Lula demite ministro responsável pela segurança após divulgação de vídeo da invasão em Brasília

As imagens divulgadas por um canal televisivo mostram o general Gonçalves Dias e elementos da segurança presidencial a dar apoio aos invasores do Palácio do Planalto, a 8 de Janeiro.

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Lula tinha pedido para ver as imagens de videovigilância do dia 8 de Janeiro EPA/Andre Borges

O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Marcos Gonçalves Dias, apresentou a demissão na quarta-feira à noite na sequência da divulgação de um vídeo inédito que mostrava o interior do Palácio do Planalto durante a invasão de 8 de Janeiro. Nas imagens, Dias e outros membros dos serviços de segurança interna da presidência aparecem ao lado dos manifestantes violentos, assumindo uma conduta passiva e, em alguns momentos, até a prestar-lhes assistência.

A divulgação das imagens captadas por câmaras de videovigilância pela CNN Brasil aprofunda ainda mais o clima de desconfiança vivido no seio do executivo e pôs em causa a convivência entre o Presidente, Lula da Silva, e a própria equipa de segurança. A invasão e os actos de vandalismo perpetrados por centenas de apoiantes do ex-Presidente Jair Bolsonaro, uma semana após a tomada de posse de Lula, têm sido encaradas pelas autoridades como um acto terrorista.

Perante a aproximação de uma multidão de pessoas, ao início da tarde de 8 de Janeiro, os membros do GSI parecem adoptar uma postura passiva, deixando os criminosos circular por vários andares da sede da presidência, enquanto vão destruindo móveis, janelas e até objectos de valor histórico e artístico. Num dos vídeos é possível ver elementos da segurança a dar água a alguns dos invasores e são raros os momentos em que existe uma intervenção para os conter.

Em entrevista, Dias justificou a sua acção dizendo que o seu objectivo era proteger os escritórios mais importantes do Palácio do Planalto e que tentou reunir os invasores num dos andares para que fossem presos. O general disse ser “absurdo” associar a sua conduta à de outros elementos do GSI que foram vistos a ajudar ou apoiar os militantes bolsonaristas.

Segundo a imprensa brasileira, Lula não teve acesso às imagens, que estão na posse da Polícia Federal, e foi surpreendido pela sua divulgação na televisão. Dias terá recusado repetidamente os pedidos de Lula e de outros ministros para consultar as gravações, embora tenha negado essa informação.

Dias e Lula tinham uma relação próxima e o general já tinha sido o chefe da sua equipa de segurança durante os dois primeiros mandatos presidenciais, entre 2003 e 2011.

Os ataques de 8 de Janeiro, que, para além do Planalto, visaram os edifícios do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), exacerbaram o clima de desconfiança entre Lula e as forças de segurança e os militares, considerados muito próximos de Bolsonaro e investidos na desestabilização do novo Governo. Poucas semanas depois da insurreição, Lula demitiu o chefe do Exército pela insistência em promover um oficial muito próximo do seu antecessor.

A divulgação das imagens da invasão vem aumentar significativamente a possibilidade de vir a ser aberta uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso para apurar os acontecimentos de 8 de Janeiro. As bancadas pró-governamentais estavam a tentar evitar que isso acontecesse por considerarem que uma comissão longa e provavelmente muito mediatizada irá atrasar a agenda legislativa do Governo e manter o bolsonarismo mobilizado.

As investigações policiais que se seguiram às invasões de Brasília têm estado concentradas em procurar e identificar não apenas os participantes, mas também os organizadores e financiadores do motim. Bolsonaro está a ser investigado por instigação aos ataques e vai ser chamado a depor no âmbito do caso.

Seis juízes do STF já se pronunciaram, entretanto, a favor de levar a julgamento os primeiros cem suspeitos de terem participado na invasão – ao todo, 1390 pessoas foram denunciadas. Há ainda quatro juízes que não se manifestaram, mas a maioria no colectivo já garante que este grupo irá responder por vários crimes, incluindo golpe de Estado, associação criminosa e destruição de património.

O grupo está dividido entre pessoas que participaram nas acções de invasão e destruição dos edifícios públicos e aqueles que durante vários meses estiveram acampados em frente ao quartel-general do Exército em Brasília, onde, acredita a acusação, foram planeados e promovidos os actos violentos.

Na próxima semana, o Supremo começa a decidir se irá a julgamento outra centena de suspeitos.

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