A Herdade do Rocim é um dos casos de sucesso viticultura nacional, assente na competência, na irreverência, no carácter cosmopolita e - acima de tudo - na vontade de arriscar. Nascida no ano 2000, tem 23 funcionários, produz 1,2 milhões de garrafas por ano (em diferentes regiões), exporta para 45 países e factura 6 milhões de euros. Quem visitar a empresa na Vidigueira e conversar com as equipas que gerem o projecto pensará que está num laboratório de ideias e não numa adega clássica. Há sempre qualquer coisa em teste, há sempre alguém – técnico ou comercial – com uma ideia que imaginou sabe-se lá onde.
Peguemos no caso do vinho de talha. A ressurreição deste famoso vinho começou nas pequenas adegas espalhadas entre a Vidigueira, Cuba e Alvito, com o famoso professor Arlindo Ruivo a funcionar como regente da banda, mas foi o festival Amphora Wine Day, criado pela Rocim, que deu a dimensão internacional ao vinho de talha, quer pela reunião de pequenos produtores alentejanos, quer pelo convite a inúmeros produtores internacionais que trabalham com talhas de barro de diferentes formatos e feitios.
Mais: ao usar talhas para fazer vinhos em diferentes regiões de Portugal, a equipa do Rocim – o casal Catarina Vieira e Pedro Ribeiro – acabou por mostrar que, com o barro, também se faz vinho de categoria e destinado aos internacionais exigentes.
E é esta cultura organizacional com vista para o mundo que fez com que, na Rocim, a sustentabilidade nunca tivesse sido um conceito estranho e imposto por uma qualquer entidade administrativa.
“Desde o primeiro dia em que arrancamos com o projecto tivemos sempre preocupações a este nível e que, como é evidente, são sempre evolutivas. O meu pai [José Ribeiro Vieira] costumava dizer que uma empresa só é sustentável se for economicamente viável, mas essa viabilidade só ocorre se soubermos gerir bem os recursos naturais e os recursos humanos. Se algum elo da cadeia se quebrar, falha tudo. E é por isso” – diz-nos Catarina Vieira – “que não podemos dizer que a parte económica é mais importante do que a parte ambiental ou a parte social. Não. Tudo funciona em conjunto”.
Uma empresa até pode ter bons produtos com um ambiente social aceitável, mas eu não acredito que ela sobreviva no tempo. A nós é que não nos passaria pela cabeça tal cenário. Queremos que quem trabalhe connosco se sinta feliz aqui, exactamente como nós, que somos os donos da empresa”.
A Herdade do Rocim está – com mais 12 empresas alentejanas –, inserida no Programa de Sustentabilidade dos Vinhos do Alentejo (PSVA), condição que lhe permite, em consequência e se for esse o entendimento dos seus responsáveis, ter acesso quase directo ao Referencial Nacional de Certificação de Sustentabilidade do Sector Vitivinícola, criado em parceria pelo Instituto da Vinha e do Vinho e pela ViniPortugal e gerido agora por esta.
Por outro lado, bem antes de existirem os dois programas, a empresa já tinha criado o seu próprio Manual de Procedimentos, onde são abordadas as questões vastas da sustentabilidade.
Em qualquer dos planos, a componente social é um pilar do conceito de sustentabilidade. E no caso da empresa alentejana isso é mensurável em factores como a comparticipação dos custos dos infantários para os filhos dos funcionários, comparticipação em consultas de especialidade e tratamentos dentários, presença de um médico uma vez por semana na empresa, atribuição de bolsas universitárias e financiamento de cursos de línguas e outras iniciativas de formação em diferentes áreas do conhecimento.
“Lá está, para nós, a felicidade não é apenas uma remuneração digna e o acesso à saúde. É isso, mas também a possibilidade de se poder aprender uma área de interesse; a possibilidade de se aumentar o conhecimento numa área que pode nem ter interesse directo à vida da empresa, mas que é importante para a sua felicidade de cada trabalhador”, refere Catarina Vieira.
Mesmo as questões mais técnicas da gestão da empresa, a administração faz questão de as partilhar com os trabalhadores. “Por exemplo, toda gente sabe, semanalmente, quais foram os consumos de água, de energia ou de produção de energia solar. E todos se sentem empenhados em dar sugestões para a melhor gestão destas áreas. E isso não é um detalhe, nem é apenas métrica, porque, quando sentimos a questão da sustentabilidade estamos permanentemente a desafiarmo-nos para por forma a subirmos nas classificações no PSVA. É por isso que eu digo que a sustentabilidade não é um regulamento – é uma forma de estar. Um desafio interessante e que não terá fim”, remata Catarina Vieira.