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O novo Museu Americano de História Natural é como um “canyon

A arquitectura do Studio Gang criou um novo cenário para um museu que nasceu no século XIX. O sucesso é garantido. 

O átrio do Gilder Center for Science do American Museum of Natural History (AMNH), em Nova Iorque Iwan Baan
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O átrio do Gilder Center for Science do American Museum of Natural History (AMNH), em Nova Iorque Iwan Baan

O Museu Americano de História Natural (AMNH) de Nova Iorque, que inspirou filmes como Uma Noite no Museu e é um dos mais amados da cidade, vai inaugurar esta quinta-feira uma nova ala que promete tornar-se um novo ícone de Manhattan.

O novo Richard Gilder Center for Science, Education and Innovation é desenhado como um "canyon" — as formações geológicas moldadas pelo vento e pela água —, exibindo uma arquitectura de formas orgânicas assinada pela equipa da arquitecta Jeanne Gang (Chicago).

O Gilder Center promete ser tão chamativo como foram durante décadas para o AMNH os famosos dioramas, as reconstruções tridimensionais dos habitats da América do Norte e à volta do mundo, uma mistura entre taxidermia e arte que criaram autênticas cápsulas do tempo e inspiraram gerações de nova-iorquinos.

O crítico do New York Times Michael Kimmelman, que confessa ter tido as suas dúvidas enquanto acompanhou a saga de um projecto que chegou aos 465 milhões de dólares e passou pela pandemia, escreveu agora com o edifício já construído: “I love it”.

Depois de comparar as suas curvas ao génio da catedral de Antoni Gaudí ou do Terminal da TWA de Eero Saarien, explicando que o novo centro faz parte da mesma família arquitectónica, o crítico promete que o Gilder Center vai ser um “colossal” sucesso: “É uma obra pública de arquitectura poética, alegre e teatral, tal como uma fantasia escultural altamente sofisticada.”

Ainda que só através de fotografias, conseguimos também pensar no Museu Guggenheim de Nova Iorque, que com a sua famosa espiral que trouxe formas mais naturais de desenhar percursos museológicos, mas também na sua declinação em Bilbau ou na Torre Einstein de Erich Mendelsohn, outro pioneiro da arquitectura orgânica.

Numa história de 150 anos, o AMNH espalha-se por quatro quarteirões e o seu campus inclui mais de 25 edifícios. A função do Gilder Center e da nova ala é também facilitar a circulação — estabelece 33 novos pontos de ligação entre dez edifícios. 

Uma das figuras envolvidas na construção do AMNH e dos seus diaporamas foi o naturalista Carl Akeley, considerado o pai da moderna taxidermia e que fez várias campanhas para recolher peças no início do século XX. Foi ele a grande inspiração do material usado pela arquitecta Jeanne Gang no interior do edifício — o “shotcrete”, o antepassado do betão projectado —, explica o comunicado do museu. O "canyon" de Gang é feito com este betão pulverizado que se adapta mais facilmente a uma estrutura curva e não precisa da cofragem tradicional.

“O Gilder Center for Science, Education and Innovation traz instalações novas e fantásticas que vêm preencher uma necessidade crítica em tempos críticos: ajudar os visitantes a perceber o mundo natural de uma forma mais profunda, a apreciar a interdependência de toda a vida, a confiar na ciência e a inspirarem-se nela para defender o nosso planeta e a sua miríade de formas de vida”, disse, citada pelo mesmo comunicado, Ellen Futter, a presidente do museu que se reforma após a inauguração depois de uma liderança de 30 anos. A ampliação, que quer promover a "curiosidade" e o "encantamento", inclui um Insectário e um Borboletário.

A nova ala prepara-se para repetir o sucesso do que foi em 2000 a abertura do Rose Center for Earth and Space no AMNH, que substituiu o velho planetário Hayden e também contou com o entusiasmo dos críticos do New York Times.

​O museu, que removeu no ano passado da sua entrada uma estátua de Theodore Roosevelt a cavalo, flanqueado por um índio e um negro a pé, tem sido acusado de estar muito atrasado na discussão do seu passado colonial, incluindo dos seus dioramas com visões a-históricas de várias comunidades.

Apesar das suas renovações milionárias, o AMNH é uma instituição centenária que nasceu no século XIX fruto de uma museologia enciclopédica feita a partir de uma visão etnocêntrica e imperialista, mas na sua história não deixou de ser também um dos centros difusores da antropologia moderna baseada na universalidade da raça humana e na insignificância dos traços raciais.

O campus do AMNH, aqui visto de cima, inclui mais de 25 edifícios numa história com 150 anos
O campus do AMNH, aqui visto de cima, inclui mais de 25 edifícios numa história com 150 anos Iwan Baan
Os corredores à volta do átrio
Os corredores à volta do átrio Iwan Baan
Iwan Baan
Outra vista das escadas do átrio
Outra vista das escadas do átrio Iwan Baan
Iwan Baan
No segundo andar está o centro da colecção  Louis V. Gerstner, Jr.
No segundo andar está o centro da colecção Louis V. Gerstner, Jr. Iwan Baan
Experiência imersiva dos Mundos Invisíveis
Experiência imersiva dos Mundos Invisíveis Iwan Baan
Experiência imersiva dos Mundos Invisíveis
Experiência imersiva dos Mundos Invisíveis Iwan Baan
Janela da Biblioteca e Centro David S. and Ruth L. Gottesman
Janela da Biblioteca e Centro David S. and Ruth L. Gottesman Iwan Baan
Biblioteca e Centro David S. and Ruth L. Gottesman
Biblioteca e Centro David S. and Ruth L. Gottesman Alvaro Keding
Aspecto da área de circulação
Aspecto da área de circulação Iwan Baan
O edifício é revestido a granito rosa, a mesma pedra da entrada ocidental no Central Park
O edifício é revestido a granito rosa, a mesma pedra da entrada ocidental no Central Park Iwan Baan