tinha uma visita a cumprir: a Ginny Schrappen. O emocionante reencontro foi acompanhado pela CBS e transmitido a 21 de Abril. Ao longo de duas décadas, para Lamar, Ginny foi um forte pilar, alguém com quem pôde partilhar como se “estava a sentir” em relação à sua situação. “Isto aproximou-nos mais, porque tivemos conversas honestas e não superficiais”, observa. Já Ginny voltaria a responder àquela primeira carta. E deixa o conselho para que mais pessoas sigam o seu exemplo: “Estender a mão a alguém que possa precisar de um amigo pode significar mais do que se imagina.”

O caminho agora é em frente. E Lamar olha para o futuro com fé e esperança: “Por mais contratempos que tenham havido ao longo dos anos, há muito para ser feliz e para agradecer.”


Texto editado por Carla B. Ribeiro

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