“Alto risco biológico” no Sudão após ocupação de laboratório com agentes patogénicos

Edifício que guarda amostras de sarampo, cólera e poliomielite foi tomado por combatentes de um dos lados do conflito, quando prosseguem as operações de retirada de cidadãos estrangeiros.

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Soldados britânicos embarcam num avião militar destinado a retirar cidadãos do Reino Unido do Sudão Reuters/POOL
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Numa altura em que dezenas de países prosseguem com as operações de retirada dos seus cidadãos do Sudão, a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou para uma situação de “alto risco biológico” depois de o laboratório nacional de saúde pública, situado na capital, Cartum, ter sido ocupado por combatentes de uma das partes do conflito.

Segundo o representante da OMS no Sudão, Nima Saeed Abid, a situação no laboratório é “extremamente perigosa” porque ali estão guardadas amostras dos agentes patogénicos do sarampo, cólera e poliomielite, utilizadas para o fabrico de vacinas. Falando a partir de Genebra, Abid não disse qual dos lados — se o Exército se os rebeldes das Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) — terá capturado o edifício, onde está também um grande banco de sangue.

Os confrontos paralisaram hospitais e outros serviços essenciais e deixaram muitos sudaneses sem poder sair de casa, com reservas de comida e água cada vez menores. A OMS relatou 14 ataques a estabelecimentos de saúde desde o início dos confrontos e está a transferir as suas equipas que trabalham no terreno para um local seguro.

Abid disse que foi transferido de Cartum para Porto Sudão na segunda-feira, integrado numa coluna que atravessou o deserto numa viagem de 30 horas.

Vários países continuaram esta terça-feira as operações de retirada de pessoal diplomático e dos seus cidadãos do país africano, aproveitando um cessar-fogo de três dias que, no entanto, terá sido quebrado, com o Exército e as RSF a acusarem-se mutuamente pelo incumprimento da trégua.

O Reino Unido foi o último país a lançar, esta terça-feira, uma operação de retirada em larga escala dos seus cidadãos do Sudão, seguindo o exemplo de várias nações. O porta-voz do primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, disse que por volta das 15h GMT (16h em Portugal continental) partiu um voo militar britânico de Cartum, com mais dois esperados durante a noite. Londres estima que haja cerca de 4000 cidadãos britânicos no país.

A Ucrânia anunciou, por sua vez, a retirada de 138 pessoas, incluindo 87 ucranianos, do Sudão para o Egipto, enquanto o ministro paquistanês dos Negócios Estrangeiros disse ter retirado 700 cidadãos de Cartum, com a saída de uma coluna de veículos transportando 211 paquistaneses, a juntar aos que já tinham sido retirados na segunda-feira.

Já a Índia retirou esta terça-feira de 278 cidadãos, a bordo de um navio da Marinha que os levará à cidade saudita de Jeddah. Na semana passada, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, disse que residiam mais de 3000 indianos no Sudão.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, anunciou que até ao final do dia de segunda-feira tinham saído mais 1200 cidadãos da UE dos cerca de 1500 que viviam no país. Vinte portugueses que residiam no Sudão deixaram o país no domingo por três rotas diferentes.

A França retirou 538 pessoas e uma fragata francesa atracou esta terça-feira em Porto Sudão para transferir para a Arábia Saudita cerca de 500 funcionários das Nações Unidas.

A Alemanha conseguiu retirar 400 pessoas de nacionalidade alemã, austríaca, belga ou jordana, a Itália cerca de 200 pessoas, a Suécia retirou os seus diplomatas e cidadãos, bem como dez finlandeses, incluindo crianças, refere a AFP. Espanha retirou cerca de 30 pessoas de várias nacionalidades e 25 austríacos, nove romenos, cinco húngaros e 21 búlgaros deixaram o Sudão com a ajuda de outros países.

Os confrontos no Sudão começaram a 15 de Abril entre as Forças Armadas, comandadas pelo Presidente, o general Abdel Fattah al-Burhan, e as RSF, chefiadas pelo general Mohamed Hamdane Daglo, conhecido como Hemedti, devido a divergências sobre a integração das RSF no exército, parte do processo político para a democracia no Sudão após o golpe de Estado de 2021. Os dois militares eram aliados desde o derrube do ditador Omar al-Bashir, em 2019, que estava no poder há três décadas.

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